Preparava-se para entrar em palco e
fazer o seu número, como fazia todos os dias. No entanto, o dia de hoje era diferente, muito diferente.
Apesar
dos
seus
passos
serem tão seguros como
sempre tinham sido, algo dentro dela estava diferente e sentia um nervoso que
já não
lhe
era
natural.
Entrou no palco, sentiu as
luzes a focarem-se em si, caminhou com a sua graça felina, mas, enquanto o seu
corpo fazia os gestos já tão habituais, os seus olhos procuravam avidamente um
rosto no meio da multidão.
Dançava, exibindo a sua
voluptuosidade, insinuando, atiçando desejos, mas, se era verdade que noutros
dias se deleitava com as sensações que provocava, hoje nada disto lhe dizia
nada.
Sentia-se estranha, como se
apenas o seu invólucro ali estivesse, e ela não.
Mas eis que a meio do seu
número repara que ele está na sala, acompanhado por uma mulher, e se senta numa
mesa afastada, mal lhe prestando atenção. No entanto, a mulher que está com ele
observa-a atentamente. Embora não o transparecesse, houve sentimentos que
tomaram conta de si, e, embora apenas de relance, observou a mulher. O que
poderia ele ver nela?
E decidiu, naquele momento ser
suprema e despejou graciosidade, beleza, luxúria e sedução naquele palco tal
como despejou as suas roupas, revelando-se, e sentiu o prazer de ser
absolutamente desejada por todos os homens ali presentes mas… O objecto do seu
desejo parecia continuar alheio a si, passando o tempo a olhar aquela mulher
jovem e, aparentemente, sem sal.
O seu número acabou e ela saiu
do palco ovacionada, sabendo que poderia ter qualquer homem presente naquela
sala, com apenas uma excepção: o homem que ela queria.
Dirigiu-se ao camarim,
vestiu-se, aguardou, mas não veio ninguém com quem ela quisesse falar.
Por fim, resignou-se, entrou
para o duche e deixou finalmente que as suas lágrimas saíssem, misturando-se
com a água que lhe escorria pelo corpo.
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