quarta-feira, 6 de março de 2024

Conscientização - III

 

Acordou sobressaltado e desorientado, sentando-se de imediato na cama. Um cheiro estranho invadia-lhe as narinas.

Só depois percebeu que era o cheiro do verde intenso do ar puro da serra de Sintra.

Localizou-se, acalmou. Olhou para o relógio no telemóvel 3:30 da manhã!

- Damn jet lag…

Levantou-se, dirigiu-se à casa de banho, tomou um duche, cuidou da barba, vestiu-se, dirigiu-se à garagem, e, uma vez que ainda não tinha comando, digitou o código que fez o mecanismo automático elevar a porta.

Já tinha saudades da sua besta devoradora de milhas e combustível, e observou o seu tom de azul reflectido pelas lâmpadas e apenas estranhou a matrícula portuguesa.

Abriu a porta, sentou-se e deu à ignição, fazendo a fera rugir. Depois retirou-o da garagem, cuja porta começou a fechar automaticamente, e apontou a frente ao portão que abriu com a suavidade que o surpreendia.

Desceu a serra com algum cuidado. Sabia perfeitamente bem que este carro não tinha sido feito para andar em percursos sinuosos, e que à mínima distracção o faria pagar caro o erro. Mas era isto que ele adorava nesta máquina, o desafio constante, o ter a noção de estar a domar o indomável.

Saiu da vila em direcção a Cascais, e apanhou a auto-estrada para Lisboa. Sabia perfeitamente que as estradas não eram tão vigiadas como as dos Estados Unidos, por isso, logo que passou as portagens, e pela primeira vez em muitos anos, soltou por completo a fera.

O carro, agradecido, rugiu como se estivesse deliciado, contido há demasiado tempo, lançou-se ao asfalto com fúria, e a paisagem, para ele tornou-se apenas uma mancha indistinta enquanto se concentrava em manter o animal colado ao asfalto.

Apenas levantou o pé ao começar a descer o Monsanto com as torres das Amoreiras à vista.

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