Mas adiante.
Sabes, na semana seguinte não choveu. Ainda assim, nas raras alturas em que
dormi tive sempre o cuidado de ligar o gravador, não fosse chover. Claro que
tinha uma curiosidade extrema pelo que poderia vir novamente. Não acreditava
que o que tinha acontecido fosse um incidente único, obra do acaso. Era
demasiado complexo.
Finalmente a chuva veio e eu repeti todo o processo, usei exactamente os
mesmos métodos, as mesmas chaves, e lá estava uma mensagem no meio.
A remissão deu-se e dar-se-á novamente. Quarto vinte e dois. Passa a
palavra.
Fiquei novamente a olhar para a mensagem. Mais uma vez o sentido
escapava-me por completo. Detesto ficar assim perdido, sem saber o que fazer,
sabes. Confunde-me.
Ainda assim, segui a minha rotina, como sempre o fiz.
Nessa manhã, na mesma paragem de autocarro, a mulher que chorava parou a
olhar para mim, como que para ter a certeza de que era mesmo eu. Senti o
desconforto de ser observado por ela e tentei não ligar. Mas ela, já não
chorosa, antes com uma expressão que irradiava boa disposição, alargou ainda
mais o sorriso.
“Foi o senhor que me disse aquelas palavras, não foi?”.
Limitei-me a assentir com a cabeça, com o meu desconforto a aumentar por me
começar a sentir observado por mais gente.
“Obrigada!” disse ela e com isto agarrou-me nas mãos, que eu tentei
libertar de imediato. Não gosto que me toquem.
“Como é que sabia…?”.
Continuei calado. Sabia o quê? Eu não sabia nada. Apenas entreguei uma
mensagem.
“Obrigada, obrigada, obrigada…” dizia ela enquanto se tentava chegar mais a
mim e as lágrimas lhe começavam a correr pela face, apesar da expressão de
felicidade.
Já eu tentava afastar-me sem ser demasiado óbvio. Mas fosse o que fosse que
se passava com esta mulher, era obvio que a mensagem que lhe tinha dado tinha
tido impacto.
Olhei para ela e percebi. As mensagens não tinham que fazer sentido algum
para mim. Apenas tinha de as passar na altura devida.
Posto isto, olhei para ela e disse “A remissão deu-se e dar-se-á novamente.
Quarto vinte e dois. Passa a palavra.”
A mulher olhou para mim espantada. Assentiu com a cabeça e afastou-se de
imediato, pegando no telemóvel e começou a falar com alguém.
Toda a gente que estava agora na paragem tinha os olhos postos em mim,
cheios de curiosidade. Felizmente o meu transporte chegou e eu segui o meu
caminho…
Sem comentários:
Enviar um comentário
O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!