sexta-feira, 10 de julho de 2015

Como é que eu perdi o meu respeito pela política partidária!

Esta é uma história triste, tão triste que aviso desde já, não vá alguém ter problemas com os sacos lacrimais e causar alguma inundação!
Há muito, muito tempo atrás, tanto que os Trovante ainda existiam e o Cavaco era Primeiro-ministro, tive uma professora de Direito.
Era estranho ter uma professora de Direito. Afinal, pau que nasce torto… Talvez esta fosse uma tentativa desesperada dos deuses de me endireitar. Como podem constatar, não funcionou!
Podia ter sido um aluno brilhante a Direito! Sacava notas sempre acima do 13 e nunca sequer li algo do livro e passava as aulas entretido a escrever letras em inglês para hinos de Heavy Metal que, se alguma vez tivessem sido compostos, por certo me teriam posto ao nível dos Metallica no panorama da música internacional! Infelizmente na altura apenas tinha uma guitarra de caixa tão ou mais velha que eu, pelo que distorção era coisa que não me assistia…
…mas adiante! Dizia eu que podia ter sido um aluno brilhante. Bastava para isso que aquilo me interessasse minimamente, mas como não interessava, fiquei-me pela mediania, sítio onde me sentia confortável. Basicamente, esforçava-me o suficiente para não me lixarem a pinha!
Já a “Stora” parecia ter como missão no mundo tornar-nos cidadãos responsáveis e envolvidos na coisa comum. Mas ela estava na margem sul, em terra de metaleiros.
Era uma pessoa muito politicamente correcta. Lembro-me de alguns episódios interessantes, provocados pela minha desatenção à aula, como por exemplo quando ela um dia, no meio da aula e interrompendo o meu raciocínio sobre o que quer que fosse que eu estava a fazer e que nada tinha a ver com a mesma, me perguntou se eu sabia o que é que o PM tinha ido fazer, no âmbito da sua visita oficial, a Marrocos, tendo eu disparado de imediato e sem pensar que devia ter ido fazer o que qualquer gajo ia fazer a Marrocos na altura: Comprar tapetes e coisas de cabedal ao preço da chuva…
…ou quando me perguntou o que se deveria fazer quando o presidente da república morria em funções e eu respondi que convinha enterra-lo…
…o que deixou a sala às lágrimas e o ar mais irado que alguma vez vi numa professora, o que me levou a recear pela minha integridade física, desbobinando logo a seguir todos os procedimentos segundo a constituição, rosnando-me ela em seguida “A parte do enterro é que era escusada!” e tendo eu respondido “Pois, mas se não se tratar disso o homem ainda começa a cheirar mal…” o que me valeu um encurtamento do tempo de aula…
Como a história já vai longa e já ninguém sequer vai chegar aqui, passo então ao prato principal. A dita Senhora resolveu que a melhor maneira de nos inculcar alguma consciência cívica nos nossos cérebros adolescentes carregados de hormonas era levar-nos numa visita ao palácio de São Bento.
E adorei a visita, pelo menos a primeira parte! Andamos a percorrer o palácio durante a manhã e é lindíssimo!
Depois, como bons moços da margem sul que raramente atravessavam a ponte, junta-mo-nos num bando e fomos galar gajas para as Amoreiras, onde almoçamos. Voltámos depois ao palácio para assistir ao plenário…
Já na camionete de volta a “Stora” chega-se ao pé de mim e perguntou:
-Então? Gostou? – Ela tratava-nos por você.
-Achei o palácio lindíssimo!
-Mas e o plenário? Ver a democracia a funcionar?
-Não gostei!
-Não? Porquê? – Perguntou ela muito admirada, olhando para mim de cima para baixo com os óculos na ponta do nariz.
-Porque metade dos deputados estava em parte incerta. Dos que estavam alguns tinham claramente melhores coisas para fazer, uma vez que passavam a vida a entrar e sair do plenário. Achei ridícula a cena da Natália Correia… - Esta merece interrupção: estava uma gajo qualquer a falar acerca da acidez dos limões nesse ano quando, de rompante, a Natália Correia entra pelo hemiciclo e se senta no seu lugar de forma bastante, digamos, afirmativa e assim que o tipo se calou ela pediu a palavra e perguntou “Gostaria de saber porque é que a assembleia da república não vai comemorar o 25 de Abril este ano”, o que tinha tanto a ver com aquilo que estava a ser discutido como eu começar aqui agora de repente a dissertar sobre os quadros de Salvador Dali, ao que o presidente da assembleia, depois de um sonoro suspiro, respondeu que era assim por causa da deliberação da assembleia num dia em que ela não esteve presente e ela respondeu “Então quero aqui expressar o meu voto de protesto” ao que o outro respondeu “está anotado” e ainda ele não tinha acabado já ela saía como entrou fazendo com que todos se esquecessem da importância da acidez dos limões - …e levar com uma hora de discurso Dr.ª Edite Estrela, no mais correcto português que alguma vez ouvi, mas em que ela não disse absolutamente nada e ainda foi aplaudida pela meia dúzia de gatos-pingados que não tinham adormecido, foi dose!

A “Stora” talvez apercebendo-se do seu erro, nada mais me disse. E eu, desse dia em diante, perdi qualquer esperança que de São Bento alguma vez saísse algo de jeito…

4 comentários:

  1. Afrodite,

    LOOOOOOOOOOOOOOOOL

    Ya, há quem diga que eu já nasci a refilar...

    (tu leste isto?! e eu a julgar que este era daqueles que passava por baixo do radar, sobretudo com a pérola que está logo acima...)

    :)

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  2. Acredito que o palácio seja bonito, quanto ao resto aplaudo de pé, aquela gentinha é deprimente mas, e enquanto deixarmos, são a água e nós o mexilhão, resumindo, tamos lixados.

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  3. noname,

    É magnífico!

    Estamos lixados e com um "F" capital...

    :)

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O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!