O passo seguinte seria falar com o Rafael. O Fernandes esqueceu o cansaço, ligou-lhe, combinou um encontro para dai a uma hora em Lisboa, e arrancamos.
A hora em questão passou devagar. A auto-estrada pareceu longa. Quando
finalmente chegamos, vi que estávamos em casa dele. Foi a esposa dele quem veio
abrir a porta. Cumprimentou o Fernandes de uma forma alegre e casual, típica de
pessoas com alguma intimidade. Depois o Fernandes apresentou-me e ela ficou
algo especada a olhar para mim, com um misto de sentimentos no olhar que não me
deixou distinguir nenhuma em particular, mas onde predominava a admiração.
Levou-nos para a sala onde o Rafael trabalhava com um portátil em cima da
mesa. Este ia para cumprimentar o Fernandes mas assim que lhe olhou para a cara
perguntou de imediato “O que é que vem por ai?”
“Nem queiras saber…”
O Rafael cumprimentou-me. A esposa dele, a Raquel, salvo erro, perguntou se
queríamos beber alguma coisa. O Fernandes disse que até bebia um whisky, eu
aceitei uma garrafa de água com gás. Ela trouxe a garrafa, um pequeno balde de
cristal com gelo, a minha água e três copos. O Rafael serviu dois copos, deu um
ao Fernandes e voltou-se para mim.
“Nova mensagem?”
“Sim.”
“Posso saber qual é?
“Podes. Houve interesses velados. A descoberta escondida mantém milhões
como reféns. Salva África.”
“E o que é que isto quer dizer?”
“Sabes, até aqui tenho confiado na minha interpretação das mensagens para
as descodificar. A mensagem do terramoto não dizia a hora, falava de quando a
lua estivesse no seu zénite. Foi ai que cheguei à hora porque o terramoto
coincidiu com a lua cheia.
“Percebo.”
“Esta mensagem, como viste, fala de algo que foi descoberto mas mantido
escondido, afecta milhões e ameaça África. Mas depois de muito pensar reparei
na primeira frase. Houve interesses velados. Achei que era quase desnecessária.
Mas quando vi bem a sigla que representava, cheguei a uma única conclusão.”
O Rafael olhou e disse sem qualquer sombra de dúvida “Alguém descobriu a
cura para a Sida e escondeu a informação!”
Olhou para o Fernandes com um ar incrédulo.
“Uma descoberta destas não daria direito a um prémio Nobel? Como é que se
abafa uma descoberta destas?”
O Fernandes respondeu-lhe.
“Sabes, pá, o Gabriel chamou-me a atenção para uma coisa, quando falamos à
pouco. Quase toda a investigação é feita por laboratórios. E os gajos são
empresas, enormes corporações, para as quais o motor é o lucro. Acaba por ter
uma certa lógica esconder. Ganha-se mais em financiar investigação que não leve
a lado nenhum e vender medicamentos que atenuam os sintomas durante anos, do
que em arranjar uma cura que tem o potencial de erradicar a doença e estancar
esse lucro. Do ponto de vista do investigador é um santo graal, mas do ponto de
vista da administração é uma calamidade financeira.”
“Mas isso é genocídio premeditado, se olharmos para algumas zonas do mundo!
“Sobretudo para África” acrescentei eu.
“Mas o móbil do crime justifica.” Rematou o Fernandes.
O Rafael ficou algum tempo a digerir a informação. Depois voltou-se para
mim.
“Gabriel, a outra previsão foi acerca de uma catástrofe natural. Não há
ninguém a quem culpar. Aconteceu e pronto. Isto fala de um crime premeditado
cometido por pessoas que nem tem escrúpulos para atingir os seus fins. Sabes o
que é que isso quer dizer?”
“Sei. Esta informação sai e, embora ninguém seja acusado directamente, eu
vou ter a cabeça a prémio.”
“Sem dúvida.”
Era verdade. Pura e simplesmente, um dia destes chegava a uma janela e
levava um tiro. Mas depois fiquei a pensar. Por outro lado talvez não. Seria
mais provável que não acontecesse nada. Se acontecesse toda a gente partiria do
princípio de que era verdade e eu tinha sido simplesmente silenciado. Por outro
lado, algo dito por mim agora tinha credibilidade, e mesmo sem certezas,
haveria investigações.
“Ainda assim, quero que passes a informação.”
O Rafael olhou para mim. Depois olhou para a esposa que estava sentada no
sofá, perto de nós. Foi interessante, a atitude dela. Limitou-se a acenar que
sim com a cabeça.
O Rafael pegou de imediato no telefone e começou a falar com alguém.
Dai por vinte minutos, os canais de notícias e os programas de informação
começaram a passar a mensagem. No dia a seguir tinha honras de primeira página
nos jornais. Os principais canais de informação a nível global falavam da
mensagem.
Tinha mandado um calhau da encosta de uma montanha e via a avalanche
começar.
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