Eram perto das nove da manhã
quando
entrou
com
o
carro
pelos
portões
de
bronze
e
o
conduziu
directamente para a
garagem.
Quando o desligou percebeu
claramente porque é que na Europa este carro era raro. O consumo de gasolina
era algo brutal, pelo menos ao preço que cobravam por um litro…
Aliás, era impressionante o
que os estados cobravam aos cidadãos em termos de impostos indirectos. Como é
que era possível às pessoas viver quando entregavam quase metade do rendimento
anual ao estado? E o problema é que, pelo pouco que vira até agora, nem se
percebia bem porquê… Claro que ele percebia. Na Europa, mais que nos Estados
Unidos, os políticos, por muito pouco inteligentes que fossem – e a bem da
verdade a maior parte não era de todo brilhante – tinham-se tornado
prestidigitadores e, embora a bem da transparência tudo fosse tornado público,
a maior parte dos cidadãos não fazia ideia do que eles andavam a fazer, até
porque eles criavam distracções noutros lados, muito barulho, para abafar o
importante.
A moral destes políticos não
se via nas coisas grandes, mas sim nas pequenas. Por exemplo, enquanto era cada
vez mais exigido aos cidadãos trabalhar até mais tarde e com menos benefícios,
a verdade é que nos serviços centrais europeus se consegue reformas milionárias
aos cinquenta anos…
Bem, mas a ele, ao fim ao
cabo, nada disto interessava muito… Afinal, os seus impostos não eram pagos
aqui, a não ser os indirectos… E isso levava de volta à questão da gasolina!
Tinha de arranjar outro carro para
o dia-a-dia. Este teria de ser somente para ocasiões especiais. Mas nem era só
pelo combustível. Ele, que não gostava de dar nas vistas, com este carro
parecia um sinal de néon ambulante. Se nos estados unidos as pessoas
simplesmente olhavam, aqui babavam a olhar para o que nunca tinham visto e isso
causava-lhe desconforto.
“Acho que se andasse com um
Lamborguini chamava menos atenção…” pensou. Nota mental: ver de um carro novo.
Conforme saiu da garagem viu
Victor Antunes dirigir-se a si.
- Bom
dia, Sr. César. Vejo que saiu cedo…
- Jet
lag. Bom dia.
- Tenho
aqui o seu staff preparado, incluindo a sua assistente pessoal.
- Muito
bem. Vamos lá…
Entraram na casa pelo enorme
hall e estavam ali três mulheres e um homem com um aspecto nervoso. Victor
apresentou-lhe primeiro uma senhora, a mais velha, com cinquenta e muitos anos,
talvez sessenta.
- Esta
é a D. Josefina e é a cozinheira.
César cumprimentou-a. Victor
passou a senhora a seguir.
- Esta
senhora é a D. Maria e será ela a cuidar da casa.
A D. Maria estava na casa dos
quarentas e parecia ser uma pessoa absolutamente recatada. Cumprimentou-a e ela
limitou-se a fazer um sorriso tímido.
A seguir Victor apresentou-lhe
a mais jovem. Era uma rapariga na casa dos vinte e poucos. Vestia de maneira
sóbria querendo claramente causar uma boa impressão, passar uma imagem de
profissionalismo. Das três era claramente a mais nervosa, até porque apesar da
impressão que queria passar, era óbvio que não tinha experiência nenhuma.
Parecia ter acabado de sair de uma universidade qualquer e César perguntou-se
se não seria o seu primeiro emprego.
Claro que isso não era
importante. Aliás César preferia que fosse assim, uma pessoa sem vícios, que
ele pudesse treinar da maneira que achasse mais conveniente.
- A
D. Andreia será a sua assistente pessoal, caso esteja de acordo, claro!
César assentiu e
cumprimentou-a.
- Por
último, … – disse Victor – …temos o Sr. João que será o jardineiro mas que
também se ajeita a fazer pequenas reparações.
César cumprimentou-o e disse
por fim:
- Bem-vindos.
Vão descobrir que eu não sou muito exigente. Desde que tudo esteja bem nunca
haverá problemas. – Depois virou-se para o Staff da casa – Não quero ter que
vos dizer o que têm de fazer, portanto as regras são simples. O que estiver
estragado arranja-se, o que estiver desarrumado arruma-se. O pequeno-almoço
será todos os dias às sete, o almoço às treze e o jantar às vinte, a não ser
que eu avise do contrário. Quando tiverem uma dúvida, perguntam. Fui claro?
Todos assentiram.
- Muito
bem. – E depois voltou-se para Andreia – Já nós temos muito mais para falar.
Pode ir subindo a escada e aguarde-me no escritório. – E tendo percebido o ar
desconcertado dela acrescentou – É a segunda porta à direita.
Ela assentiu e dirigiu-se para
as escadas. Já ele voltou-se novamente para Victor.
- Sr.
Victor, muito obrigado pela sua inestimável colaboração. Já começou a tratar do
que lhe pedi ontem?
- Em
relação ao leilão? Sim, comecei.
- Óptimo.
Entretanto, providencie um armazém para pôr isto tudo até ser leiloado,… – e
então deteve-se a olhar para a parede à sua frente
- …à
excepção daquele quadro. Esse fica. Falarei consigo em breve. Mais uma vez,
obrigado. Está dispensado.
E com isto virou as costas e
dirigiu-se às escadas…
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