O tipo parecia, autenticamente, um
bloco de betão armado. Quase dois metros, um fato demasiado justo e do qual
o casaco, apertado como estava, ficava todo arrepanhado à volta do peito. O
facto de ele parecer não ter pescoço, dando a impressão que os ombros se
fundiam na queixada, acentuava ainda mais a sensação. Tinha um ar que pretendia
ser ameaçador e, aparentemente, funcionava. Não havia ninguém a, sequer,
espreitar por aquele corredor.
O moço que ia à sua frente aproximou-se do “armário” e segredou-lhe qualquer coisa. O tipo mal se mexeu, limitou-se a assentir com a cabeça. O moço fez sinal a César para que o seguisse o que ele fez prontamente.
Pararam frente a uma porta e o moço bateu ao de leve. Ouvindo um Sonoro “Sim…?” vindo de lá de dentro, abriu a porta e disse a César:
- Aguarde aqui um pouco.
César ficou ali no corredor algum tempo à espera enquanto chegava a si o barulho semi-abafado do bar e sentia a vibração da música nas paredes e, principalmente nos pés, fazendo-o sentir mais o pulsar do ritmo do que a música em si mesma.
Ao fim de alguns, poucos, minutos o moço saiu, deixando a porta entreaberta e dando-lhe a indicação de que podia entrar, afastando-se rapidamente.
César entrou e pôde verificar que o camarim, embora não fosse grande, estava completamente repleto de flores das mais variadas qualidades. Divertiu-se com o pensamento de que algumas floristas não teriam para venda tanta variedade e quantidade de flores como as que estavam ali.
Ela estava de frente para um espelho na parede lateral mais distante da porta e fazia deslizar um vestido comprido e colante sobre o corpo despudoradamente nu, num exercício sensual que permitiu a César ter apenas um lampejo do seu corpo e do reflexo no espelho antes de estar completamente coberto. Depois retocou o batom com uma aparente indiferença ao facto de César ali estar, enquanto este se deixou ficar junto à porta que fechara entretanto sem quase se mexer num silêncio respeitoso, com gestos marcados e obviamente provocantes sem serem, no entanto, explícitos.
Finalmente voltou-se e encarou-o com um olhar que denotava uma superioridade e confiança difíceis de encontrar.
- Olá. – Disse pura e simplesmente enquanto se encostava à mesa que estava na base do espelho e acendia calmamente um cigarro.
- Olá. – Respondeu César num tom que nada tinha de submisso – Queria apenas cumprimentá-la pelo seu número.
Ela fez um leve, leve sorriso.
- Veio cumprimentar-me pelo meu número ou pedi-lo?
- Ambas as coisas.
- E o que o levaria a pensar que eu lho daria?
- O simples facto de eu o querer.
Aquela convicção dele abanou-a por dentro.
- Mas acha que sou alguma puta reles?
- Claro que não. A menina não tem nada de reles. Ela fez uma expressão irada. Ele sorriu.
- Sabe,… – continuou ele – …ao contrário daqueles… – não lhe ocorria a palavra – …“schmucks” todos que estão lá fora, eu já tive melhor e nem tive que pagar por isso. Embora a ache uma mulher extremamente sensual, não é nada de extraordinário para mim.
Estas palavras bateram-lhe como uma locomotiva de alta velocidade. Mas quem é que este tipo julgava que era?
- Então porque é que está aqui?
- Porque tu és a rainha aqui.
- E então?
- E então, quero-te.
- Deseja-me?
- Não. Digamos apenas que tenho os meus motivos.
Isto abanou-a ainda mais. Sentiu uma fúria dentro de si, sentiu-se insultada.
- Tem noção de que ninguém, mas mesmo ninguém me trata assim?
- Claro que tenho… A não ser que possa pagar o preço.
Ela ficou sem reacção. Pela primeira vez na vida tinha à sua frente um homem que claramente não era gay mas sobre o qual os seus encantos pareciam não ter qualquer efeito.
Ele tirou a carteira do bolso do casaco, abriu-a, tirou um cheque, tirou também uma caneta de ouro e preencheu-o à sua frente. Depois voltou-se para ela e entregou-lho.
Ela leu o cheque. Recusava-se a acreditar no que via.
- Caso se esteja a perguntar se tem cobertura… – Pegou no telemóvel, entrou na internet, foi à página do banco, marcou o código de acesso, e depois mostrou-lhe a página onde estava o saldo à ordem da sua conta – …creio que isto responde à sua pergunta.
Ela assentiu com a cabeça.
- Assim sendo, … – continuou César – Vamos?
Ela vestiu o casaco, pegou na mala de mão, sorriu-lhe com toda a classe e respondeu:
- Vamos!
César fez questão de saírem do bar pela porta principal, levando-a pelo braço. Se a inveja matasse, ele tinha morrido ali…
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