Um abraço sentido, próximo, dado, recebido. Por fim separámo‑nos e ficámos simplesmente a olhar uns para os outros com uma tranquilidade absoluta. Aos poucos o mundo voltou a nós e o nosso triângulo foi-se quebrando com coisas triviais, como ir pôr a loiça a lavar e arrumar a mesa.
– Vamos tomar café? – Acabei por sugerir.
Sugestão aceite e fomos até à vila. Trio estranho
que devíamos parecer. Eu vestido para o frio, mas de forma casual, Laura vestida
com um vestido comprido e um pesado casaco e Lilith levemente vestida, como
sempre.
Curiosa, no mínimo, foi a reacção quando entrámos
no café. Elas entraram as duas à minha frente, lado a lado, e naquele lugar
viveu-se um instante de silêncio. Tudo parou, literalmente. Elas seguiram à
minha frente para uma mesa livre e ouviam-se os nossos passos no chão.
Mas o momento passou e o bulício normal voltou e
nós pudemos estar, falar, rir, brincar. Mas estar mesmo, sem favores ou imposições.
Eram onze da noite quando voltámos a casa.
– Querem vir dar uma volta pela praia? – Perguntou
Lilith.
– Eu ainda estou um bocado para o cansadito… –
respondi eu.
– ‘Tadito… – respondeu-me Lilith. – Vens, Laura?
– Vou, claro – respondeu Laura. – Mas ficas
sozinho? – Perguntou‑me.
– Fico, não se preocupem. Vai – disse-lhe com um
sorriso.
Saíram as duas, animadas, pela escada do meu
terraço. Aproveitei aqueles momentos para passar algumas coisas para o papel,
para me organizar.
Ao fim de algum tempo vim ao terraço fumar um
cigarro. E deparei-me com a visão. A noite de Lua Cheia e apenas um ou outro
farrapo de nuvem. Vi, a distância, Lilith a deliciar-se nas ondas do mar e não
muito longe, a observá-la, Laura.
Acompanhei-as com o olhar enquanto voltavam.
Entraram no terraço e fui presenteado com um beijo simultâneo das duas, um em
cada bochecha. E depois entraram as duas para a casa de banho. Tomaram os seus
duches, secaram os cabelos, sempre num tagarelar animado e divertido.
Depois de elas saírem fui eu. Quando saí, já com o
pijama e robe vestido, descobri que a minha cama tinha sido sequestrada. Olho
pela porta e vejo as duas abraçadas, beijando-se. Sorri, virei as costas e
fui-me deitar no sofá.
Depois de apagar a luz a casa ficou iluminada apenas
pelo luar intenso que apenas deixava distinguir a sombras. Deitado no sofá,
absorvido pelo silêncio, chegavam a mim ruídos ocasionais da actividade no
quarto ao lado. Queria abstrair-me, mas os ruídos subiam de intensidade,
frequência. Levantei-me e fui para o terraço fumar outro cigarro. Ouvia os
ruídos que por esta altura começavam a encher a casa em perfeita sincronia com
as ondas do mar. E por momentos, breves e fugidios, o universo pareceu entrar
em sintonia à medida que um grito de prazer intenso chegava aos meus ouvidos. E
senti aquele prazer como meu.
Estava ainda a saborear o que tinha sentido quando
Lilith chegou nua ao meu lado, linda, esbelta, elegante, desejável e desejada.
Abraçou-me, beijou-me languidamente, longamente, deu-me a saborear o gosto de
Laura, prendeu-me, invadiu-me, deleitou-me.
– Fica comigo, Miguel… – disse-me novamente ao
ouvido, criando um oceano descontrolado de emoções em mim, mais vasto que
aquele ali ao lado.
Livrei-me de tudo e que me prendia e ofereci-me, o
mais completamente possível. Ela quebrou o beijo, agarrando-me com suavidade na
mão e guiando-me de volta para dentro de casa. Le-vou‑me para o quarto.
Sem uma palavra, desfez-me da roupa, deixando-me
em bruto, como vim ao mundo, pleno animal. Laura aproximou-se e to-cou‑me. Vi
os seus olhos brilhar, reflectindo o luar. Depois fizeram-me ajoelhar no centro
da cama. Um corpo colado às minhas costas, num abraço, lábios que se colaram
aos meus, a língua que deslizava na minha, fechei os olhos, sentindo dentes que
se cravavam levemente nas minhas costas, a boca que me mordia o peito e sugava
ao de leve os meus mamilos, mãos que se entrelaçavam uma na outra enquanto me
exploravam. Senti beijos no pescoço, mordidelas na nuca, cabelos que quase me
faziam cócegas na barriga enquanto a sua dona prosseguia, descendo, beijando-me
ao longo do corpo. Sem aviso, uns lábios que deslizaram devagar no meu sexo, o
calor de uma boca que se fez penetrar, que me fez deslizar nela.
Senti os lábios que vinham das minhas costas e
procuravam os meus e me fizeram virar ligeiramente, enquanto afagava os cabelos
que quase me tinham feito cócegas. Deitaram-me na cama. Senti novamente os
lábios no meu sexo, numa sensação diferente. Um corpo deitado ao lado do meu,
ao longo do meu. Lábios a que me dou nos meus. Um corpo ao meu lado levantou-se,
sentou-se em cima de mim e senti o calor húmido do seu sexo na minha barriga,
enquanto voltava a sentir os seus lábios nos meus.
Deixei de sentir os outros lábios no meu sexo, à
medida que o corpo em cima de mim deslizava. Senti o seu sexo a fazer-se
penetrar pelo meu. Um gemido leve de prazer saiu dos seus lábios. Outro corpo
colado ao meu, ao lado do meu. Um peito que se ofereceu aos meus lábios,
sorvi-o e deliciei-me nele, no seu sabor, o sabor da pele, enquanto o meu sexo
se perdeu naquele outro.
Senti o outro corpo elevar-se, posicionar-se por
cima de mim. O sexo que se ofereceu ao meu paladar e que eu provei deleitado.
Experimentava cada pequena sensação do que se passava no meu corpo e, no
entanto, perdera a noção de que ele existia.
Na beleza do momento, esqueci-me de mim, e em mim
estavam também as sensações dos outros dois corpos. Abandonámo-nos, embalados
ritmicamente. Demo-nos. Os corpos foram um pálido reflexo do que sentimos. E
assim, embalados e abandonados, chegámos ao êxtase que se tornou eterno nos
breves momentos que durou e nos faz ansiar por nova dádiva. A exaustão dos corpos
levou, por fim, à saciedade dos espíritos e descansámos nos braços uns dos
outros.
Acordei com os primeiros raios de sol da manhã
ladeado por elas. Fiquei a vê-las, serenas, enquanto dormiam. Senti-me a
pulsar.
Era óbvio o carinho entre nós durante o
pequeno-almoço, acompanhado de alguma tristeza. Laura tinha de partir, mas
prometemos encontrar-nos no fim-de-semana. Já depois de comer, despedimo-nos ao
pé do carro dela. Eu e Lilith ficámos a vê-la partir. Quando o carro saiu da
nossa vista, Lilith olhou-me.
– Estás vivo? – Perguntou-me. – Despertaste?
– Sim!
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