Eram nove horas e doze minutos da manhã quando a mensagem foi divulgada.
Primeiro nas estações de rádio e nos programas matutinos da televisão. Depois a
fazer manchete nos jornais vespertinos.
A mensagem tornou-se global em menos de uma hora. Inundou a internet.
À tarde já alguns governos começavam a reagir à mensagem, uns dizendo que
era o mais completo disparate, outros dizendo que estariam preparados para
tomar todas as medidas que fossem necessárias.
Mas o que aconteceu…
Aposto que também seguiste na mesma onda de todos os outros, não foi?
Também correste para o banco para tentar segurar o teu dinheiro?
Toda a gente correu. Para os bancos, supermercados, postos de combustível…
Nessa tarde começaram a haver roturas de stock em alguns supermercados, com
os produtos a não serem repostos a tempo, e algumas dependências bancárias e
terem de fechar por não terem dinheiro para pagar os levantamentos que eram
feitos.
No segundo dia havia filas por todo o lado, no mundo inteiro. Mas as filas
nos bancos eram o mais impressionante.
Claro que os mercados financeiros reagiram negativamente, as bolsas em todo
o mundo começaram a cair a pique. Nesse dia os índices de Wall Street,
desvalorizaram brutalmente. Todos os analistas aconselhavam calma às pessoas,
mas quanto mais o faziam, mais parecia haver um pânico generalizado.
Houve pessoas que passaram a noite em filas à porta dos bancos para
levantar as suas economias logo de manhã. As roturas de stock de combustíveis
fizeram com que a rede rodoviária de transportes deixasse de funcionar, levando
a que os supermercados ficassem de prateleiras vazias.
No terceiro dia houve bancos que ficaram de portas fechadas. Começaram
protestos populares. Os principais índices das bolsas mundiais chegaram a cair
vinte pontos. As acções desvalorizavam a ritmos impressionantes. Na fúria de
vender, alguns sectores começaram a ficar em risco. Os primeiros bancos pediram
insolvência, vendo as suas carteiras de investimentos completamente
descapitalizadas. As multinacionais, a reboque dos bancos, pediram apoio aos governos.
A maior parte dos governos dos países desenvolvidos começaram a analisar
medidas de emergência de forma a conter uma catástrofe económica.
Ao fim do dia, ondas de protesto popular varriam as ruas. A comida estava
racionada, bem como os combustíveis, devido à pressão da procura excessiva. A
falta de bens essenciais começava a provocar estragos.
O governo Americano foi o primeiro a tomar algumas medidas, como injecções
de capital massivas para tentar conter a catástrofe. Foi seguido por quase
todos os outros.
As revoltas populares deram azo a tentativas de contenção por parte das
forças policiais. Houve zonas em que os ânimos se exaltaram e levaram a
autenticas batalhas campais. Nova Iorque, Los Angels…
À distância tudo me parecia tão absurdo, tão estranho…
Motins, pilhagens, exércitos a começarem a invadir as ruas…
No quarto dia os pedidos de insolvência de empresas, a nível mundial,
sucederam-se. Na Europa, em vários países, houve bancos entrar com processos de
falência. Houve suicídios em massa de responsáveis financeiros que perderam
tudo num ápice. Os governos começaram a nacionalizar bancos e empresas numa
tentativa de assegurar às populações que os seus postos de trabalho estavam
seguros.
As revoltas populares aumentaram de tom. Os preços dos bens essenciais e
dos combustíveis dispararam para níveis nunca vistos. Os exércitos invadiram as
ruas das principais cidades. Quase por todo o mundo é imposta lei marcial.
O quinto dia foi marcado pelas atitudes dos responsáveis americanos,
lembras-te?
Contra toda a filosofia económica americana, empresas em sectores chave, no
ramo automóvel, no imobiliário, financeiro, começaram a ser nacionalizadas.
As ruas estavam cheias com autênticos exércitos de pessoas que destruíam
lojas em ondas de pilhagem e vandalismo. Rebentou uma guerra aberta entre os
exércitos e as populações.
Começam ameaças de guerras civis por todo o mundo, com exércitos divididos.
Não deixei de ver isto por um prisma curioso. Sabes, o dia seguinte seria o
dia decisivo. E não podia deixar de ver que tinha sido a própria mensagem a
criar o que anunciara.
Ao fim do dia uma cimeira urgente de líderes mundiais, nas nações unidas,
começa a traçar caminhos para conter o pânico generalizado.
Ao inicio do sexto dia, o sétimo da mensagem, uma declaração conjunta de
quase todos os governos mundiais, afirma inequivocamente que todos os bens das
pessoas serão assegurados, bem como os postos de trabalho. Por decreto conjunto
quase todos os sectores económicos chave são nacionalizados.
Os estados unidos nacionalizam a reserva federal.
Os preços do petróleo e dos bens essenciais são fixados, retirando bases à
especulação. Os bancos são reabertos.
As populações começaram a serenar, vendo as suas posses asseguradas.
No meio deste turbilhão todo apenas um ou outro governo caíram. O sistema político
conseguiu manter-se
Estava espantado.
Pela primeira vez uma das previsões não se tinha concretizado.
A revolução acalmava. A economia, agora completamente estatal, em quase
todo o mundo, e livre de especulação, começava a dar passos de retoma. Ia
demorar a recompor tudo, mas as perspectivas eram boas.
As casas do poder não tinham ruído.
Ainda me lembro das palavras do Fernandes quando a situação acalmou.
“Gabriel, desculpa o que te vou dizer. Sabes que nem gosto de usar este
tipo de linguagem, mas neste caso aplica-se. Estas completamente e
irreversivelmente fodido!”
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