quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Renascimento (XXXIV de XL)

 Sexta-feira. Quatro da tarde e a cerca de quarenta e três horas do casamento. Algures no Algarve, no recinto de uma concentração de um pequeno grupo motard onde iam tocar nessa noite.

Tinham acabado de montar o palco e fazer som e Rob aproveitou a oportunidade de finalmente falar com o Tobias.

-Olha lá, tu por acaso sabias?

-Sabia o quê?

-Que a Herdade do Monte foi comprada pela Miranda.

-Desculpa?

-Estas desculpado. A herdade do monte é da Miranda, ou para ser mais preciso da fundação MaCallum.

O Tobias ficou em silêncio.

-Pá, eu sabia que a Miranda tencionava comprar alguma coisa por cá, mas pensei que fosse tipo uma casa de férias ou assim…

-Pois, mas em vez disso é praticamente minha vizinha e vem com uma fundação que também é uma academia e um polo universitário.

-Porra! Não fazia ideia! Como é que soubeste disso?

-Sabes aquela gringa jeitosa que anda por aqui há uns meses, a tratar das obras?

-Sim.

-Bem, vai ser a directora daquilo e era a assistente pessoal da Miranda.

O ar de Tobias tornou-se mais sério de repente.

-Achas que ela sabe…

-Não, acho que não. Pelo menos pela maneira como falou comigo e como me apresentou a fundação.

-Porque é que ela fez isso? Afinal já anda por aqui há meses e nunca te disse nada…

-Nada! E cruzávamo-nos quase todos os dias no Zé. Mas aparentemente foi a Miranda que lhe deu ordens para falar comigo. Ela quer a minha colaboração…

-E tu? O que pensas disso?

-Se queres que te diga, não sei. Pelo que percebi era a Miranda que iria falar comigo, mas tem alguma urgência em algum do material, embora não tenham especificado o porquê,…

-Então, mas se tem urgência não conseguiam isso com facilidade directamente?

-Sim, mas a Miranda disse que algum do material deve ser escolhido por mim. E todo o material deve ser comprado através da minha loja.

-E é muita coisa?

-Não fazes ideia. Sabes aquele pavilhão enorme que estavam a construir?

-Sim.

-Se eu te disser que aquilo tem um auditório para quatrocentas pessoas, três estúdios de gravação diferentes, umas quantas salas de trabalho, salas de ensaio, uma área de refeitório, e uma quantidade enorme de quartos…

-Bem, lá que o pavilhão é enorme…

-E ela quer que eu equipe aquilo tudo. Mas quer que seja eu a escolher o material dos três estúdios.

-E tu?

-Bem, eu tenho uma loja. Vou fazer o que as lojas fazem.

-Fazes bem. Claro que entretanto já percebeste que não te vais livrar dela com facilidade. Se bem que me parece que não te queres livrar dela… ou queres?

-Não sei. Aquilo que sei é que tu sabias que ela ia comprar cá qualquer coisa e não me disseste nada.

-Desculpa, mas a Cassandra pediu-me segredo…

Rob sorriu maliciosamente e disse-lhe.

-Nunca te esqueças: A vingança nem sempre se serve fria. Às vezes pode ser um prato muito quente.

Tobias ficou a olhar para Rob, enquanto pensava “Estou tramado”. Juntaram-se aos outros, que por esta altura estavam já a comer entremeadas e a beber umas cervejinhas. O resto da tarde e da noite decorreu sem grandes sobressaltos.

Quando acabaram de tocar, como era costume nas concentrações, começou o espectáculo de Strip-tease. A primeira bailarina veio, fez a sua actuação e saiu. Conforme ela saiu, alguém da organização trouxe uma cadeira para o palco. Rob tinha acabado de arrumar as suas coisas, ao fundo do palco, quando o Tobias se juntou a ele, na altura em que a segunda bailarina entrava.

Ela ia desfilando pelo palco.

-Quem será a vítima desta vez? – Perguntou Tobias, olhando para a cadeira e rindo, pensando no desgraçado que teria de se sentar ali, em frente a cinco mil pessoas. Rob olhou para a cadeira, olhou para a bailarina e, como se houvesse ali uma deixa escondida, ela dirige-se ao fundo do palco e estende a mão para o Tobias, que ficou atónito e pálido a olhar para ela.

-Lembras-te de eu te dizer que a vingança às vezes se serve quente? Bem, esta vem a escaldar. Disse à malta da organização que te ias casar no domingo. Eles acharam que merecias uma despedida de solteiro.

-Estás maluco?

-Não, e anda lá, que está a estragar o numero à moça.

Resignado, o Tobias lá se deixou levar, tendo sido sentado na cadeira.

A bailarina senta-se no colo dele, tira o já diminuto soutien agarra na cabeça do Tobias e enfia a cara dele no meio dos seus peitos, não só para gaudio da assistência, mas também dos companheiros de banda que simplesmente se desmanchavam a rir…




N.R. - Qualquer semelhança entre entre os factos relatados no final e acontecimentos no palco da concentração motard da Vidigueira há 19 anos atrás não são mera coincidência...

4 comentários:

  1. Não sei como foi na "Vidiguêra", mas sei que as coisas estão a aquecer por aqui! :))

    Abraço, Gil!

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    1. Olha, um mês antes da Vidigueira, numa concentração em Setúbal, o agente das meninas veio falar comigo porque o tipo que era suposto ir para a cadeira esfumou-se e precisavam d seguir com o espectaculo. Eu ia casar daí a dois meses e por sorte o meu baterista (solteiro e bom rapaz em algumas horas do dia) ia a entrar no palco e eu encravei-o e ele jurou vingança.
      Um mês depois, na Vidigueira, ele casualemnte mencionou ao presidente do moto-clube que eu me ia casar daí a um mês... E olha, a sorte é que na altura os telemóveis não filmavam e mesmo as fotos não eram nada de jeito... LOL

      Abraço, Janita :)

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    2. Resumindo, sem concluir: Então também apanhaste uma sova de cadeira!! Eheheheh

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    3. Yep... à frente de mais de 5000 pessoas... LOL

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O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!