Tu desculpa eu não te estar a dar pormenores, como os nomes das pessoas,
mas realmente não os registei, sabes. Não me importavam. Nem sequer queria
saber.
Ao fim ao cabo fui lá, cumpri o que tinha a cumprir e pronto.
Quando chegamos o rapaz foi levado rapidamente para uma ambulância enquanto
os pais se desfaziam em agradecimentos. Eu queria manter-me à parte. Como tal
mantive-me o mais apático possível.
O médico dizia que apenas me tinha acompanhado e que os louros da
descoberta eram todos meus. Mas as pessoas olhavam para mim, calado e ausente,
e não sabiam o que me haviam de dizer.
Quando os pais finalmente partiram na ambulância junto com o rapaz o
coordenador de buscas abeirou-se de nós.
“Onde é que o descobriram?” perguntou-nos. O médico olhou para mim e
percebeu que eu continuaria calado. Falou por nós.
“A oeste do sitio onde a bicicleta foi descoberta.”
“A oeste?” respondeu o outro olhando para mim.
“Sim. Deve ter tropeçado e caiu num pequeno socalco. Partiu a perna e não
conseguiu de lá sair.”
“Mas porque é que foram procurar nessa direcção? Não há absolutamente nada
por ai…”
O médico não quis adiantar nada e encolheu os ombros. O outro percebeu que
a conversa tinha acabado ali, encolheu os ombros também. “Não interessa, …”
acabou por dizer “… o que interessa é que já apareceu e está bem!”
E foi com uma expressão aliviada que começou a dar ordens para arrumar
tudo.
Entretanto fomos rodeados por uma muralha de jornalistas a querer saber
pormenores. Mais uma vez foi o médico quem falou, dando-me todo o crédito.
Logicamente que os jornalistas se chegaram a mim e me começaram a bombardear
com perguntas.
Detesto-os.
Sim, os jornalistas, detesto-os. Parecem abutres a pairar por cima das
carcaças dos outros, a querer alimentar-se com os restos do que os outros
fizeram. As suas conquistas são as conquistas e frustrações de outros. E querem
saber mesmo de tudo.
Mas foi então que veio a pergunta:
-Mas porquê procurá-lo ali?
E eu, estranhamente, dei comigo a responder:
-Porque me foi revelado.
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