quarta-feira, 9 de outubro de 2024

Renascimento (XXIV de XL)

 Apesar do voo ser quase sete horas, era pouco antes do meio-dia quando o avião pousou, devido às diferenças horárias.

Seguiram ambas do aeroporto para casa, mas Miranda, que já tinha avisado Patrícia, entrou, deixou as malas para serem desfeitas, tomou um duche rápido, não comeu nada, porque já tinha comido no avião, e saiu para uma reunião com a agência de investigação.

Foi levada ao escritório de Marcus assim que chegou, onde este a convidou a sentar indicando uma cadeira.

-O que posso fazer por si? – Perguntou Marcus, após os cumprimentos.

-Quero parar de imediato as investigações acerca do desaparecimento do meu marido.

-Compreendo. Algum motivo em particular?

-Apenas o facto de ter obtido informações de alguém que esteve com ele nos últimos dias e que confirmou que ele faleceu numa clinica ilegal no norte do Brasil por complicações de uma operação plástica.

-Lamento a sua perda. Creio que isso então conclui a nossa relação comercial. Enviarei os custos finais e arquivaremos a investigação, como é do seu desejo.

-Sim, mas creio que poderei ter outro trabalho para si. Bem mais delicado na sua natureza. Aliás, tão delicado que gostaria que os seus investigadores não tivessem nunca toda a informação. Antes de prosseguirmos, e para eu lhe poder dizer tudo o que é pertinente para o que lhe vou pedir, tenho que lhe perguntar: Há algum registo de algo que eu diga aqui? Até que ponto vai o seu dever de confidencialidade?

Marcus olhou para ela, não muito surpreendido com a pergunta, abriu uma gaveta, tirou um papel e disse-lhe:

-Isto é um acordo de confidencialidade. Especifica o que me pode acontecer legalmente se algo da nossa conversa for divulgado. Se isso a descansa, leia e assine e depois, mesmo que eu recuse o trabalho, jamais poderei discutir ou até alegar ter algum conhecimento que não seja domínio público acerca seja de que situação for.

Ela leu todo o contracto diligentemente. No fim, assinou.

Depois começou.

-No princípio da carreira de Rob já era eu que era sua agente e tratava das partes burocráticas. No dia da assinatura do contracto final, em que o Rob não esteve presente, fui levada a Sala do CEO da editora, que me pressionou a ter sexo com ele em troca da assinatura.

Marcus não pareceu minimamente surpreendido. Ela continuou:

-O pior foi que, sem meu conhecimento ou consentimento, documentaram esse encontro, tanto quanto sei em fotos, não sei se noutros tipos de média também. Essas fotos foram usadas como ameaça para a editora conseguir aquilo que queria do trabalho do meu marido através da minha influência.

O Rosto de Marcus só denotava um leve sorriso, o sorriso de quem nada disto o surpreende, depois de já ter visto, provavelmente, o pior a que os seres humanos conseguem descer.

-Mas, quando ele entrou em conflito com a editora, alguém foi ter com ele e apresentou as fotos, ameaçando libertá-las para a imprensa, por forma a levá-lo a fazer o que eles queriam. Esse acto foi fulcral no desaparecimento e morte do meu marido.

Marcus abanou a cabeça e ficou com um ar sério.

-E o que pretende?

-Sinceramente? Descobrir quem possui as fotos, quem as apresentou ao meu marido, e arruinar-lhe a vida. Descobrir todos os podres possíveis da vida do CEO da editora. Ter o destino deles nas minhas mãos. Não acredito que o meu caso tenha sido único e quero descobrir a quem mais ele fez isto, desde outras agentes até artistas a aspirar um lugar ao sol. Quero saber tudo!

Marcus encarou-a, sério.

-Digo-lhe já que vou pôr as minhas melhores equipas no caso.

-Também quero informações a cada progresso, por mais pequeno que seja.

-Será informada. Mas, Senhora MaCallum, posso só dizer-lhe uma coisa?

-Claro, diga.

-Se aquilo que procura é justiça, louvo-a. Mas se procura simplesmente vingança… Tenha cuidado. A vingança às vezes dói mais a quem a executa, no fim.

Ela assentiu, compreendendo.

Com um aperto de mão final, Miranda saiu do escritório e do edifício com um sentido de propósito renovado.


2 comentários:

  1. Quem a viu e quem a vê!!
    De mulher, débil e fragilizada passou a vingadora e justiceira.
    Para obter tudo o que pretende, Miranda precisa ter muito dinheiro.
    De onde lhe vêm os proventos? Isso ainda são restos da dinheirama ganha à custa do marido? :))

    Abraço, Gil!

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    1. Sabes que os direitos de autor não param de entrar, mesmo quando o autor morre...

      Abraço Janita :)

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