quinta-feira, 23 de julho de 2015

Como ser um garanhão (edição especial para Marrões) - XIV

XIV – És a Mulher Maravilha, não és?

Eram sete da manhã quando dois despertadores, o meu e o da Lita acordaram a casa. A Lita, ao levantar-se de repente, mandou com a Cris para o chão, tendo esta batido com a cabeça e feito um pequeno golpe.
-Oh, Cris, Deesculpa! Mas, tás ferida!
-Isto não é nada, não te preocupes!
-Não, não, não! Pode ser muito perrigooso! Hoje ficas em casa, não vais trabalhar…
-Deixa de ser tonta, está tudo bem!
-Não! Uma pancada na cabeça é sempre grave – e, vendo o telemóvel da Cris pousado na mesa-de-cabeceira, agarrou-o e começou a varrer os contactos – Deita-te e deixa-te ficar quieta que eeu trago já qualquer coisa para comeres e liigo para o teu trabalho para avisar que não vais!
A Cris entrou em pânico.
-Não é preciso,… - disse de imediato, tentando chegar ao telemóvel - …eu depois trato disso…
-Não, eu insisto! – Respondeu a Lita, esquivando-se e agarrando bem o telefone.
-Mas eu não quero! - Disse a Cris já aos pulos, a tentar chegar ao telemóvel que estava bem, bem, bem lá em cima, na ponta do braço esticado da Lita, quase encostado ao tecto!
-Mas eu é que sei!
-NÃÃÃO! – e pôs-se a tentar trepar pela Acima, a ver se chegava ao telefone!
Entretanto, acabava eu de sair do quarto, ouvi toda esta comoção e, não fazendo ideia do que se passava e estando a porta do quarto aberta, fui até lá só para dar os bons dias…
…e dou com a Cris ao colo da lita, com as suas pernas à volta da cintura dela e uma mão num daqueles vastos bustos que, caso Miguel Ângelo ainda fosse vivo, certamente figurariam na capela cistina, toda esticada para cima, e devo ter tido alguma subida de tensão arterial porque, de repente, senti uma tontura, senti o chão a fugir-me debaixo dos pés e dei um tralho, tendo batido ao de leve com a cabeça no chão e feito um pequeno golpe!
-Ai, meu Deus! – Exclamou a Lita – é uma epidemia!
Largou de imediato o telemóvel da Cris, bem como a Cris, e veio socorrer-me, agarrando-me ao colo e levando-me para a cozinha, onde misturou um pouco de açúcar num copo de água e mo deu a beber!
-Carramba! Nuom sei porquê, mas este tipo de coisas está sempre a acontecer… sobretu-do com homens… se bem que ocasionalmente com mulheres também… mas curiosamente, nunca me aconteceu a mim! E a ti Cris?
-Uma ou outra vez, mas nunca com esta intensidade!
-Também vou ligar para o trabalho dele a dizer que ele não está em condições. E ainda tenho de ligar para o teu…
-Não precisas…
-Mas eu quero!
-Olha Lita, há uma coisa com que eu me sinto mal desde que nos conhecemos todos e está na altura de a dizer de uma vez e pronto!
-O quê? Aquilo de teres mamas pequenas? Não te preocupes, eu compreendo!
-Não, não tem nada a ver com isso! É que eu não tenho trabalho!
-Não tens trabalho? – Perguntei eu de repente, tendo aquela revelação sido o catalisador para me normalizar.
-Bem, quer dizer, sou guitarrista…
-Há!
-…mas despedi-me da banda há duas semanas, e sem haver concertos…
-Mas então como é que pagaste a renda?
-Bem, tinha umas economias, mas estão a acabar…
-Temos de resolver isto de imediato!
-Mas porquê?
-Porque se a senhoria descobre, põe-nos a todos na rua! – e depois sussurrei – O raio da velha é maluca… É sobrenatural, mesmo! Vocês não fazem ideia! Ela vê tudo! Ela sabe tudo! É uma bruxa, é o que é! Aliás, temos de nos despachar e resolver isto, mesmo, antes que ela nos bata à porta…
-Tás a exagerar…
-Não tou não! Ela não é humana! Uma ocasião, estava a chover a potes e eu, ao entrar no prédio, sem querer, deixei uma pegada molhada junto à porta… Uma coisa de nada certo?
-Pois…
-Acreditem, ela perseguiu-me pela cidade inteira e foi-me encontrar no armário das limpezas de um restaurante coreano do outro lado da cidade para me dar um raspanete. Temos mesmo de resolver isto! Lita…
-Sim?
-Agarra na Cris e leva-a para o carro. Vamos!
-Mas eu nem tenho as chaves comigo, estão no meu quarto…
-Eu vou busca-las. Estão onde?
-Na comoda, na gaveta das minhas cuequinhas…
-Sigam que eu vou já atrás!
A Lita saiu a correr, com a Cris ao colo, visto que ainda achava que ela estava muito frágil por causa do pequeníssimo golpe, tendo eu saído logo atrás, com as chaves na mão e pronto para accionar no comando antes de elas lá chegarem. A Lita depositou a Cris no banco do condutor com todo o cuidado e eu entrei no carro no carro e lacei as chaves à Cris, enquanto gritava:
-Vai, vai, vai!
Já tínhamos arrancado quando a Lita, que ia no banco de trás, leva a mão ao bolso de tras das minhas calças e retira umas cuequinhas, dizendo-me:
-Isto estava quase a cair…
A Cris olhou e viu uma das suas cuecas.
-Olha lá, mas aproveitaste para me gamar umas cuecas?
-Não… Não, de maneira nenhuma,… - respondi eu, nervoso – Vieram presas às chaves e eu soltei-as pelo caminho e pus no bolso só para não as perder…
-Pois, pois… Conta-me histórias! Mereces um castigo!
-Um castigo?
-Sim! Vais ter de as usar!
-Que fixe! – disse a Lita – Adooro ver um homem com cuecas piquininas!
-Bem, discutimos depois o meu castigo, agora vamos ao que interessa!
Fui dando indicações de direcção à Cris e, uns cinco minutos depois, chegamos ao nosso destino. Elas olharam para o letreiro e olharam para mim em seguida, tendo a Cris verbalizado a pergunta:
-O que é que estamos a fazer à porta da BD’r’us?
-Eles estão sempre à procura de raparigas para estas lojas. Chamam-lhes de “Docinho”!
-Eu aadoroo doces! – disse a Lita com uma expressão de contentamento.
-Explica lá isso…
-Bem, é assim, uma miúda num balcão de uma loja destas é um chamariz para os marrões, visto que estes assumem automaticamente que têm uma hipótese com elas, por isso passam aqui a vida e a única justificação para isso é comprarem BD’s. É assim que estas lojas sobrevi-vem!
-E o que te diz que me dariam um emprego aqui?
-Dois motivos: primeiro, és punk rocker, o que os marrões curtem punk rockers porque fazem lembrar as heroínas manga; segundo, conheço bem o gerente e a ultima miúda que trabalhou aqui despediu-se a semana passada, portanto…
Ela encolheu os ombros e entramos…
…o que deixou a loja como que suspensa no tempo, com todos os clientes parados, embasbacados de boca aberta a olhar para a Lita. Eu fui directo para o balcão para falar com o Rui, o gerente e elas ficaram junto à porta de entrada, cercadas por um círculo de marrões!
Por fim, um deles lá se achou capaz de articular palavras e perguntou à Lita:
-És a Mulher Maravilha, não és? Chamas-te Diana Prince?
-Pá,… - disse outro marrão - …não vês que ela é loira?
-E então? As Semi-Deusas não podem pintar o cabelo, é?
Eu, entretanto falava com o Rui.
-Pá, é a miúda ideal para teres aqui.
-Ai é? Então tenho um teste para ela. Se passar começa amanhã!
-Ok! Qual é o teste?
-Tem de vender pelo menos um deste livros – e passou uma pilha de livros para as minhas mãos!
-Tás a brincar, vender isto? O Formiga Amarela, o pior super-heroi de sempre?
-Ya! Nós nem as conseguimos dar, mas se ela conseguir vender um…
Voltei para junto delas com os livros e expliquei a situação à Cris.
-Ai é? É só isso?
-Pá, ya, mas digo-te já que não vai ser fá…
Mas ela já nem me ligou, voltou-se para um dos marrões:
-Tu, marrão, se comprares um destes livros, dou um beijo à loira!
-Cris…!!! – exclamou a Lita surpreendida.
-O quê, não me ajudas a conseguir o emprego?
-Maas eu sempre achei que os rapazes achavam que duas raparigas a beijarem-se era muito erótico…
-Sim, mas é só uma vez…
-Tá bem, pronto!
E a Lita deu um repenicado beijo na testa à Cris, o que provocou um enorme desapontamento nos marrões todos!
-Pff! - Disse o marrão interpelado – Só isso?
E volta-se a Lita para a Cris:
-Não me parece que eeles tenham chaado erótico…
-Isso foi porque fizeste mal a coisa… - respondeu a Cris, atirando-se a ela e pregando-lhe com um beijo lésbico daqueles que só tinha visto até então em filmes da minha artista porno preferida, a Tisha Montes…
E, de repente, o ambiente na loja tornou-se frenético, com todos a quererem um exemplar da pior banda desenhada jamais feita e com o Rui a dizer que não vendia a ninguém, que ficava com os livros todos para ele.
-Quando as duas se largaram a Lita estava com um ar atónito e a Cris limitou-se a perguntar ao Rui:
-Quando é que começo?

2 comentários:

  1. Contra factos não há argumentos- O emprego é da Cris :))

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  2. noname,

    E neste caso não há dúvidas, nem pode haver!

    :)

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