segunda-feira, 8 de abril de 2024

Conscientização - XXXV

 Finalmente acordou. O seu corpo estava pesado, tanto que não lhe apetecia mexer-se ou sequer abrir os olhos. Foi-se apercebendo que os lençóis estavam completamente húmidos, molhados, ensopados mesmo e sentia todo o corpo transpirado, como se tivesse acabado de fazer algum exercício intenso debaixo de um calor abrasador. A sua cabeça latejava com uma dor lancinante que parecia querer fazer rachar o seu crânio ao meio, estava mal disposta, sentia uma sede tremenda mas levantar-se para ir beber água parecia-lhe impossível.

Abriu os olhos finalmente e teve de fazer um enorme esforço para perceber onde estava, dando-se conta que estava na cama do quarto da penthouse de César. Percebeu também que estava completamente nua por baixo dos lençóis.

As memórias assaltaram-na de repente, chegando como uma torrente, e corou, fechou os olhos tentando fazer com que desaparecessem, mas tornaram-se ainda mais vívidas na sua mente. Como é que ela fora capaz?

 

***

 

César vestira-a atabalhoadamente junto à porta da mansão e levara-a para o carro sem uma única palavra. Arrancaram e ela estava deslumbrada com a paisagem, com as sombras que o luar provocava, com a sensação da pele dos estofos contra o seu corpo, com César… Ele estava lindo, elegante, charmoso, o contacto com a sua pele era quase eléctrico e ele apetecia-lhe tanto. Estava agitada, não lhe apetecia estar quieta no assento, nem encerrada no carro, queria sair, correr…

- Estás zangado comigo?

César olhou para ela e ergueu o sobrolho. Talvez estivesse mesmo zangado, ou apenas estranhasse o tratamento informal.

- Não, não estou. Disse-te que ali eras livre de fazer o que entendesses e que nunca te iria censurar. Quanto muito estou surpreso. Sentes-te bem?

- Tão bem! Estou feliz.

Cesar deixou-se ficar um pouco em silêncio.

- Achas-me atraente?

César voltou a olhar para ela com um ar absolutamente surpreendido, mas respondeu.

- Acho.

- Gostavas de fazer amor comigo?

Cesar parou o carro, encostando-o na berma com muito cuidado, visto que era muito baixo. Depois virou-se para ela.

- Andreia, o que é que aconteceu lá dentro?

- Não sei. Estava a falar com a Julia quando me senti tão em paz…

- Com a Julia?

- Sim. Ela é tão linda, não é?

- Deu-te alguma coisa?

- Só um cocktail, mas sem álcool. Chamava-se “Virgin Marguerita”. Ela até disse que me assentava bem.

O ar de César passara de surpreendido a grave, e depois a furioso.

- Estás zangado comigo? – Perguntou novamente ao vê-lo assim.

- Já te disse que não. – Tirou a sua cigarreira de prata do bolso, tirou um dos seus cigarros de erva, acendeu-o e deu-lho para a mão – Fuma. – Ordenou – Vai fazer-te ficar menos irrequieta e vai evitar que se te abram buracos no cérebro.

Ela imaginou um cérebro cheio de buracos e desatou a rir à gargalhada. Pegou no cigarro e deu uma passa longa. Deu outra e passou o cigarro a César, que apenas deu uma passa curta e lho passou de volta.

- Não me respondeste, há pouco. Gostavas de fazer amor comigo?

- Não.

- É porque não me achas atraente?

- Não, é porque estás completamente carregada de Extasy ou outra porcaria semelhante, o que só por si é mais que motivo. Já te disse que és uma mulher atraente. Agora acaba de fumar e sossega. – Disse César ao mesmo tempo que arrancava com o carro.

O efeito de erva fez-se sentir e Andreia relaxou finalmente, embora as sensações continuassem ao rubro, se calhar ainda mais intensificadas. Apenas a ansiedade tinha desaparecido. Tiveram de parar algumas vezes pelo caminho, não só para reabastecer o carro, mas também para comprar água para Andreia, que parecia ter uma sede que não tinha fim.

Chegaram, por fim, à penthouse, mas Andreia estava, apesar de mais relaxada, demasiado eléctrica para se ir deitar. César, com uma enorme paciência, fez-lhe companhia enquanto esperava que a droga começasse a sair do seu sistema.

- É verdade o que a Julia me disse?

- Não sei. Teria de saber o que a Julia disse.

- Disse que se fizessem um clube dos corações partidos por ti seria difícil encontrarem um sítio para fazerem os encontros…

- Creio que difícil não seria. Pouco prático, talvez.

- Mas é verdade?

- É. Já fui muito mau rapaz.

- E já não és?

- Acho que não.

- O que é que aconteceu?

- A vida, o mundo, as circunstâncias… Aconteceu muita coisa.

- Arrependeste-te do que já fizeste?

- Não. Qual seria o objectivo de me arrepender? Mudava alguma coisa?

Andreia sorriu.

- Pois, realmente não muda nada.

- Pois não. Só te faz carregar um peso atrás sem qualquer objectivo prático. Se fizeste algo que não foi bem feito, não voltes a fazê-lo. Lamentares-te não vai alterar o que já fizeste.

- Sabes porque é que te perguntei se querias fazer amor comigo?

- Porque estás drogada. Caso contrário não perguntarias.

- Não foi só por isso. Cesar encarou-a.

- Então?

- Sabes, toda a vida tive muito pouco. Dediquei-me aos estudos que os meus pais pagaram com dificuldades, vivi pouco, tive poucos namorados e os que tive sempre foram… Nem sei…

- Insalubres?

Andreia olhou para ele e riu com vontade.

- Bela palavra. Nunca tinha pensado nisso, mas sim. O sexo sempre foi algo que não me disse nada porque não havia grande coisa a dizer. Cinco minutos com um tipo em cima de mim, a arfar, e acabou. Nunca percebi porque é que tanta gente falava de sexo da maneira como falava, de que era tão bom, de como era bom, das sensações… Hoje, se calhar por causa da droga, ou do ambiente, ou fosse do que fosse, senti! Mesmo! E percebi que o problema nunca esteve em mim. Apenas nunca tive um homem a sério, que me fizesse ir ao sétimo céu…

- Hás-de ter. – Disse César com um sorriso quase paternal.

- Eu sei… Mas hoje com tudo o que se passou… Adorei os toques de todos aqueles estranhos, os beijos, as línguas no meu corpo e se não aparecesses tinha-me oferecido de bom grado.

- E acredita que te teriam tomado de bom grado também.

- Hoje senti, pela primeira vez, e ainda sinto. O toque do tecido electriza-me, o contacto com a tua pele deixa-me fora de mim…

- Andreia, sabes que é a droga a falar, não sabes?

Embora com um sorriso de felicidade extrema no rosto, as lagrimas começaram a soltar-se dos olhos dela.

- Não sei se é só a droga…

- Um dia vais encontrar alguém que se vai verdadeiramente apaixonar por ti e que te vai dar tudo aquilo que mereces e precisas. Eu não estou apaixonado por ti…

- Nem eu por ti. Juro. Mas esta noite foi tão estranha e ao mesmo tempo tão mágica… Apenas queria sentir… por uma vez que fosse… Olhava para César, com as faces banhadas de lágrimas, apesar de se sentir plenamente feliz e sem perceber o que se passava consigo e esperava uma reacção dele.

- Não dizes nada?

Cesar ficou a olhá-la com a expressão enigmática e séria que tinha a maior parte do tempo. Tinha perdido o ar paternal e era impossível descortinar-lhe os pensamentos.

- Digo que está na altura de ires tomar um banho e vestir outras roupas. As tuas estão completamente ensopadas em suor e até o teu cabelo está molhado.

Ela assentiu, sentindo uma pontada de tristeza, e seguiu para o seu quarto para poder tomar um duche, vendo ainda César tirar outro dos seus cigarros da cigarreira de prata e acendê-lo. Tomou o seu banho, calmamente, a desfrutar como nunca a água que lhe escoria pelo corpo e que causava sensações que quase a punham a delirar, pequenos formigueiros eléctricos, não conseguindo conter um ou outro gemido. Apeteceu-lhe tocar-se, mas resistiu a fazê-lo.

Saiu do banho sentindo-se mais fresca, tirou o excesso de água do cabelo com a toalha, secou-se, vestiu um robe, que deixou aberto e voltou à sala. César tinha diminuído as luzes e estava de pé em frente a uma das enormes vidraças a observar as luzes da cidade que se perdiam no horizonte. Caminhou silenciosamente e ficou no meio da sala esperando que ele desviasse a sua atenção da paisagem. Quando ele finalmente o fez, deu com ela nua, no meio da sala, a encará-lo.

- Um dia. Uma noite. Esta noite. É só o que te peço.

César fitou-a com aquela expressão enigmática impossível de decifrar, mas neste momento Andreia apenas pensava que não havia nada a perder. O não estava já garantido.

- Tens noção – perguntou César – que o mundo irá continuar e que amanhã terás de lidar comigo como sempre lidaste até aqui?

Ela acenou em assentimento.

César caminhou até ela e parou, quase encostado a ela, a sua expressão inalterada e pese embora a proximidade, não fez qualquer gesto, apenas ficou a olhá-la fixamente nos olhos.

Parecia ter passado uma eternidade quando ela levantou a mão, levando-a ao colarinho dele e retirando o laço que pendia desapertado, largando-o em seguida para o chão e, não vendo qualquer reacção da parte dele, começou a desapertar os botões da camisa, um a um, com toda a calma do mundo, apreciando um momento que se adivinhava irrepetível, e, chegada ao fundo, desapertou o cinto e o primeiro botão das calças para soltar a camisa, desapertou-lhe os botões de punho e fez deslizar a camisa expondo-lhe o torso e fazendo-a cair também no chão, ajoelhou-se, desapertou os atacadores de um sapato e depois do outro e quebrou finalmente a imobilidade dele, fazendo-o levantar os pés para que o descalçasse, repetiu o processo com as meias, acabou de desapertar as calças, fê-las deslizar até ao chão, contando novamente com a colaboração dele para as tirar, ergueu-se, olhou os olhos que ardiam com uma intensidade que ela nunca lhe tinha visto e que ainda não se tinham despregado dela, fez deslizar o robe pelos ombros deixando-o também cair, parou a olhar um pouco para ele, a admirá-lo, ajoelhou-se novamente e fez deslizar até ao chão a ultima peça de roupa dele, revelando-o, olhou-o, levantou a mão até à altura do peito dele e colocou-a contra a pele e sentiu quase um choque de electricidade a percorre-la, deixou a mão deslizar por ela sentindo a sua pele e finalmente tocou-o, envolveu-o com a sua mão, sentiu a textura, a suavidade e apeteceu-lhe prova-lo, coisa que nunca tinha feito a ninguém, aproximou os seus lábios e depositou um beijo suave na glande, adorou o sabor, a sensação, abriu os lábios e fê-lo deslizar para a sua boca, sentindo-o a pulsar entre a língua e o palato, fê-lo deslizar enquanto o sugava, sentiu a mão dele a afagar-lhe o cabelo com suavidade, sentiu a excitação dele a crescer, sentiu a maneira como o seu corpo se electrificava à medida que lhe dava mais e mais prazer, sentiu-o a começar a ficar contraído, sentiu a mão a agarrar-lhe o cabelo e a puxá-lo, forçando-a a abandonar o que estava a fazer e a pôr-se de pé, os braços dele a envolvê-la, os lábios a colarem-se aos seus, a língua a invadi-la e a enlear-se na sua, as mãos a deslizarem nas suas costas lançando sensações estranhas por todo o seu corpo e ele quebrou o beijo, levantou-a do chão, levou-a para o quarto, depositou-a na cama, deitou-se ao seu lado, beijou-a com uma intensidade suave e sem urgências, acariciou-a fazendo as mãos percorrerem todo o seu corpo, massajou-lhe os seios com suavidade, fazendo os seus mamilos erguerem-se e endurecerem, quebrou o beijo apenas para colar a boca ao seu mamilo que sugou suavemente, fazendo a língua descrever arabescos que a obrigaram a aprofundar ainda mais a respiração, voltou a colar os lábios aos seus enquanto a mão dele descobria a humidade do seu lugar mais íntimo, fixando-se depois no ponto acima e começando a fazer suaves círculos num movimento propositadamente lento, deliberadamente lento, angustiantemente lento que a faz querer mais, muito mais, que a obriga a ondular as ancas ao mesmo ritmo, que a deixa quente, e sem qualquer aviso a intensidade aumenta aos poucos, a cada movimento, e aos poucos acelera, como se ele soubesse o que ela quer, quando ela quer, e fála ter um orgasmo doce e eléctrico, calmo mas intenso, que a leva a pôr a mão por cima da dele e a pará-la, apertando-a contra si e solta-a e ele continua os movimentos, começando lento, esperando que o corpo dela responda novamente o que não demora, e começa a acelerar, mais, e mais, e mais levando-a muito rapidamente a um novo clímax, desta vez mais intenso, mais brutal, fazendo o seu corpo arquear, até a sensação quebrar e ela se deixar cair, e abraça-se a ele, beija-o com intensidade, tesão, luxúria, inebriada por sensações que nunca tinha vivido, e ele faz o dedo médio deslizar na sua humidade, depois também o anelar e começa a entrar nela devagar, sentindo-a apertada e a dilatar, um vaivém lento e suave, que ele mantem lento e vai aprofundando fazendo com que os seus gemidos se tornem mais audíveis, a sua respiração mais forte e ela fecha os olhos, sente os movimentos acelerar, cada vez mais, arrastando-a para um lugar dentro de si, desconhecido dela até hoje, onde os pensamentos se ofuscam e apenas existem sensações de prazer e deleite e ele fá-la explodir enquanto ouve ao longe gritos de prazer que são seus e a sensação dura, muito mais tempo que ela poderia imaginar, uma eternidade que acaba depressa demais, abre os olhos – Quero-te! – diz, olhando-o nos olhos enquanto o agarra com a mão, mimando-o, sentindo a sua pujança, e vê o sorriso nos olhos dele, o ar de um miúdo que vai fazer a maior das travessuras enquanto ele se levanta, sem tirar os dedos de dentro dela, deixando-os bem fundo, pressionando o seu ponto mais sensível com a palma da mão e se ajoelha ao lado dela, coloca uma mão na parte baixa do ventre, faz pressão e começa a movimentar os dedos, não num movimento de vaivém, mas dando toques rápidos e intensos, por dentro, na direcção do seu ponto mais sensível, e vai aumentando a rapidez e a intensidade, o corpo dela acompanha-o, como se lhe pertencesse, o raciocínio foge-lhe, a intensidade das sensações é demasiado forte e, quando ela já nem consegue pensar, os dedos dele retraem-se num gancho que a aperta e os movimentos dele tornam-se rápidos, quase brutais, tocando-a num ponto que, naquele momento, parece o âmago do seu ser e a sensação é demais, demasiado forte, e tudo desaparece, inclusive ela, restando apenas esta sensação à medida que o seu corpo cede e ela atinge o nirvana, fazendo-a gritar um – Foda-se! – pela primeira vez na sua vida e se derrama para ele e colapsa na cama e ele dá-lhe finalmente tréguas, deixando-a relaxar um pouco enquanto se deita no meio das suas pernas, a olha, espera que ela abra os olhos, o que ela faz em seguida encontrando-o ali com alguma surpresa e vê-o passar a língua pelos lábios, humedecendo-os, e em seguida sente-os colados ao ponto que até há pouco ela julgava o mais sensível, sente-se sugada, sente a língua a descrever arabescos com suavidade, a excitação retorna, incontrolável, ele aumenta o ritmo, espalma a língua contra si, fustiga-a, e ela agarra-lhe a cabeça, puxa-o contra si enquanto tem mais um clímax, não tão intenso mas absolutamente delicioso, larga-o continuando a sentir os seus lábios e a sua língua agora com mais suavidade, e sente-se novamente penetrada, primeiro com um, depois com dois dedos, o vaivém começa lento, com a língua a acompanhar o ritmo e vai escalando de velocidade e intensidade, provocando um novo orgasmo carregado de sensações diferentes e quando a sensação acalma pede-lhe novamente – Quero-te… – desta vez mais como uma suplica que um pedido, e ele ajoelha-se entre as suas pernas sem tirar os dedos de dentro de si, antes junta mais um, preenchendo-a, alargando, começa a penetrá-la com força, fundo, intensamente, cada vez mais rapidamente e ela perde a noção de onde está, dele, de si própria e existe apenas prazer intenso, que não pára, não acaba e as contracções no seu ventre são continuas e fortes e ela nem fazia ideia de que uma mulher podia sentir algo de vagamente parecido com isto e ele pára finalmente, deita-se sobre ela, entra nela com suavidade, ele sente-o a todo o comprimento, sente o peso do corpo dele, abraça-se a ele, as lagrimas de pura felicidade correm-lhe pela face e limita-se a implorar-lhe

- Fode-me! – entre os gritos e gemidos de prazer que solta, entre os orgasmos que chegam como ondas sucessivas e sente-o enorme dentro de si, adivinha o ponto a que ele está a chegar, olha-o nos olhos e pede-lhe – Vem-te… – e ele faz-lhe a vontade de derrama-se nela ao mesmo tempo que ela se derrama para ele…

 

***

 

A torrente de recordações acelera-lhe a respiração ao mesmo tempo que lhe provoca uma angústia e vergonha avassaladoras.

Como fora ela capaz? Como iria César encará-la? Como era possível, sequer, que ela fosse capaz de fazer algo de parecido. Todas as recordações estavam envolvidas de uma certa… surrealidade… talvez, como se apenas restassem as sensações e as imagens pertencessem a outro alguém que não ela.

Procurou razões, ou desculpas tentando agarrar-se a qualquer réstia de esperança. O que é que ela sabia acerca dos efeitos do MDNA?

Tudo o que ela tinha noção de ter experienciado se encaixava perfeitamente. Mas sabia que os utilizadores de MDNA, em alguns casos, experimentavam alucinações, sobretudo se expostos também a outras drogas. César dera-lhe erva a fumar, para se acalmar na vigem de volta… podia isso ter potenciado alguma espécie de alucinação?

Na sua mente começou a formar-se esta hipótese como plausível. Uma esperança a que rapidamente se agarrou. Talvez tudo não passasse disso mesmo. E ainda que não fosse? O que é que César tinha dito? “Tens noção que o mundo irá continuar e que amanhã terás de lidar comigo como sempre lidaste até aqui?” Ilusão ou realidade, não mudava nada…

Mas a sua percepção do mundo mudara para sempre… Ainda que não passasse de uma alucinação, era demasiado intensa e demasiado vívida. Independentemente disso, o mundo continuava hoje, igual ao que sempre fora, mas hoje sentia-se diferente e sabia-se diferente.

Numa enorme batalha de vontades entre os músculos do seu corpo e a sua sede, a sede acabou por vencer e ela levantou-se a custo e foi para a sua casa de banho, abriu a torneira do lavatório, pondo a mão em concha sob o fio de água e debruçou-se bebendo, tentando saciar a sua sede e bebendo mais e mais, até ao ponto de se sentir cheia. O seu corpo pareceu ganhar um pouco de energia para a erguer, olhou-se no espelho e não se reconheceu. Avançou para a cabine de duche e sentiu a água a acariciar-lhe a pele, tirando o sal do suor, deixando-a fresca, saiu a sentir-se mais humana, limpou-se, vestiu um robe e preparou-se para sair do quarto. Não lhe apetecia comer, mas sabia que devia.

Estava para sair do quarto quando ouviu vozes que vinham da sala.


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