Acho que no meio da minha indiferença ao que me rodeava a única coisa que conseguia sentir mesmo era prazer. Havia algo em mim que se deleitava ao olhar para os outros e ver a ideia que tinham da minha mascara. Dava-me um gozo enorme este jogo em que por vezes me aproximava demais de revelar algo verdadeiramente meu para depois ver a dúvida nas pessoas.
Mas as pessoas que lidavam comigo acabavam sempre por descartar a hipótese de eu ser mais do que aparentava. Afinal, num mundo de aparências, conta o que se parece ser e não o que se é.
Viam-me como um inadaptado pelo simples facto de eu não procurar estabelecer relações próximas. Toda a gente procurava alguém, menos eu. Aos vinte e cinco tive a minha primeira experiência sexual. Não me agradou nem compreendi o porquê de tanta fleuma à volta do assunto. A televisão, a publicidade, a moda, todos respiravam sexo. Era o verdadeiro motor do mundo. Era tão importante que a própria abstinência era vista como um sacrifício, sendo por isso imposta em algumas religiões. E o fundo era algo de tão primário, animal…
Além de não me agradar o acto em si, a proximidade do contacto físico com alguém causou-me repulsa. É algo de aberrante.
Foi essa a única parte que não consegui mascarar na realidade, tal foi a repulsa que senti. Nunca mais procurei chegar-me a alguém nem permiti que alguém chegasse perto de mim. Isso, sem dúvida, contribuiu para me rotularem como um inadaptado.
Mas fora isso levava uma vida normal.A
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