Os dias seguintes foram tão estranho…
Ainda te lembras da mensagem seguinte, não?
“Houve interesses velados. A descoberta escondida mantém milhões como
reféns. Salva África.”
Escusado será dizer que fiquei a olhar para aquilo sem perceber nada. Uma
descoberta que tinha impacto num continente inteiro? Interesses velados há em
todo o lado. O significado escapava-me.
O que é que podia ser comum a todo o continente africano se nem os próprios
países eram unos? África é e sempre foi uma enorme manta de retalhos sem uma
identidade única.
O Fernandes chegou muito tarde, nesse dia, mas ainda assim deu comigo
sentado a olhar para a mensagem.
“Que é que se passa?”
A voz dele como que me acordou. De repente lembrei-me do flagelo de África
dos nossos dias. Olhei para a primeira frase. Depois olhei para ele.
“Ou eu muito me engano ou alguém descobriu a cura para a Sida e a
descoberta foi trancada a sete chaves.”
“O quê?”
“É isso mesmo.”
“Pá, não acredito. Nenhum investigador sério faria uma coisa dessas…”
“É capaz, mas diz-me, também há investigadores menos sérios, não há?”
Ele calou-se.
“E há também os patrões dos investigadores que são grandes grupos
económicos, não há?”
“Mas o que é que te levou a pensar isso?”
“Não sei se deste por isso, mas choveu ao fim da tarde.”
Passei-lhe a mensagem. Ele leu.
“Mas porque é que achas que isto tem a ver com a sida?”
“Já viste a primeira frase?”
“Sim. Houve interesses velados. E então?”
“Quais são as iniciais?”
“HIV”.
A cara dele ganhou uma expressão fechada.
“Isto é muito grande, sabes? Mesmo muito grande. Isto mexe com muita
gente…”
“Eu sei. E mexe no bolso de gente muito poderosa.”
“Mas porquê? Já viste que a cura daria milhões a quem a descobrisse?”
“Sabes aquela anedota do advogado que deixa o filho a tomar conta do
escritório enquanto tira umas férias?”
“Não…”
“Quando volta o filho chega-se ao pé dele e diz ‘Pai, vais ficar orgulhoso.
Resolvi aquele processo que tu tinhas há mais de dez anos.’ E o pai, ao ouvir
isto, desatou a chorar. ‘Mas o que foi pai?’ perguntou o filho. Ele volta-se e
diz ‘Fizeste uma desgraça. É que há dez anos que esse processo é o nosso
ganha-pão…’. O que é que dá mais dinheiro? Manter as pessoas a tomar anti-retrovirais
durante anos ou curá-las?”
“Aquilo de que estás a falar é próximo do genocídio.”
“Eu sei.”
“E o que é que vais fazer?”
“É óbvio. Vou passar a mensagem.”
Ele assentiu.
“Que Deus te ajude…”
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