Escusado será dizer que a única pessoa com quem comentei toda a conversa,
inclusive a mensagem, foi o Fernandes.
“Tu disseste isso ao primeiro ministro?”
“Disse. Claro que disse.”
“Bem, ele não deve ter ficado muito satisfeito…”
“Sabes, ele estava com receio de mim, logo à partida. Estava a tentar
encaixar-me na máquina para poder ter algum controlo sobre mim. Em vez disso, a
conversa acabou por ser proveitoso por outros motivos.”
“Achas que eles vão conseguir evitar o atentado?”
“Se queres saber, acho que não. Aquilo que tem de ser, tem de ser. E o
atentado vai acontecer. Mas acho que vão conseguir conter os estragos.”
“e porque é que achas que não vão conseguir evitá-lo?”
“as mensagens até agora referem sempre algo que vai acontecer ou já
aconteceu de forma inequívoca. As remissões aconteceram a posteriori, o miúdo estava noutro lado, o terramoto era imparável,
a cura para a sida estava escondida. As coisas acontecem sempre, a questão é se
conseguimos conter os danos ou não.”
“Por esse lado, és capaz de ter razão. De qualquer das maneiras amanhã vamos
ter a certeza, não é?”
E foi.
No dia seguinte fomos vendo os canais noticiosos internacionais. Pouco
depois da hora do almoço é dada a notícia de que houve um acidente com uma
plataforma petrolífera no golfo do México e que uma maré negra começava a
alastrar, mas que as autoridades estavam já a tentar controlar a situação. Era
elogiado o nível de resposta.
Mas foi a meio da tarde que veio a surpresa.
O Presidente dos Estados Unidos da América convoca uma conferência de
imprensa. Lembras-te?
“Concidadãos Americanos, às dez e trinta e dois da manhã pela hora da costa
leste, um ataque terrorista contra uma plataforma petrolífera no golfo levou a
um derrame massivo de petróleo. As consequências só não foram piores devido à
prontidão das equipas de salvamento e de contenção deste tipo de desastres. A
prontidão da resposta só foi possível devido ao trabalho dos serviços secretos,
mas também e sobretudo devido a uma previsão do Sr. Gabriel Guerra, o cidadão
Português, que já tinha previsto o terramoto em Lisboa e que tinha afirmado que
a indústria farmacêutica detinha uma cura para a sida que ainda não tinha sido
revelada.
Ao Sr. Gabriel quero expressar os meus agradecimentos pessoais bem como a
gratidão de todo o povo Americano.
Esta, como outras previsões anteriores provou estar certa, pelo que esta
administração, com base na mensagem que foi revelada anteriormente, vai
proceder a uma investigação sobre as empresas americanas de investigação médica
e insta a que outros países, com empresas de investigação neste ramo, façam o
mesmo.”
Ouvi isto e só pensei no meu amigo John Smith.
Dois dias depois recebi uma carta por mensageiro especial. Era dele, do
presidente americano. Expressava a gratidão do seu país e oferecia-me uma
cidadania honorária, convidando-me a visitar o seu país.
Nem preciso de te dizer que a partir dai tornou-se impossível a minha vida
ser a mesma. A imprensa procurava-me insistentemente, convites para todo o tipo
de actos que possas imaginar…
…começaram a oferecer-me dinheiro para aparecer em eventos, vê lá...
Recusei tudo.
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