Laura chegou logo cedo, pela manhã. Ouvi o carro a
chegar e fui buscá-la. Abri-lhe a porta com um sorriso. Ela saiu e abraçou-me
de imediato.
– Miguel… – disse, de uma maneira tão sentida,
quase desesperada. Sentia uma afinidade com ela, um carinho, uma empatia tão
grande que me parecia que a conhecia desde sempre.
Ela entregou-se aos meus braços num abraço
profundo, apertado. Eu acolhi-a e mantive-a encostada a mim. Sabia bem este
reencontro, como se fôssemos velhos amigos que há muito não se viam. Depois ela
procurou os meus lábios e perdemo-nos num beijo apaixonado. Perdi-me por
completo nela e dei-me. E senti-a comigo, unida a mim, e num lampejo senti em mim
a sensação de que a amava. Compreendi-a tão bem, naquele simples beijo,
reconheci-a.
Quando finalmente nos afastámos, vi Lilith à porta
a olhar para nós com um sorriso. Agarrei nos sacos que Laura trazia e escoltei‑a
para casa. Laura não resistiu a abraçar-se a Lilith e deixei-as perdidas num
beijo enquanto fui pousar os sacos. Quando voltei estavam ainda abraçadas e as
lágrimas escorriam pelo rosto de Laura, apesar do sorriso.
– Tens a certeza de que tudo vai ficar bem? –
Perguntava-lhe.
– Confia em mim – respondia-lhe Lilith. – Tudo
ficará bem.
Fomos falando. Laura precisava de desabafar.
Tinha-se sentido só e sem vislumbrar uma saída para a sua situação. Falou da
sua vida, do que sentia, do medo que tinha de não conseguir resolver tudo.
Lilith e eu, mas sobretudo Lilith, tentávamos
animá-la. Lilith afirmava-lhe, de uma forma que não deixava margem para dúvidas,
que tudo seria diferente depois de hoje e que ela não teria de se preocupar.
Depois do almoço fomos tomar café à vila e Laura
parecia mais animada. Brincava já, demonstrando a confiança que tinha em nós.
Quando chegámos a casa, já a meio da tarde, Lilith
convidou-a para vir tomar um banho de mar connosco.
– Vocês são loucos – disse ela a rir –, ainda
apanho alguma pneumonia, ou assim…
– Não apanhas nada.
– Mas nem fato de banho trouxe!
– E precisas? – Perguntei eu. – Olha para esta
praia. Está deserta mesmo no Verão, quanto mais em pleno Dezembro. Além disso,
ainda que te vissem, viam algo que nunca ninguém tivesse visto?
– Mas não, é melhor não. A água deve estar gelada…
– Garanto-te que não. Está-se lá melhor que cá
fora.
– Deixa-te de pudores e desculpas – disse Lilith,
começando a despi-la com um olhar extremamente sedutor. – Vens e mais nada.
Laura acabou por se render e deixou que eu e Lilith
a despíssemos vagarosamente, tirando-lhe cada peça de roupa como um escultor
retira a pedra em excesso a um bloco de mármore para revelar a estátua que lá
está dentro. Quando acabámos de a despir, levámo‑la vagarosamente pela praia,
um de cada lado, de mãos dadas. Levámo-la para a água. Ela entrou vagarosamente
connosco, surpreendida pelo facto de a água estar realmente agradável. E por
fim, mergulhou e deixou-se envolver, por nós, pelo oceano, pelo mundo.
Depois de sairmos acabámos por nos deixar ficar na
areia molhada, ainda lambidos pelas ondas. Os problemas do mundo estavam
distantes, a noite ainda demoraria a chegar e, levados pelo que sentíamos,
entregámo-nos uns aos outros. Fizemos amor de forma apaixonada naquela praia,
naquela tarde de Dezembro.
Ao fim da tarde, quando o Sol se começava a pôr, o
que era cedo, nestes dias cada vez mais curtos, voltámos para casa.
Laura estava calma e confiante, aberta, e o mundo
parecia estender-se à sua frente, cheio de esperança. Enchemo-la de amor.
Demos-lhe tudo, derrubámos as barreiras e ela sentia-se cada vez mais ela
própria connosco.
No dia seguinte repetimos o ritual do banho de
mar, já sem reservas da parte dela.
Quando voltámos para casa fui o primeiro a tomar
um duche. Elas seguiram-se e eu sentei-me a escrever. Depois do duche e de se
secarem, foram para a cozinha, onde falavam animadamente. Os problemas de Laura
já pareciam algo de distante e ambas se riam e brincavam. Eu escrevia.
À distância ouvi um carro. Era o Henrique que
chegava.
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