–Fecha os olhos. – Disse ele quando ela saiu da porta do
prédio.
- Porquê?
- Porque sim! Fecha os olhos.
Ela respirou fundo, encolheu
os ombros e fechou os olhos. Sentiu-o a passar para trás de si, e em seguida
algo que era colocado sobre os seus olhos.
- Mas que estas tu a fazer?
- Bem, aparentemente, a
vendar-te.
- Mas porquê?
- Porque sim. Queres confiar em
mim? Ela resignou-se.
No dia a seguir àquela
conversa que acabou abruptamente sem ela entender bem porquê, ele limitou-se a
anunciar-lhe que daí a dois dias, ao fim da tarde do seu dia de folga a iria
buscar ao apartamento em Lisboa e que não se preocupasse com o carro que alguém
o iria buscar. Ah, e para ela se produzir “a matar”, na expressão que ele
utilizou. Depois quase não o voltara a ver, até agora.
Ele guiou-a cuidadosamente até
ao carro, ajudou-a a entrar e entrou em seguida, arrancando.
- Mas para onde é que vamos? –
Perguntou ela, sentindo-se um pouco insegura.
- É surpresa.
Ela calou-se e foi apreciando
a música. Foram indo, sem grandes conversas. Deu pelo facto de saírem de Lisboa
e passarem na ponte sobre o Tejo. O ruído característico dos carros a rodar nas
faixas centrais é inconfundível. Mas depois da ponte, o carro acelerou e
seguiram auto-estrada fora.
Ao fim de um bom bocado ela
não se conteve.
- Mas ainda falta muito?
- Um bocado. – Respondeu ele –
Mas porquê? Estás com pressa? Não estás confortável?
- Não… é que ir aqui, vendada,
sem saber para onde vou…
- E o que é que interessa saber
para onde vais? Estás comigo. Confia. Uma coisa te prometo: A viagem só começa
quando chegarmos ao destino.
- Que é que queres dizer com
isso?
- Exactamente o que disse.
- O Sr. Enigmático
contra-ataca.
- É, estou misterioso. É para
ver se fico com um pouco mais de charme que o costume…
- Isso implicaria já teres,
normalmente, charme.
- Pois, tens razão. Má escolha
de palavras… – disse ele soltando uma gargalhada.
- Mas gostava de saber para
onde vou. Pedes-me para vir assim, toda produzida, vens de fato, e depois
levas-me assim, vendada…
- Já te disse, é surpresa.
- Mas não podes ao menos
revelar um pouco?
- Está bem. Vamos para um sítio
solene.
- Um sítio solene?
- Sim!
- Que sítio?
- Isso agora… Quando lá
chegares vês. Ela estava a ficar visivelmente aborrecida.
- Então, quando lá chegarmos,
avisa.
Calou-se e encostou-se para
trás no banco. Ele riu com o amuo dela e lançou o carro ainda mais depressa na
auto-estrada em direcção a sul.
Voltou a dar conta de si
quando um solavanco na estrada fez o carro abanar. Pela irregularidade que
sentia, já não estavam na auto-estrada. Tinha perdido por completo a noção do
tempo. Provavelmente tinha adormecido sem sequer dar por isso.
- Fizeste uma soneca jeitosa? –
Perguntou ele. Ela espreguiçou-se, bocejou, e perguntou:
- Estamos a andar há muito
tempo?
- Há algum…
- E ainda falta muito para
chegar aonde quer que vamos?
- Não. É perto.
- Ainda bem…
O carro parou. Sentiu-o a
sair, deixando o carro ligado. Depois voltou a entrar, o carro avançou alguns
metros, parou novamente, voltou a sair, voltou a entrar e seguiram devagar por
uma estrada acidentada.
- Seja lá onde for que isto é,
é longe…
- É. Mas já cá estamos.
Andaram mais uns cinco minutos
até o carro parar definitivamente. Ele saiu e ela sentiu a porta ser aberta
logo depois. Ele pegou-lhe pela mão e ajudou-a a sair. O silêncio era tal que
se conseguia ouvir a brisa. Ouvia-se também o restolhar de folhas em árvores
próximas. O ar estava fresco, com uma humidade que se sentia, mas que era
agradável. Ele guiou-a, segurando-a pelo braço, andando ambos devagar e ela
sentia e ouvia as folhas secas a serem esmagadas pelos sapatos de ambos. Depois
começaram a andar em cima de pedra, direita mas não muito regular. Por fim,
ouviu-o a abrir uma porta pesada, ouviu as dobradiças a protestar, rangendo, e
ele guiou-a novamente passando a porta.
Havia um cheiro muito familiar
no ar, como se fosse incenso, mas diferente, mais espesso, igualmente adocicado
e que ela reconheceu de imediato, mas não disse nada. Avançou guiada por ele e
ouviu o ressoar dos passos num espaço amplo.
“Mas onde raio estamos?”
Perguntou-se ela. Ele parou-a.
- Estamos cá. – Disse – Estás
preparada? Ela assentiu com a cabeça.
Ele pôs-se por detrás dela,
desapertou a venda e tirou-lha. Ela olhou.
À sua frente, iluminada apenas
por velas, estava a nave de uma igreja antiga com um altar completamente
trabalhado em talha dourada que reflectia a luz bruxuleante das velas e enchia
o lugar de reflexos dourados. Os painéis de azulejos que rodeavam toda a igreja
até ao altar, finamente desenhados com motivos da vida e paixão de Cristo
elevavam-se até aos pedestais que deviam ter servido de repouso a estátuas de
santos, agora inexistentes. O tecto, abobadado, estava decorado com frescos que
haviam perdido o fulgor original, tendo em alguns sítios caído o estuque, e
noutros havia manchas de humidade que atestavam a antiguidade do sítio. Os
bancos corridos, de madeira, estavam decorados com rosas encarnadas, bem como o
tapete da mesma cor que corria ao longo da nave até ao altar. O altar era uma
enorme mesa dourada, da qual ela apenas conseguia ver os pés, uma vez que
estava coberta com uma toalha de linho de um branco imaculado, também coberta
com pétalas de rosa encarnada. O fumo que ocupava todo o espaço, fazendo o ar
parecer espesso vinha de um incensário que estava por detrás do altar,
pendurado num suporte.
O fumo, do cânhamo que
queimava livremente, inebriava-lhe os sentidos, distorcia o espaço e o tempo
cada vez mais, e ela ficou simplesmente parada a contemplar tudo o que tinha à
sua frente.
- Gostas da tua surpresa? –
Perguntou ele, observando a sua reacção.
- Onde é que estamos afinal?
- Numa igreja.
- Bem isso eu já vi, mas como…?
- É uma igreja privada. Estamos
no meio de uma herdade e esta igreja pertence à herdade, mas já está
desactivada há muito tempo. As estátuas foram oferecidas e vendidas a
coleccionadores, mas sobra este espaço que continua magnífico, pelo menos
enquanto não acabar de se degradar por completo.
- E como é que tu…?
Ele simplesmente sorriu e
olhou-a bem nos olhos.
- Ainda não me respondeste.
Gostas?
Ela deixou-se ficar mais um
pouco, embasbacada a olhar para todo aquele cenário montado para ela. Só depois
respondeu:
- Adoro!
- Ainda bem. – Respondeu ele,
agarrando-lhe a mão e levando-a ao longo do tapete encarnado em direcção ao
altar.
Caminharam devagar ao longo da
nave, com o tapete a abafar o som dos passos que ainda assim reverberavam nas
pedras seculares. Cada vez mais os sentidos de ambos se distendiam no tempo,
culpa daquele fumo espesso que invadia todo o espaço, e cada vez mais as sensações
ficavam vívidas e vibrantes. O mero toque da pele enquanto ele a levava pelo
braço, parecia lançar um formigueiro ao longo do corpo dela. A sensação de frio
quando entrara desvanecia-se, e o seu lugar era ocupado por um conforto do
espírito.
Chegaram junto do altar.
Pararam, viraram-se um para o outro, ficando ambos de olhos nos olhos, fixos,
sem saberem sequer durante quanto tempo. Apenas numa atitude contemplativa e
calma. Depois abraçaram-se finalmente, colaram os corpos, uniram os lábios num beijo
que teve um sabor intemporal, as línguas a tocarem-se devagar, a procurarem-se,
a darem-se…
Com uma calma de quem tinha
todo o tempo do mundo ele começou a abrir o fecho do vestido e ao mesmo tempo
que o fazia, acariciava-lhe as costas enviando sensações pelo corpo dela que se
reflectiam na calma voraz do beijo onde estavam presos. Ele quebrou o beijo,
contra a vontade dela, apenas para a libertar do vestido que caiu até ao chão,
deixando-a apenas com um fio dental e os saltos altos, o que lhe provocou um
agradável arrepio na pele, voltando depois a colar os lábios aos dela e a
perder-se na sensação de abraçar o seu corpo quase nu.
Ao fim de um tempo que pareceu
imenso e ao mesmo tempo um instante fugaz, os lábios separaram-se. Ficaram
abraçados de pé em frente ao altar, cabeças a repousar sobre o ombro um do
outro. Depois separaram-se finalmente. Ela olhou para ele com um ar inquiridor.
Ele sorriu, deu-lhe a mão guiando-a e equilibrando-a para cima de um degrau que
estava em frente ao altar. Depois de ela subir, fez-lhe descer o fio dental ao
longo das pernas e ajudou-a a equilibrar-se, ora numa perna, ora noutra,
enquanto lhe tirava a última e minúscula peça de roupa. Depois, agarrou-a pela
cintura e sentou-a no altar.
Ela deixou-se guiar por ele
enquanto, sem palavras, ele a levava ao centro daquela enorme pedra fria
coberta de linho e pétalas de rosa, fazendo-a deitar-se em seguida.
Depois, sempre com uma calma
que lhe fazia parecer a ela que ele se movia em câmara lenta, ata-lhe os pulsos
e os tornozelos aos pés do altar com tiras de veludo “bordeaux” escuro.
Quando acabou de a atar,
chegou-se perto do rosto dela, deu-lhe um suave beijo nos lábios e saiu por uma
porta lateral ao altar…
Ela perdeu a noção do tempo,
ali quieta num silêncio reverberante, inundada pelo fumo e o cheiro do cânhamo
que queimava no incensário que estava um pouco além e abaixo de si, para que o
fumo que se soltava subisse directamente na sua direcção, passando por si,
inebriando-a, intensificando qualquer sensação, o contacto frio e veludoso das
pétalas e do linho esfriado pela pedra, desorientando-a, a vontade de se querer
mexer e estar constrangida, de movimentos limitados, exposta, em cima de uma
pedra de altar em frente a um massivo altar-mor de talha dourada onde outrora
estivera pendurada uma cruz, com os ouvidos preenchidos por um silêncio amplo,
e de repente o simples ranger de uma porta dá significado a tudo aquilo e ela
volta-se e vê-o voltar com um habito de monge, cingido pela cintura por uns
cordões largos, com uma taça dourada na mão, a representação do graal, da taça
da ultima ceia, e aproxima-se dela com um ar sério, ela sorri e ele faz-lhe uma
festa suave pelo rosto, passa-lhe a mão no cabelo com doçura, com ternura,
põe-lhe a mão na nuca, ampara-lhe a cabeça, aproxima a taça, dá-lhe a beber e
ela fá-lo sem hesitação provando uma textura algo amarga, estranha, que à
medida que lhe desce da garganta provoca um calor que se espalha do centro do
seu corpo para fora, fazendo-a aquecer, deixar de sentir a pedra fria, electrizar,
uma sensação quente e suave que a faz mergulhar num estado de quase sono e ele
retira a taça dos seus lábios e derrama parte do resto do conteúdo no seu peito
que corre ao longo do seu corpo e que ele lambe devagar e dedicadamente, cada
pequena gota do líquido que ela vê finalmente, apercebendo-se da cor
esverdeada, e compreende o sabor do absinto misturado com algo mais que ela não
reconhece e sente o corpo solto, leve, deixa de se sentir constrangida ou
amarrada, simplesmente está, sentindo a espaços o liquido a fluir sobre a sua
pele e o contacto da língua macia a retirar cada gota que escorre de si e
percebe o porquê da fada verde, mergulha num abandono e felicidade infinita,
mas que bem longe ela consegue intuir que terminará, mas não importa, nada
importa a não ser as sensações que sente, que lhe transmite a ele que pousa a
taça e a saboreia pedaço a pedaço, descendo ao longo do seu corpo, ocupando
cada espaço, cada milímetro da sua pele, como se quisesses absorver a sua
essência, o que ele faz quando começa a beijar o interior das suas pernas
subindo até às virilhas e começa pura e simplesmente a envolver o clítoris com
a sua boca, com os seus lábios, sugando-a e provocando como que uma descarga
eléctrica que sobe direita ao seu cérebro, fazendo com que o seu corpo se
contorça num espasmo, uma sobrecarga de sensações e deixa de ouvir, deixa de
ver e sente apenas o continuado cheiro do cânhamo e sente o sabor do absinto
ainda na sua boca e nem sente o corpo, sente apenas um pulsar que sobe da sua vulva
de uma forma tão intensa que quase a faz esquecer de respirar e quando o faz
obriga-a a soltar o ar dos pulmões num grito intenso que clama pelo orgasmo que
ainda não chegou e ela tem um lampejo de se perguntar como será quando chegar e
deseja-o, quer, muito, com todas as suas fibras sentir o prazer supremo e o seu
corpo acede, faz-lhe a vontade e ela vem-se entre espasmos, gritos que
preenchem o espaço e parecem continuar e durar para sempre e os seus sentidos
despertam e sente-se, vê-se, sente-o, vê-o, sente o seu corpo, a sua boca a
envolve-la, os suaves toques da língua no seu recanto mais secreto, ondas de
choque que varrem o seu corpo umas atrás da outras e tudo desaparece por um
instante, a mente apaga-se…
…e ilumina-se de novo,
descendo do êxtase mas mantendo-se no limbo e olha e vê-o subir para cima do
altar, em frente a si, às suas pernas abertas, à sua vulva pulsante de onde
escorre todo o prazer que sentiu e continua a sentir, vê-o ficar de joelhos e
subir o habito mostrando a sua erecção pulsante, estendendo-se sobre ela em
seguida e toca-a, não com as mãos mas com o corpo, afaga-a, fá-la sentir o seu
peso, sente o corpo em brasa, entregue ao prazer de ambos, roça o seu sexo no
dela, comprime-se contra o seu clítoris arrancando-lhe mais gemidos de prazer e
não aguentando mais a tortura que lhe faz, mas que é feita a ambos, começa a
penetrá-la como que numa oferta ritual, deixando-se deslizar milímetro a
milímetro, querendo que ela o sinta sem pressas e sente-a a acolhê-lo enquanto
a vai penetrando, os seus músculos a pulsar em torno do seu membro e sente o
quanto ali, naquele momento, ela o quer, e dá-se para que ela sinta o quanto
ele a quer, vais deslizando até as suas púbis se tocarem, até estar pleno
dentro dela e olha-a, observa-a, deixa-se estar assim dentro dela, ela geme,
contorce-se debaixo dele como uma gata no cio e depois começa a sair devagar, a
sentir a textura dela na sua glande enquanto se puxa para fora, a sentir o seu
sexo a sugá-lo, como que a querer puxá-lo novamente para dentro, sempre com uma
lentidão agoniante para ambos, atrasando o orgasmo dela, atrasando o seu
enquanto as gotas de suor lhe invadem o rosto e começam a pingar como gotas de
chuva refrescante sobro o corpo dela, até ficar apenas com a glande dentro
dela, ondulando as ancas devagar para provocar um ligeiro vaivém que lhe
estimula o ponto G, que a deixa louca de tesão e ele sente-a, mais do que isso,
sabe-a naquele momento e ambos se olham nos olhos, sabem-se um do outro para
além de qualquer dúvida e com isto ele penetra-a fundo, forte, de uma forma
quase brutal, quase animalesca, ela grita, sente-o a invadi-la, quer-se
invadida, tomada por ele, oferece-se, vê o esgar de prazer no seu rosto
enquanto ele sente a corrente eléctrica que lhe percorre o corpo, que ele sabe
que ambos sentem enquanto se entregam a um orgasmo pleno de sensações que
parecem ir além do espaço onde estão e, inebriados, desfalecem os dois em cima
do altar, como uma oferenda, como que detentores de um sacro ofício, livres…
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