Entretanto a vacina para a SIDA foi posta no mercado, claro, a um preço
exorbitante. Ainda assim houve uma corrida maciça ao medicamento. A Europa e a
América do Norte esgotaram todos os stocks disponíveis em muito pouco tempo.
Já as zonas mais afectadas, sobretudo o continente Africano, continuavam
sem ter acesso a ela em larga escala. Duas semanas depois o governo Brasileiro
ameaçou quebrar a patente da vacina, tal como o fizera já antes com os
antiretrovirais. O laboratório responsável pela vacina e o governo brasileiro
encetaram conversações e foi o próprio laboratório que cedeu, disponibilizando
a vacina no mercado a uma fracção do seu custo original.
No dia em que o anúncio saiu, ao fim da tarde, como era já costume, entrei
no carro do Fernandes para irmos para Sassoeiros.
“Fernandes, está na hora de darmos usos ao dinheiro.”
Ele nem disse nada, limitou-se a olhar para mim com um ar inquiridor.
“Vamos gastá-lo todo em vacinas e vamos mandá-las para África.”
Ele desatou à gargalhada.
“Era esse o teu plano desde o começo, não era meu sacana?”
“Era.”
“Tu sabias que isto ia acontecer.”
“Claro que sabia. Aliás, falei disto ao John Smith, lembras-te?”
Ele continuou a rir.
“Então foi por isso que aceitaste o dinheiro.”
“Claro que foi. Lembras-te da menagem? A última frase era ‘Salva África’.
Bem vou fazer os possíveis…”
“E com o dinheiro do laboratório que inventou a vacina. Posso dizer-te uma
coisa? Não me levas a mal?”
“Podes, claro que podes.”
“Tu és mau. Aliás, tu não és mau, tu és muito, muito mau.”
“Achas?”
“Acho. Isso é de uma ironia cruel mesmo. Cruel para o laboratório, claro.
Claro que a crueldade maior seria eles saberem…”
“Eles vão saber, Fernandes.”
“Achas mesmo?”
“Tenho a certeza.”
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