segunda-feira, 4 de março de 2024

Chuva - LVIII + Epilogo

  

De certeza que viste o julgamento. Aquilo foi uma palhaçada.

Claro que quando foi fundamentado que eu não tinha incitado nada nem ninguém, apenas passei uma mensagem, a que a responsabilidade de acreditar nela é de cada individuo, a acusação não teve como me pegar.

Não apareci em lado nenhum a falar pela mensagem, apenas a tinha passado por telefone a um jornalista que se limitou em seguida a fazer o seu trabalho. Não conseguiram provar que eu tivesse incentivado ninguém a tomar fosse que acção fosse.

Claro que isto era mentira. Incentivara o Fernandes. Mas ninguém precisava de saber isso, e não tivemos contacto com mais ninguém durante aqueles dias.

Ontem, findo o julgamento, apesar de o Ministério Público ter anunciado que iria recorrer da sentença, fui posto em liberdade, neste mundo que ainda não se restabeleceu.

E hoje estou aqui.

E aqui tens a história. Sabes tudo o que aconteceu, do meu ponto de vista, claro. Faz com ela o que quiseres. Mas faz qualquer coisa, seja o que for. Até a podes ignorar. Mesmo isso é uma acção tua.

Faz-se claro, já está a escurecer, e eu tenho de ir…

Pergunta, vá, satisfaz a tua curiosidade. Já que tiveste a paciência de me ouvir, mereces esse osso.

O que é que eu percebi?

Percebi quem eram, na verdade, as casas do poder. E nesse momento percebi tudo.

Olha, já chove…

Vou-me levantar e sair pela porta, mas deixo-te com um pensamento:

 

Alguma vez percebeste o quanto a chuva é corrosiva…?


Epilogo.

 

Boa noite. Mais um caso insólito em torno de Gabriel Guerra.

Gabriel Guerra foi hoje baleado à saída de um café, em plena rua, ao fim da tarde, diante de dezenas de testemunhas. O INEM chegou com rapidez ao local encontrando-o ainda com vida.

Mas a ambulância que o levava para o hospital foi desviada a um quilómetro do sítio onde foi baleado, sendo encontrada abandonada e vazia dez minutos depois.

Os assaltantes que a desviaram atravessaram um carro roubado de alta cilindrada em frente à ambulância, saindo em seguida armados com caçadeiras de canos serrados e forçando o pessoal do INEM para fora da ambulância, arrancando em seguida com ela a alta velocidade. Neste momento desconhece-se o paradeiro de Gabriel Guerra. Vasco Valentim, o médico que seguia na ambulância, afirma que ele não poderia sobreviver devido à extensão dos ferimentos e uma vez que não deu entrada em nenhum hospital, acredita que ele estará morto.

Recordamos que Gabriel Guerra foi o responsável por…

 

F I M

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