Phil tinha mudado o local dos seus encontros secretos de sexta-feira à tarde para um motel. Seria mais seguro para os dois. Vinha sempre de transportes públicos para evitar que o seu carro fosse avistado naquela parte da cidade.
Esperava já pela sua amante quando ouviu bater à porta do quarto. Levantou-se, abriu a porta cautelosamente e ficou desiludido. O mesmo tipo que nem se apresentara da outra vez estava ali, novamente. Mas desta vez nem sequer estavam num sítio publico. Phil sentiu medo.
-Então, Phil. Onde estão as suas maneiras? Não me convida para entrar?
Receoso, abriu a porta e o estranho entrou confiante.
O estranho olhou em volta com um ar divertido. Era óbvio o objectivo destes quartos, alugados por períodos pequenos.
-Phil, espero que isole o colchão com plástico. Sabe Deus o que já por aqui passou…
O estranho evitou a cama e o sofá, pegando numa cadeira de plástico e sentando-se nela. Phil sentou-se no sofá, se bem que depois daquela observação do estranho, todo o ambiente lhe parecia um tóxico.
-Espero que não esteja surpreso por me ver. Na nossa primeira conversa disse-lhe que haveria mais coisas a falar, e cá estou eu.
Dito isto o estranho tirou um envelope do casaco que colocou em cima da mesa, fazendo sinal a Phil para o abrir.
Phil abriu o envelope e descobriu dezenas de fotos, arregalando os olhos ao reconhecê-las.
-Phil, sei que conhece bem as fotos que estão no topo. São as fotos de Miranda MaCallum que mostrou a Robert antes de ele desaparecer, não é verdade?
-Sim… - respondeu debilmente Phil, enquanto o sangue se esvaia da sua face.
-E as outras?
Phil foi passando pelas fotos e vendo que havia dezenas de mulheres retractadas.
-Sabia de algumas, - admitiu – mas não de todas.
-É justo. Sabe, até acredito em si.
Phil continuou a passar pelas fotos, sem saber o que dizer. Jamais lhe passaria pela cabeça ver algumas daquelas mulheres retractadas naquelas fotos.
-E agora chegou o momento que lhe disse que chegaria. Há que fazer uma escolha.
Phil começou a sentir suores frios. O estranho continuou.
-Por trás da porta numero um: Você vai denunciar esta situação toda à Procuradoria-Geral e à imprensa. Vai alegar que embora tivesse conhecimento, tinha zero provas. Vai alegar que uma fonte desconhecida lhe forneceu as provas e que a sua consciência não o deixa ficar calado. Vai acusar nominalmente o seu antigo patrão e tentar ao máximo escudar a editora das acusações.
-Isso pode arruinar a minha carreira. Estamos a falar de gente muito influente.
-Por outro lado, por trás da porta número dois, recusa-se a fazer alguma coisa em relação a tudo isto, o que é razoável para alguém na sua posição. Claro que provavelmente, se isso acontecer, a sua esposa poderá vir a receber provas irrefutáveis das suas actividades, bem com o seu sogro. E sabe bem o que isso lhe pode custar.
-Não pode fazer isso.- Respondeu Phil, quase à beira de um ataque de pânico.
-Meu caro, claro que posso. Portanto, porta número dois é ruina quase imediata. Mas alegre-se. Atrás da porta número um pode até estar algum prestígio. Nos dias de hoje será visto como um aliado das mulheres, ganhará a admiração dos média… No fim será difícil para a sua própria família não o ver como um herói. Pode-lhe causar alguns problemas? Sim. Mas não a ruina.
O estranho levantou-se e dirigiu-se à porta.
-Phil, dois conselhos: Acabe com as suas escapadelas e não pense em fazer nada de estupido. Tem uma semana para tomar uma decisão. Não voltaremos a falar. Serão os seus actos que determinarão o seu destino.
O estranho saiu, deixando Phil com o desconforto na alma, de não saber o que fazer, e o desconforto no corpo, parecendo-lhe o quarto uma zona de catástrofe. Até se sentia mal só de respirar. Saiu logo atrás do estranho. Quando chegou ao carro, depois de todo o caminho no metro, pegou no telemóvel e ligou. Assim que ouviu a voz feminina atender do outro lado disse:
-Olha, temos de falar…
Não há dúvida de que este Phil não pode estar a telefonar à esposa, mas que foi apanhado com a boca na botija, lá isso foi. Grande detective, sabe bem como agir. Vale bem o que a Miranda lhe pagar Sim senhor!
ResponderEliminarExcelente trama. Enigmático e misterioso, sem crimes nem polícias, só ladrões... :)
Bom fim de semana, GIl.
Abraço.
Ah, um àparte. Se puderes e quiseres ouve os vídeos do meu Luís sobre um tema muito pertinente. O medo!
ResponderEliminarEstá logo no cimo da barra lateral. Se quiseres aceder directamente aos vídeos basta que cliques e Watch the Series, se quiseres fazer parte da comunidade, basta preencher os 3 requisitos.
Gracias. :)
...curiosamente tenho um projecto músical que, por ora, tem o nome de agorafobia... ;)
EliminarPenso que todas as fobias sejam fruto de um medo irracional, mas que ninguém diga 'desta égua não beberei'. :( Esta de que o Luís fala no último vídeo: a gelotofobia, o medo do ridículo, ataca muitas pessoas que se têm de expôr ao julgamento alheio, por motivos diversos mas todos ligados à sua profissão.
EliminarIsto é o que eu penso, se o meu filho me lesse, provavelmente, diria não ser bem assim...:)
Tu enquanto escritor, nunca sentiste esse medo?
Obrigada, Gil!
Como já deves ter percebido, este comentário passou por baixo do radar... LOL
EliminarFobia é, por definição, um medo irracional, embora nos últimos tempos queiram mudar o significado à palavra, por motivos que transcendem o mais comum dos mortais...
Anyway, já tive, enquanto músico. A maior parte das pessoas não acredita, mas eu sou bastante introvertido, embora tenha aprendido atentar não o ser. Subir para cima de um palco À frente de 10.000 pessoas é um experiência que, para mim, era aterradora. Mas os medos enfrentam-se. Pega-se o touro pelos cornos.
Com o tempo esses medos irracionais foram sendo esbatidos até chegarem a um ponto em que deixei de me importar com o que os outros pensam. Há 9.000.000.000 no planeta. Seja o que for que faças, vais haver sempre algumas pessoas que te adoram, algumas que te odeiam e o resto que é completamente indiferente à tua existência. Tentar fazer algo unicamente para agradar a alguém é um exercício fútil. Até pode resultar a curto prazo, mas corroi-te por dentro, corroi a tua própria identidade.
Além disso, como não aprendi a não ter expectativas acerca de nada nem ninguém. Quando faço alguma coisa, faço e pronto.
Resumindo, sim já tive esse medo, mas perdi-o à chapada em cima de um palco. Perdi-o de tal forma que os acontecimentos do capítulo de amanhã tem muito de realidade, sendo eu o Tobias...
(isto é só para te acicatar a curiosidade)
Abraço, Janita
What a gripping piece! The tension and moral dilemma Phil faces really draw the reader in. The way you’ve crafted the stranger’s confident demeanor juxtaposed with Phil’s growing panic creates an intense atmosphere. I’m curious to see how Phil navigates this difficult decision and the consequences that follow. It’s a powerful exploration of choices, ethics, and the complexities of human relationships. Great job!
ResponderEliminarCheck out my new blog post and let me know what you think. Wishing you a happy weekend! (https://www.melodyjacob.com/2024/10/my-visit-to-hunterian-art-gallery-in.html)
Thank you ever so much. I will visit you link :)
EliminarAll my best wishes