Rob conseguiu rapidamente uma equipa de trabalhadores. Apesar de ter perdido algum tempo a ensinar algumas coisas a alguns, parte deles tinha experiência em trabalhos temporários para operadoras de telecomunicações e estavam familiarizados com esquemas de cabos complicados. Os trabalhos seguiram com uma rapidez que surpreendeu todos, sobretudo com a equipa motivada pela promessa de um trabalho seguro e local em seguida.
Rob acabou por supervisionar as montagens de cabos e equipamentos espalhados pelo local, excepto a parte informática, que foi montada por uma empresa especializada.
Entretanto Cassandra e Tobias voltam de Lua-de-mel e o primeiro sítio onde foram, foi ao complexo, que ambos viram pela primeira vez, já não somente um edifício em betão, como Rob tinha visto, mas um complexo funcional e muito próximo de ser concluído.
Patrícia ia a passar perto da entrada quando os viu, com Cassandra já a pegar no telemóvel, de certeza para avisar Miranda, e dirigiu-se a eles. Tobias viu-a e fez sinal a Cassandra, que largou de imediato o telefone e abraçou Patrícia para a cumprimentar.
Ela levou-os através do complexo, oferecendo uma pequena tour pelo local, até ao sítio onde estavam Miranda e Rob, que ficaram surpreendidos. Depois dos cumprimentos Miranda e Cassandra começaram de imediato a pôr a conversa em dia, acompanhadas de Patrícia e Rob, vendo isto, agarrou no Tobias e levou-o até um dos estúdios que já estava pronto. Sentaram-se na régie e, enquanto Tobias olhava à sua volta admirado, Rob tirou uma cerveja do frigorífico e perguntou:
-O que é que achas?
-Então isto é que é um estúdio à séria!
-Sim, já viste as salas?
-Já. Já vi aquela bateria… Aquilo é topo!
-É! – Respondeu Rob e depois, como que lembrando-se, de repente, disse – Anda comigo. – E levantou-se, sendo seguido por Tobias.
Foram até à porta da tal sala, escondida no meio do complexo, Rob abriu a sala e fez sinal ao Tobias para entrar. Entrou atrás dele e deixou a porta fechar sozinha. Tobias estava parado a olhar para o conteúdo!
-Isto é a gruta do Ali Bá-bá? – Perguntou espantado.
-Quase.- Riu-se Rob – Digamos que é algo que foi deixado por um conhecido meu. – Acabou por dizer Rob piscando-lhe o olho – Mas o que te queria mostrar era isto… - e levou Tobias até um kit de bateria que estava montado num canto da sala.
Tobias olhou para o Kit.
-Muito bem. Nota-se que é vintage e que já viu alguma estrada…
-Isso é dizer pouco, para te ser franco. Adivinha a quem pertenceu este kit de bateria?
-Tobias olhou bem para o kit e de repente abriu muito os olhos e voltou-se para Rob:
-Não me vais dizer…
-Sim, esse mesmo.
Tobias ficou ali a olhar para o kit como se fosse um objecto religioso, digno de devoção. Ficou ainda mais aparvalhado quando Rob lhe estendeu um par de baquetas e lhe apontou o assento. Tobias sentou-se, deu uns toques meio a medo e depois perguntou a Rob, com o ar de uma criança de cinco anos:
-Posso?
-Dá-lhe!
E Tobias deu-lhe e ria a gargalhada enquanto tocava. Depois de tocar um pouco parou, olhou para o amigo, emocionado, e disse:
-Nunca pensei! Tocar na mesma bateria. Pá, nem sei que te dizer…
-Pois eu digo-te que devíamos passar a nossa sala de ensaio para aqui. Temos o espaço, os instrumentos…
-Então mas e o resto…
-A Miranda deu-me esta sala. Está completamente isolada. Podia estar a tocar uma banda de Death Metal aqui ao lado, e podia estar pessoal ao telefone aqui à porta e ninguém dava por algo que se passe aqui!
-Tens uma masmorra!
-É isso! Tenho uma masmorra! Claro que não podemos ir tocar com estes instrumentos ao vivo, mas podemos usá-los para ensaiar.
-Acho que o resto do pessoal vai gostar disto.
Rob sorriu.
-Olha lá, - continuou Tobias – e tu?
-E eu o quê?
-Como é que estás a lidar com isto tudo?
Rob suspirou.
-Boa pergunta. Nem eu sei, se queres que te diga. Levo as coisas um dia de cada vez. Sei qual é o objectivo, sei que vai fazer bem a muita gente,… Mas não sei se quando estiver tudo montado quero continuar a fazer parte, pelo menos como a Miranda gostava.
-Compreendo. – Disse o Tobias – Afinal tens a tua loja de música e cada bocadinho aqui aumenta mais a fila de pessoal que está lá acampado à porta, à tua espera…
-Pá, não gozes.
-Ouve uma coisa. Isto está em ti. Tu sabes disso. Acho que nunca disse a ninguém, mas no dia em que tu apareceste pela primeira vez num ensaio e ligaste a guitarra, o som que tiravas dela era espectacular. Sempre notei que estavas a tocar sem dificuldade, que as musicas que eram difíceis para nós eram fáceis para ti. Isto és tu, e está-te na alma, e tu sabes disso. E também sabes que é treta. Não te vais afastar.
Rob suspirou mais uma vez, a sentir as palavras do amigo a ressoar na sua alma.
-E a Miranda? – Continuou Tobias.
-O que é que tem a Miranda?
-Como é que as coisas estão?
-Onde estavam.
-Como assim? Vocês não falaram?
-Sim, de algumas coisas. E vemo-nos todos os dias aqui, e comemos no Zé, com a Patrícia.
Tobias abanou a cabeça.
-Pá, como calculas, eu e a Cassandra falamos muito nestes dias…
-Espero que não tenham só falado. – Interveio Rob.
-Fizemos intervalos. – Respondeu Tobias com um sorriso que parecia o de um gato que acabou de comer leite-creme. – Mas adiante, ela falou muito da Miranda.
-Calculo que sim. Já deves saber mais que eu!
-Pois. Por acaso tens noção daquilo que ela rejeitou nestes últimos 9 anos? Artistas, desportistas, empresários, bilionários… E alguns parece que bem insistentes. Mas, segundo Cassandra, ninguém teve hipótese, porque ela teimou sempre em mostrar a aliança e dizer que era casada.
-Ela só me disse que não teve ninguém neste tempo. Eu não pedi pormenores, porque francamente, não ia querer saber, e ela não os deu.
-Bem, agora já tens alguns.
Rob olhou de repente para o relógio.
-É pá. O tempo voa. Tenho de avisar o Zé…
-Não é preciso. Já o avisei e ele já sabe que vamos lá todos.
Saíram da sala e reuniram-se com elas, incluindo Patrícia, seguindo todos para o Zé, onde jantaram. Depois acabaram os cinco na casa de Rob enquanto o Tobias e Cassandra contavam as suas aventuras nos Estados Unidos. Tobias não gostou nada de Nova Iorque. – Não se vê o céu – dizia. Mas adorou os estados do interior e sobretudo o Grand Canyon e Monument Valley, cenário para inúmeros filmes de cowboys e Índios que passavam na televisão, na sua juventude.
Ao fim de algum tempo e muitas histórias, Tobias bocejou e voltou-se para Cassandra:
-Se calhar já íamos indo…
-Estás velho!
-Eu sei, mas já me apanhaste assim, portanto não podes reclamar. Patrícia, queres boleia?
Miranda, ao ouvir isto olhou de repente para ele, percebendo o que implicava aquela pergunta. Depois viu que Patrícia a olhava com um olhar inquiridor, de quem não sabia o que responder. E depois olhou para Rob, que olhava para Tobias com um olhar semi-serrado.
Tobias, por sua vez, e com a subtileza de um elefante, levantou-se, sendo imitado por Cassandra e disse:
-Anda Patrícia.
Esta olhou para os outros dois e, o mais discretamente que conseguiu, levantou-se e seguiu o casal, deixando Miranda e Rob sozinhos.
Miranda, sem saber muito bem o que fazer, começou:
-Rob, se quiseres eu posso ir indo também…
-Queres uma vodka-melão? Ou outra coisa qualquer… - perguntou ele.
Ela respirou fundo e descontraiu.
-Pode ser. Aquilo era bom.
-Mas… - disse Rob.
-Mas?
-…se beberes vais ter de passar a noite lá em cima. Com o que já bebeste até agora, mais isto… Ficas cá.
-Isso é um convite?
-É uma constatação. Posso arranjar-te outra T-shirt XXXL. Tens alguma banda preferida?
-Não, podes escolher tu. Nesse caso, podia ir tomar um duche?
-Podes ir. Eu vou buscar uma T-shirt. E preparar as Vodkas.
-Amanhã a Patrícia vai ter muitas perguntas…
-É provável. – Sorriu Rob
Ela seguiu para o duche, ele foi buscar a T-shirt rapidamente e deu-lha e foi preparar as bebidas em seguida. Ligou a televisão que deixou num canal de séries e quando ela saiu deu-lhe a bebida e o comando da televisão.
-Aproveito e também tomo já um duche.
Parou a meio do caminho, voltou-se para ela e disse:
-Sabes, ainda tenho a foto da última vez que te vestiste assim.
-Podes tirar outra, se quiseres.
E Rob tirou o telemóvel do bolso e apontou-o a ela, ela fez pose bem atrevida e ele tirou a foto. Guardou o telemóvel com um sorriso e seguiu para o duche.
Quando saiu, minutos depois, encontrou-a preguiçosamente estendida no sofá e beberricar a vodka e com o olhar dirigido à televisão, mas ausente. Ela deu pela sua presença e pareceu reanimar-se de uma forma languida. Ele sentou-se, pegou no seu copo e bebeu também.
-Sabes, aquelas fotos foram mesmo um ponto final. – Começou ele e ela despertou de repente e ficou séria – Com tudo o que andava à minha volta naquele momento, foram a gota de água que transbordou o copo. Tu não consegues sequer imaginar tudo o que me passou pela cabeça. Parti para não fazer nada estúpido, desapareci porque não queria voltar a ver-te e não queria ter nada a ver com aquela vida. Passei dois anos perdido. Reencontrei-me aqui.
Miranda olhava-o séria, sem saber o que dizer e com os olhos marejados.
-E passado este tempo consigo olhar para trás e ver o contexto das coisas. Mas, mais importante, consigo olhar para ti.
Miranda olhava-o sem reacção. Rob bebeu mais um gole de bebida.
-Comprei um escopro e um martelo. – Disse-lhe ele com um ar absolutamente sério.
Ela ouviu-o, ficou também séria algum tempo. Depois um sorriso sacana apareceu-lhe no canto do lábio e disse:
-Robert Mitchell, nestes anos todos já me fizeram as propostas mais tentadoras…
-Por mais incrível que te pareça, já se me constou.
Ela sorriu, deu mais um golo e continuou.
-…mas tu tens um jeito irresistível com as palavras. – Disse, enquanto se esticava languidamente no sofá, fazendo a T-Shirt subir pela sua coxa acima.
Rob levantou o sobrolho ante a visão que se ia revelando, bebeu mais um golo, pousou o copo e sorriu. A Patrícia ia ter mesmo muitas perguntas…
FIM
Tão bonita aquela interação entre os amigos Tobias e Rob!
ResponderEliminarQuando a felicidade de um amigo é tão importante quanto a nossa, isso é quase amor...
Gostei .
Obrigada, Gil!
Ainda pensei que viesses a referir o ecopro e o partelo... ;)
EliminarGosto que tenhas gostado
Obrigado
Abraço, Janita