terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Lilith - XXIII - Despertar

Um abraço sentido, próximo, dado, recebido. Por fim separámo‑nos e ficámos simplesmente a olhar uns para os outros com uma tranquilidade absoluta. Aos poucos o mundo voltou a nós e o nosso triângulo foi-se quebrando com coisas triviais, como ir pôr a loiça a lavar e arrumar a mesa.

– Vamos tomar café? – Acabei por sugerir.

Sugestão aceite e fomos até à vila. Trio estranho que devíamos parecer. Eu vestido para o frio, mas de forma casual, Laura vestida com um vestido comprido e um pesado casaco e Lilith levemente vestida, como sempre.

Curiosa, no mínimo, foi a reacção quando entrámos no café. Elas entraram as duas à minha frente, lado a lado, e naquele lugar viveu-se um instante de silêncio. Tudo parou, literalmente. Elas seguiram à minha frente para uma mesa livre e ouviam-se os nossos passos no chão.

Mas o momento passou e o bulício normal voltou e nós pudemos estar, falar, rir, brincar. Mas estar mesmo, sem favores ou imposições.

Eram onze da noite quando voltámos a casa.

– Querem vir dar uma volta pela praia? – Perguntou Lilith.

– Eu ainda estou um bocado para o cansadito… – respondi eu.

– ‘Tadito… – respondeu-me Lilith. – Vens, Laura?

– Vou, claro – respondeu Laura. – Mas ficas sozinho? – Perguntou‑me.

– Fico, não se preocupem. Vai – disse-lhe com um sorriso.

Saíram as duas, animadas, pela escada do meu terraço. Aproveitei aqueles momentos para passar algumas coisas para o papel, para me organizar.

Ao fim de algum tempo vim ao terraço fumar um cigarro. E deparei-me com a visão. A noite de Lua Cheia e apenas um ou outro farrapo de nuvem. Vi, a distância, Lilith a deliciar-se nas ondas do mar e não muito longe, a observá-la, Laura.

Acompanhei-as com o olhar enquanto voltavam. Entraram no terraço e fui presenteado com um beijo simultâneo das duas, um em cada bochecha. E depois entraram as duas para a casa de banho. Tomaram os seus duches, secaram os cabelos, sempre num tagarelar animado e divertido.

Depois de elas saírem fui eu. Quando saí, já com o pijama e robe vestido, descobri que a minha cama tinha sido sequestrada. Olho pela porta e vejo as duas abraçadas, beijando-se. Sorri, virei as costas e fui-me deitar no sofá.

Depois de apagar a luz a casa ficou iluminada apenas pelo luar intenso que apenas deixava distinguir a sombras. Deitado no sofá, absorvido pelo silêncio, chegavam a mim ruídos ocasionais da actividade no quarto ao lado. Queria abstrair-me, mas os ruídos subiam de intensidade, frequência. Levantei-me e fui para o terraço fumar outro cigarro. Ouvia os ruídos que por esta altura começavam a encher a casa em perfeita sincronia com as ondas do mar. E por momentos, breves e fugidios, o universo pareceu entrar em sintonia à medida que um grito de prazer intenso chegava aos meus ouvidos. E senti aquele prazer como meu.

Estava ainda a saborear o que tinha sentido quando Lilith chegou nua ao meu lado, linda, esbelta, elegante, desejável e desejada. Abraçou-me, beijou-me languidamente, longamente, deu-me a saborear o gosto de Laura, prendeu-me, invadiu-me, deleitou-me.

– Fica comigo, Miguel… – disse-me novamente ao ouvido, criando um oceano descontrolado de emoções em mim, mais vasto que aquele ali ao lado.

Livrei-me de tudo e que me prendia e ofereci-me, o mais completamente possível. Ela quebrou o beijo, agarrando-me com suavidade na mão e guiando-me de volta para dentro de casa. Le-vou‑me para o quarto.

Sem uma palavra, desfez-me da roupa, deixando-me em bruto, como vim ao mundo, pleno animal. Laura aproximou-se e to-cou‑me. Vi os seus olhos brilhar, reflectindo o luar. Depois fizeram-me ajoelhar no centro da cama. Um corpo colado às minhas costas, num abraço, lábios que se colaram aos meus, a língua que deslizava na minha, fechei os olhos, sentindo dentes que se cravavam levemente nas minhas costas, a boca que me mordia o peito e sugava ao de leve os meus mamilos, mãos que se entrelaçavam uma na outra enquanto me exploravam. Senti beijos no pescoço, mordidelas na nuca, cabelos que quase me faziam cócegas na barriga enquanto a sua dona prosseguia, descendo, beijando-me ao longo do corpo. Sem aviso, uns lábios que deslizaram devagar no meu sexo, o calor de uma boca que se fez penetrar, que me fez deslizar nela.

Senti os lábios que vinham das minhas costas e procuravam os meus e me fizeram virar ligeiramente, enquanto afagava os cabelos que quase me tinham feito cócegas. Deitaram-me na cama. Senti novamente os lábios no meu sexo, numa sensação diferente. Um corpo deitado ao lado do meu, ao longo do meu. Lábios a que me dou nos meus. Um corpo ao meu lado levantou-se, sentou-se em cima de mim e senti o calor húmido do seu sexo na minha barriga, enquanto voltava a sentir os seus lábios nos meus.

Deixei de sentir os outros lábios no meu sexo, à medida que o corpo em cima de mim deslizava. Senti o seu sexo a fazer-se penetrar pelo meu. Um gemido leve de prazer saiu dos seus lábios. Outro corpo colado ao meu, ao lado do meu. Um peito que se ofereceu aos meus lábios, sorvi-o e deliciei-me nele, no seu sabor, o sabor da pele, enquanto o meu sexo se perdeu naquele outro.

Senti o outro corpo elevar-se, posicionar-se por cima de mim. O sexo que se ofereceu ao meu paladar e que eu provei deleitado. Experimentava cada pequena sensação do que se passava no meu corpo e, no entanto, perdera a noção de que ele existia.

Na beleza do momento, esqueci-me de mim, e em mim estavam também as sensações dos outros dois corpos. Abandonámo-nos, embalados ritmicamente. Demo-nos. Os corpos foram um pálido reflexo do que sentimos. E assim, embalados e abandonados, chegámos ao êxtase que se tornou eterno nos breves momentos que durou e nos faz ansiar por nova dádiva. A exaustão dos corpos levou, por fim, à saciedade dos espíritos e descansámos nos braços uns dos outros.

Acordei com os primeiros raios de sol da manhã ladeado por elas. Fiquei a vê-las, serenas, enquanto dormiam. Senti-me a pulsar.

Era óbvio o carinho entre nós durante o pequeno-almoço, acompanhado de alguma tristeza. Laura tinha de partir, mas prometemos encontrar-nos no fim-de-semana. Já depois de comer, despedimo-nos ao pé do carro dela. Eu e Lilith ficámos a vê-la partir. Quando o carro saiu da nossa vista, Lilith olhou-me.

– Estás vivo? – Perguntou-me. – Despertaste?

– Sim!



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