Andreia acabava agora de redigir um
contrato sem nome, nos termos que César lhe havia pedido,
e
preparava-se
para
se
vestir,
uma
vez
que
ele
lhe
tinha
dito
que
sairiam
essa noite novamente.
Ele tinha-lhe dito qual o vestido que queria que ela usasse essa noite. Era um
dos muitos que tinham comprado essa tarde.
Depois da sua atrapalhação por
causa do tamanho do carro nas ruas de Sintra, verdade seja dita que, assim que
apanharam estrada aberta e deixou de estar receosa, percebeu que, ao contrário
do que esperara, o carro parecia leve e ágil, respondendo com uma precisão
absoluta a cada movimento seu e ela sentiu uma segurança que nunca antes tinha
sentido em carro nenhum. De tal forma que apenas quando começaram a descer o
Monsanto em direcção ao viaduto Duarte Pacheco e César lhe disse – Se calhar
convinha levantar o pé, não? – se apercebeu de que fizera a viagem, desde as
portagens, em Carcavelos, a cerca de duzentos quilómetros hora e se assustou,
levantando o pé e deixando que o motor e a gravidade da subida desacelerassem o
carro gradualmente, entrando dentro dos limites de velocidade no túnel do
Marquês.
Estacionaram o carro no parque
de estacionamento dos Restauradores. Daí começaram um périplo por várias lojas,
sendo a primeira a “Ana Salazar” na rua do Carmo, passando depois pela “Fátima
Lopes”, “Ana Sousa” entre outras, vindo depois para a Avenida da Liberdade e
correndo as lojas de marcas internacionais como a “Emporio Armani”, “Luis
Vuitton”, “Trussardi”, “Escada”, “Fashion Clinic”,…
Esta tarde teria sido o sonho
de qualquer “fashionista”, tendo César gasto largos milhares de euros em roupa,
sapatos e assessórios, tendo cada uma das compras sido aprovada por ele.
O vestido que estava estendido
na cama, cor de laranja e de tecido leve, semitransparente, cuja frente acabava
um palmo acima do joelho, mas a parte de trás cerca de um palmo abaixo e lhe
deixava as costas nuas, tinha protagonizado um dos momentos mais embaraçantes
dessa tarde. Experimentou-o com uns sapatos de salto alto da mesma cor do
vestido. Ao ver que o tecido era quase transparente, limitou-se a baixar as
alças do soutien e apresentou-se assim a César. Este reagiu com a frieza que o
caracterizou a tarde inteira, talvez para não a embaraçar, pensava ela, e
limitou-se a dizer-lhe para o experimentar sem soutien, uma vez que este
estragava por completo o efeito nas costas. Ela voltou a entrar no provador,
tirou-o e corou de imediato perante a ideia de sair e se expor a César com a
auréola mamária e o próprio mamilo espetado completamente visíveis por baixo do
tecido. Ainda assim, respirou fundo, saiu, César observou-a e aprovou o
vestido, embora tenha procurado de imediato uma empregada que lhe oferecesse
uma solução para o embaraço dela, que chegou sob a forma de um soutien auto-adesivo
em silicone e alguns pares de adesivos tapa-mamilos de silicone e tecido.
Acabou de redigir o contrato,
do qual imprimiu duas cópias, maquilhou-se, vestiu-se e observou-se no enorme
espelho do roupeiro do seu quarto. Os sapatos, os mesmos com que experimentara
o vestido tornavam-lhe as pernas mais longas e elegantes e o vestido
assentava-lhe na perfeição. Deu-se por satisfeita e desceu a escada ao encontro
de César que a aguardava na sala de estar, entretido a ver informações das
bolsas de quase todo o mundo no enorme LCD.
Ele olhou-a assim que entrou,
com um ar sério, observou-a minuciosamente.
- A
sua maquilhagem não está bem. – Disse ao fim de um bocado
- Está
demasiado carregada e é muito nova para ter tanta base na cara. Além disso,
como tem a pele muito branca não gosto de a ver com esses tons. Use um “eye
shadow” em tons de rosa, ou castanhos suaves. Os azuis que está a usar
esbatem-lhe os olhos, que são da mesma cor, em vez de os realçarem. Use cores
contrastantes para os destacar e dar ainda mais vida. Afinal não nos vamos
esconder de ninguém. E o batom, em vez desse rosa, use um encarnado escuro e
brilhante para contratar mais com o seu tom de pele.
Ela ficou a olhar para ele,
surpreendida pela reacção, assentiu e virou-se para voltar para o quarto. Ele
voltou a interpela-la:
- Já
agora, troque a roupa interior.
Ela voltou-se para ele,
encarando-o com um ar inquiridor. Ele sorriu e continuou.
- Era
melhor usar roupa interior creme… – disse.
Só então ela reparou que a
roupa interior preta era claramente visível por debaixo do vestido. Corou,
sentindo-se verdadeiramente embaraçada. Ele sorriu.
- Andreia,
lembre-se sempre: a diferença entre a elegância e a vulgaridade, na maior parte
das vezes, não é mais que um mero detalhe…
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