Miranda saiu do táxi, nos arredores de Nova-Iorque, e teve de confirmar se estava na morada certa. A vizinhança não parecia muito recomendável, bem como o bar onde se encontrava. Entrou e viu Marcus sentado numa mesa afastada. Dirigiu-se a ele e sentou-se na mesa.
-O que vai querer tomar? – Perguntou este.
-Uma água.
Marcus fez Sinal a uma empregada e fez o pedido.
-Sr. Marcus, presumo que o seu pedido para nos encontrarmos aqui não seja por acaso.
Marcus olhou para ela e sorriu, mas ficou em silêncio enquanto esperava que a empregada trouxesse uma garrafa e um copo, que deixou na mesa. Quando esta se afastou, ele falou finalmente.
-Não, não é por acaso. Sabe, depois do que me contou tomei um interesse especial no seu caso. Não foi à toa que lhe disse que havia uma diferença entre querer justiça ou vingança. Tive uma pessoa próxima que por falta de discernimento, ingenuidade, necessidade ou seja por que motivo for, porque no fim os motivos interessam sempre menos que os actos, foi vítima, tal como a senhora foi. Infelizmente, se no seu caso teve uma perda, no meu também. Percebe assim que tenho um investimento pessoal em lidar com este tipo de pessoas…
-Percebo perfeitamente.
-Dito isto, digo-lhe que tive uma conversa interessantíssima com um senhor chamado Phillip Kane. Não sei se o nome lhe diz alguma coisa?
-Não, sendo franca, nada.
-Pois bem. É um advogado. Há oito anos atrás era o braço direito do CEO da companhia discográfica do seu marido.
Miranda fez uma súbita expressão de profunda surpresa.
-E confirmou que foi ele que…
-Sim. Digamos que consegui ter com ele uma conversa aberta e honesta, coisa que creio ser rara, pelo menos em relação a ele. Mas, entretanto, não só confirmei como consegui obter a provável localização das fotos, não só as que lhe dizem respeito, mas aparentemente dezenas de outras.
-Sabe onde estão?
-Sei onde estavam há oito anos. Presumo que ainda estejam no mesmo local. São trofeus. Ele não os quereria longe.
-Compreendo.
-Tenho de lhe dizer que, como parte interessado, as fotos serão obtidas, pelo menos se ainda lá estiverem. Mas, o seu acesso a elas depende do que pretende fazer com a prova documental.
-Como assim?
-Se o seu interesse for somente obter justiça contra a pessoa culpada, conte comigo. Até lhe digo mais, uma vez que a minha firma está envolvida, terá de pagar os nossos serviços, mas eu suportarei metade dos custos. Mas se o seu interesse for vingança cega, não conte comigo. Quando para apanhar culpados se destrói inocentes pelo caminho, não vale a pena.
-Compreendo. Desde aquele dia no seu escritório, quando me fez menção a justiça ou vingança, que fiquei a pensar nisso. Quero sobretudo justiça. Não quero vir a sentir-me culpada por danos colaterais.
-Gosto de saber que estamos de acordo. E, voltando ao começo da conversa, não é por acaso que não estamos no meu escritório, ou em sua casa. Estamos aqui porque aquilo que vamos falar não é a maneira mais ética de fazer as coisas, mas será a mais eficaz.
-E o que propõe?
-Bem, nada disto interessa até termos as fotos em nossa posse. Com alguma sorte, isso ocorrerá nas próximas horas. Tenho alguém infiltrado na equipa de limpeza do edifício. Caso tenhamos as fotos deveremos tentar contactar com todas as partes visadas de forma privada, dar-lhes as fotos e o poder de decisão do que fazer com elas.
-Mas não acha que essas pessoas podem querer exercer alguma espécie de vingança, também?
-Claro que é uma possibilidade. Mas nós vamos dar uma saída que evite isso, tentando explicar as consequências de uma vingança cega. Mas no fim, não podemos ser responsáveis pelas atitudes de outros. Só as nossas. E se tivermos essas fotos comprometedoras, creio ser um dever, no mínimo, moral, de lhes entregar as fotos para que façam o que bem entenderem.
-Claro. – Respondeu Miranda embora pudesse prever claramente as consequências.
-Darei a todos a mesma opção que lhe vou dar a si.
-Que é?
-Liberdade.
-Como assim?
-Enquanto essas fotos existirem, poderão vir a lume. E é impossível saber se, nestes anos, não terão sido feitas cópias. No entanto, se aparecerem de propósito…
-Como assim?
-Imagine que o senhor Phillip Kane tem um súbito rasgo de consciência, não consegue viver com ele próprio e denuncia ele o antigo patrão, expondo a sua conduta e escudando o resto dos executivos da editora de repercussões…
-E porque faria ele isso?
-Sabe, quando o seu marido desapareceu, ele saiu da editora para uma empresa legal de alto gabarito, onde entrou de imediato como sócio, o que é muito invulgar. Acabou por conhecer e casar-se com a filha de um dos advogados sénior e herdeira de uma fortuna colossal. Em caso de divórcio, não tenho dúvidas que o sogro não só lhe acabaria com a carreira, como o deixaria destituído. Portanto, neste momento, o senhor Kane teria muito a perder. E pode vir a perdê-lo, se o sogro e a esposa vierem a receber alguns vídeos com as actividades que ele costuma ter nas sextas-feiras à tarde e que envolvem uma barrista ruiva.
-Ainda assim, acusar o ex-empregador não terá o mesmo efeito?
-Ele pode sempre alegar que contratualmente não poderia revelar nada que pusesse em causa e editora.
-E isso é verdade?
-É. Mas também é que se ele não acusar a editora, mas sim somente a pessoa… De qualquer forma, se ele o fizer e o problema se tornar público as fotos não terão peso algum. E podem até ter o efeito contrário, gerando simpatia pelas vítimas e pelo próprio Phillip. Ele vai ser o herói sensação das mulheres e jamais a mulher se divorciaria dele. Ia parecer mal. E entretanto os contractos assinados sob pressão poderão eventualmente ser renegociados… E todos ficam a ganhar menos uma pessoa.
-O culpado!
-Sim. Que me diz?
Mirada bebeu alguma da sua água e respondeu.
-Digo que, se calhar enquanto vítima, devia ser eu a contactar com as outras vítimas. Acredito que terão mais empatia comigo.
Marcus sorriu.
-Então, vamos ver se os deuses da boa fortuna nos bafejam com sorte e se as fotos aparecem ainda hoje…
Esse detective tem esperto nos cabeça!!..
ResponderEliminarOu seja, o autor da trama, que é quem?... :))
;)
EliminarAbraço, Janita :D