Acabou de entrar com o carro na garagem, desligou o motor, carregou no comando da porta, o que fez com que esta começasse a fechar mergulhando a garagem gradualmente na escuridão e permitiu-se encostar-se no banco, fechar os olhos, respirar fundo e tentar serenar um pouco.
O dia tinha
sido de loucos. Pela manhã, a poucas horas do prazo final de entrega do
relatório trimestral, descobriu-se um erro numa folha de calculo, com
implicações graves para o relatório no global. Todo o departamento parou para
procurar a origem do erro e isto significou passar a pente fino os registos de
transacções de uma multinacional nos últimos três meses. Com a hora a
aproximar-se as tensões tinham-se elevado e o dia foi exaustivo. Felizmente, à última
hora o erro foi corrigido e o relatório seguiu mas todo o seu departamento
estava exausto.
Alguns queriam
ainda celebrar o terem conseguido, num bar onde costumavam reunir-se para beber
um copo depois do trabalho com alguma frequência, e faziam questão em ter lá o
chefe, mas ele hoje estava exausto e declinou.
TGIF. “Thank
God it’s Friday” pensou, erguendo-se, abrindo a porta do carro e saindo,
entrando em casa pela garagem. Deixou a pasta em cima do pequeno móvel logo a
seguir à porta, como fazia todos os dias, e começou a tirar a gravata enquanto
se dirigia à cozinha, gritou “Cheguei”, entrou na cozinha. Dirigiu-se ao
frigorífico, tirou uma cerveja gelada, abriu a garrafa de vidro, deu um gole e
sentiu um momento de paz e satisfação enquanto sentia o fresco a descer pela
garganta.
O seu estado
de paz foi prontamente interrompido pela sua mulher, que entrou de rompante na
cozinha perguntado com uma nota urgente e meio zangada na voz:
“Mas onde é
que tu estiveste até agora?”
Ele virou-se
para ela e viu-a à sua frente vestida num robe aberto e com a lingerie da
“Agent Provocateur” que ele lhe tinha oferecido no aniversário de casamento e
que vira apenas uma vez. O cabelo dela obviamente arranjado numa cabeleireira e
ainda estava a meio de aplicar a maquilhagem. A visão fê-lo parar.
“No transito.”
acabou por responder “Houve um transito brutal hoje. Um acidente condicionou o
acesso à auto-estrada.”
Ela olhou para
ele com os olhos semi-cerrados e com uma expressão zangada, não sabendo se
havia de acreditar nele.
Ele tirou o
telefone do bolso do casaco, fez uma busca rápida no Google e passou-lhe o
telemóvel para a mão com uma noticia em aberto. Ela viu e cedeu.
“Bolas, mas
tem de ser sempre assim. Então e tu chegas a estas horas e vens relaxar para a
cozinha em vez de te despachar?”
Só então se
lhe fez luz. A festa! “Bolas” pensou. De todos os dias, claro que tinha de ser
hoje. Definitivamente, esta era uma sexta-feira que não lhe estava a correr de
feição.
“Olha,” acabou
por dizer “sinceramente não tenho vontade nenhuma de ir. Tive um dia de cão e
ter que ir para uma dessas festas de gente rica só porque temos de aparecer…
Não me apetece.”
“Nem penses.
Sabes bem o quanto me esforcei para conseguir este convite. Sabias que quase
ninguém é convidado que não pertença a um certo circulo social? E ser
convidado… Tu não estragues isto para mim. Prometeste que vinhas.”
Ele olhou para
ela. Era verdade que prometera. Resignou-se.
“Vai tratar de
ti rápido. Eu estou quase pronta. Reservei o jantar naquele restaurante francês
onde fomos no dia dos namorados e é quase hora. Tens a tua roupa em cima da
cama.”
Acabou de
beber a cerveja de um único trago. Perdera completamente o efeito que tivera
antes da conversa.
Subiu as
escadas e foi directo para a casa de banho. Despiu-se, olhou-se no espelho, e
percebeu que parecia mesmo cansado. Suspirou. Entrou para o duche e a água
morna caiu-lhe na pele como um balsamo. Deixou-se ficar debaixo do chuveiro só
com a água a correr sobre si, tentando que ela lavasse o cansaço.
Saiu do duche,
limpou-se e resolveu fazer a barba. Sabia, pela amostra que tinha tido, que
esta noite a sua mulher ia caprichar. Era um evento de gala qualquer e toda a
gente tinha de ir vestida de acordo. Acabou de fazer a barba e olhou-se atentamente.
Secou o cabelo, pôs gel e penteou-o, para ficar com algum estilo, saiu do
quarto, vestiu-se com a roupa que ela tinha tirado e olhou-se ao espelho.
Quarenta e oito anos, mas estava mesmo muito bem para a idade. Normalmente
sabia que atraia alguma atenção do sexo oposto, algo que reconhecia com humor,
mas ao que não ligava. Desde que conhecera a sua mulher que todas as outras se
tinham eclipsado. Claro que a sua boa aparência tinha dado frutos antes de a
conhecer.
Tinha sido um
miúdo introvertido e nunca tivera grande sorte com o sexo oposto. Foi já no
final da universidade, quando resolveu entrar para um ginásio e começar a
treinar que as coisas mudaram. A sua excelente forma física mudou drasticamente
a maneira como era visto e, de repente, as mulheres que não lhe ligavam antes
pareciam estar apostadas em estar com ele. E ele… Bem, ele tinha aproveitado a
abundância que veio depois da escassez, se calhar até mais do que devia.
Mas depois
conheceu-a e ninguém mais importou.
Vinte e quatro
anos depois, dois filhos na universidade, e ainda aqui estavam os dois. E ele
nunca perdera o vício de treinar, continuando a ter um corpo invejável e bem
definido, para um homem da sua idade. E olhava-se ao espelho, com o seu smoking
e pensou “pelo menos não a vou envergonhar” com um sorriso matreiro.
Saiu do
quarto, desceu as escadas e encontrou-a já à sua espera na sala, algo inédito
até então em todo o casamento. Nunca ela esperara por si, antes pelo contrário.
Quando ele a
viu, podia jurar que o seu coração tinha saltado uma batida. Ela usava um
vestido turquesa, sem alças, com um decote transparente que mostrava apenas o
suficiente do seu busto para atrair o olhar de qualquer homem com sangue nas
veias. O vestido abraçava-lhe o corpo com naturalidade, realçando as suas
formas. Embora fosse comprido, até aos pés, uma abertura, apenas do lado
direito, subia até à sua coxa, deixando ver claramente, quando ela se mexia, a
sua perna bem torneada naquelas meias de seda e a liga que as segurava. O
conjunto estava completo com uns sapatos Pump com um salto agulha altíssimo,
que causava o efeito de lhe alongar ainda mais as pernas. Estava irresistível.
“Tens a
certeza que queres sair?” perguntou ele com um tom malandro.
“Deixa-te
disso, que estamos atrasados.” Respondeu ela com um tom que não deixava margem
para discussão, mas com um brilho maroto no olhar, sinal de que tinha entendido
e gostado da sua insinuação.
Afinal, o que se passa aqui? Ainda nem li o 39º e o 40º e último episódio da novela anterior, sequer ainda tive tempos para o 37 e o 38, e já vens com outra? Nã, assim não brinco mais contigo!
ResponderEliminarAh...não costumo ler um novo livro sem terminar o que tenho entre mãos. :P
ResponderEliminarIsto é como as novelas... LOL
EliminarAbraço
Olha, iniciei a leitura desta nova novela e, em princípio, sinto-me bem mais motivada a continuar do que co a anterior. No entanto, hoje, fico por aqui. Amanhã, ou talvez mais logo à noitinha, leia mais um ou dois capítulos.
ResponderEliminarGostei de ver que após tatos anos de casados, esses dois ou será apenas ele?- se mantêm atraídos fisicamente.
E ainda dizem que o hábito não faz o monge, ai não não faz...estivesse ela toda mal enjorcada a ver se ele lhe dizia o que disse...:)
Um abraço, Gil. :)
Sabes bem que os olhos são os primeiros a comer... ;)
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