terça-feira, 21 de julho de 2015

Como ser um garanhão (edição especial para Marrões) - VI

VI – “Mas não te cheira a manteiga?”

-Ok! Ainda não chegaste ao fim, mas de certeza que já viste alguma acção, não? Assim tipo, uma mão na coisa, uma coisa na mão…?
-Não.
-Hum! Então e assim umas caricias só no tronco, passares a mão assim num peito despido… - e olhou para mim, que estava, por esta altura com os olhos no chão - …ou por cima da roupa…?
-Nem por isso…
-E uns beijos com língua pelo menos?
Nem respondi.
-Sem língua?
Continuei mudo.
-Pá, pelo menos já deste a mão a uma rapariga?
Ficou um silêncio estranho e, como eu esperava, ela olhava para mim como se eu fosse um animal raro, ou até mesmo um extraterrestre.
-Mas…? – E eis que fomos interrompidos pela entrada jovial e de rompante do Abel.
-Olá meus queridos. Cheguei, e trago uma prenda que é óptima para ambos, como prenda de despedida…
-O Francisco não veio contigo? – Perguntei eu constatando o óbvio e fazendo assim uma retirada estratégica.
-Não, vem mais tarde. Teve de passar pela casa nova e eu vim à frente. Vejam lá o que eu trouxe para vocês… - e colocou um livro de banda desenhada entre os dois.
-Um Manga Yaoi. O Alfredo adora Manga e o tema tem muito a ver com os gostos nocturnos da Cris, não é verdade?
A Cris corou e eu aproveitei a deixa.
-Explica lá isso?
-Ah, pois, tu não deves saber… - respondeu o Abel – …mas na segunda noite que ela cá passou, eu e o Chico chegamos mais tarde. Bem, vínhamos com uma vontade… Entramos no quarto e nem ligamos a luz, as roupas voaram…
-Ai sim? – Perguntei eu.
-Foi! Ele tava um animal… - e suspirou com um ar sonhador - Mas adiante, a roupa voou, e nem houve preliminares, empurrei-o para a cama, subi para cima dele…
-Pá, calma… Pormenores a mais, ok?
A Cris continuava calada e corada que nem um tomate maduro.
-Mas são necessários e já vais perceber porquê, senão não contava! Não sou um desbocado, ok?
-Pronto, desculpa lá!
-Ok. Mas onde é que eu ia? Ah! Subi para cima dele e aquilo deslizou… e eu voltei-me para ele e disse “Detesto quando trazes a manteiga! Sabes bem que tirar essas nódoas é quase impossível” e ele parou e disse “Mas eu não trouxe manteiga!” e eu “Mas não te cheira a manteiga?” e ele “Bem, agora que falas nisso…” e nisto ouvimos uma espécie de restolhar e acendemos a luz da mesa-de-cabeceira. Ela estava num cantinho do quarto a ver-nos e a comer pipocas…
Fiquei estático a olhar para ela como que a perguntar…
…sei lá o quê, sinceramente!
Ela olhou para mim e disse baixinho:
-Queres o quê, sempre tive panca por ver dois gajos juntos…
E eis que ela é salva pelo gongo, ou no caso pela chegada da Lita.
-Olá meus queridos…
…e o Abel olha para ela, de repente, e podia jurar que, por muito gay que fosse passou-lhe muita coisa pela cabeça ao vê-la, sendo que uma delas, talvez a menos importante mas provavelmente mais estranha foi a que ele verbalizou baixinho, quando disse entre dentes:
-Deus meu! Será que dão leite?
-Lita, querida,… - desta vez foi a Cris a aproveitar a saída - …já chegaste. Estamos agora a começar a carregar as coisas dos ex-moradores. Olha, este é o Abel.
Entretanto eu, que parecia ser o único interessado em fazer alguma coisa, agarrei uma das caixas do Abel e levantei-a, constatando de repente que era demasiado pesada para eu levar sozinho.
-Olá Abel, sou a Lita.
-Não és de cá, pois não
-Pessoal,… - tentei eu interromper - …precisava aqui de uma mãozinha! – Mas não tive sucesso.
-Não, sou da Svecia!
-Bem, lá que fazes lembrar uma Viking…
-Pessoal,… - voltei eu a insistir - …acho que as minhas vértebras se estão a fundir…
-Oh, desculpa,… - disse a Lita dando-me de repente atenção - …eu ajudo! – E tirou-me a caixa das mãos com a maior das facilidades, levando-a para fora! Eu e o Abel ficamos sem fala!
-Fosga-se! Ou ela é muito forte ou eu sou muito fraco!
O Abel fez um pequeno sorriso e disse:
-Ou então ela tem ali mais alguma coisa a abanar do que aquelas ancas sexy!
-Hã?!
-Pá, é um trans…
A Cris limitava-se a observar a conversa, olhando muito séria para a Lita à medida que ela, sozinha, ia entrando e saindo, levando as caixas todas sem grande esforço e isto em cima de uns saltos agulha nada modestos e que a faziam ter quase dois metros de altura.
-A Lita? Com aquele corpo? Não pode!
-Ai pode, pode! Nem fazes ideia do que as plásticas conseguem fazer hoje em dia… Nunca foste ali para as bandas da praça do Chile? Vêem-se bastantes por ali e algumas ficam… - e suspirou – Já que falamos nisso, se calhar também era um bom look para ti…
A simples ideia aterrorizou-me e senti um calafrio, mas pus a imagem mental de lado.
-Não! Não pode! – Dizia eu vendo o mais fabuloso corpo feminino do mundo ali à minha frente de um lado para o outro – Ainda ontem eu…
-Ainda ontem tu o quê? – Perguntou de repente a Cris, aproveitando-se do meu embaraço.
-Nada, nada…
-Podes dizer à vontade! Não é propriamente um segredo. – Atalhou o Abel – Aliás, eu e o Chico costumamos a usar os teus suspiros como banda sonora… Abre-nos o apetite!
A Cris ria à gargalhada…

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