sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Renascimento (XXXI de XL)

 Phil tinha mudado o local dos seus encontros secretos de sexta-feira à tarde para um motel. Seria mais seguro para os dois. Vinha sempre de transportes públicos para evitar que o seu carro fosse avistado naquela parte da cidade. 

Esperava já pela sua amante quando ouviu bater à porta do quarto. Levantou-se, abriu a porta cautelosamente e ficou desiludido. O mesmo tipo que nem se apresentara da outra vez estava ali, novamente. Mas desta vez nem sequer estavam num sítio publico. Phil sentiu medo.

-Então, Phil. Onde estão as suas maneiras? Não me convida para entrar?

Receoso, abriu a porta e o estranho entrou confiante. 

O estranho olhou em volta com um ar divertido. Era óbvio o objectivo destes quartos, alugados por períodos pequenos.

-Phil, espero que isole o colchão com plástico. Sabe Deus o que já por aqui passou…

O estranho evitou a cama e o sofá, pegando numa cadeira de plástico e sentando-se nela. Phil sentou-se no sofá, se bem que depois daquela observação do estranho, todo o ambiente lhe parecia um tóxico.

-Espero que não esteja surpreso por me ver. Na nossa primeira conversa disse-lhe que haveria mais coisas a falar, e cá estou eu.

Dito isto o estranho tirou um envelope do casaco que colocou em cima da mesa, fazendo sinal a Phil para o abrir.

Phil abriu o envelope e descobriu dezenas de fotos, arregalando os olhos ao reconhecê-las.

-Phil, sei que conhece bem as fotos que estão no topo. São as fotos de Miranda MaCallum que mostrou a Robert antes de ele desaparecer, não é verdade?

-Sim… - respondeu debilmente Phil, enquanto o sangue se esvaia da sua face.

-E as outras?

Phil foi passando pelas fotos e vendo que havia dezenas de mulheres retractadas.

-Sabia de algumas, - admitiu – mas não de todas.

-É justo. Sabe, até acredito em si.

Phil continuou a passar pelas fotos, sem saber o que dizer. Jamais lhe passaria pela cabeça ver algumas daquelas mulheres retractadas naquelas fotos.

-E agora chegou o momento que lhe disse que chegaria. Há que fazer uma escolha.

Phil começou a sentir suores frios. O estranho continuou.

-Por trás da porta numero um: Você vai denunciar esta situação toda à Procuradoria-Geral e à imprensa. Vai alegar que embora tivesse conhecimento, tinha zero provas. Vai alegar que uma fonte desconhecida lhe forneceu as provas e que a sua consciência não o deixa ficar calado. Vai acusar nominalmente o seu antigo patrão e tentar ao máximo escudar a editora das acusações.

-Isso pode arruinar a minha carreira. Estamos a falar de gente muito influente.

-Por outro lado, por trás da porta número dois, recusa-se a fazer alguma coisa em relação a tudo isto, o que é razoável para alguém na sua posição. Claro que provavelmente, se isso acontecer, a sua esposa poderá vir a receber provas irrefutáveis das suas actividades, bem com o seu sogro. E sabe bem o que isso lhe pode custar.

-Não pode fazer isso.- Respondeu Phil, quase à beira de um ataque de pânico.

-Meu caro, claro que posso. Portanto, porta número dois é ruina quase imediata. Mas alegre-se. Atrás da porta número um pode até estar algum prestígio. Nos dias de hoje será visto como um aliado das mulheres, ganhará a admiração dos média… No fim será difícil para a sua própria família não o ver como um herói. Pode-lhe causar alguns problemas? Sim. Mas não a ruina.

O estranho levantou-se e dirigiu-se à porta.

-Phil, dois conselhos: Acabe com as suas escapadelas e não pense em fazer nada de estupido. Tem uma semana para tomar uma decisão. Não voltaremos a falar. Serão os seus actos que determinarão o seu destino.

O estranho saiu, deixando Phil com o desconforto na alma, de não saber o que fazer, e o desconforto no corpo, parecendo-lhe o quarto uma zona de catástrofe. Até se sentia mal só de respirar. Saiu logo atrás do estranho. Quando chegou ao carro, depois de todo o caminho no metro, pegou no telemóvel e ligou. Assim que ouviu a voz feminina atender do outro lado disse:

-Olha, temos de falar…


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