Finalmente acordou. O seu corpo estava pesado, tanto que não lhe apetecia mexer-se ou sequer abrir os olhos. Foi-se apercebendo que os lençóis estavam completamente húmidos, molhados, ensopados mesmo e sentia todo o corpo transpirado, como se tivesse acabado de fazer algum exercício intenso debaixo de um calor abrasador. A sua cabeça latejava com uma dor lancinante que parecia querer fazer rachar o seu crânio ao meio, estava mal disposta, sentia uma sede tremenda mas levantar-se para ir beber água parecia-lhe impossível.
Abriu os olhos finalmente e
teve de fazer um enorme esforço para perceber onde estava, dando-se conta que
estava na cama do quarto da penthouse de César. Percebeu também que estava
completamente nua por baixo dos lençóis.
As memórias assaltaram-na de
repente, chegando como uma torrente, e corou, fechou os olhos tentando fazer
com que desaparecessem, mas tornaram-se ainda mais vívidas na sua mente. Como é
que ela fora capaz?
***
César vestira-a
atabalhoadamente junto à porta da mansão e levara-a para o carro sem uma única
palavra. Arrancaram e ela estava deslumbrada com a paisagem, com as sombras que
o luar provocava, com a sensação da pele dos estofos contra o seu corpo, com
César… Ele estava lindo, elegante, charmoso, o contacto com a sua pele era
quase eléctrico e ele apetecia-lhe tanto. Estava agitada, não lhe apetecia
estar quieta no assento, nem encerrada no carro, queria sair, correr…
- Estás zangado comigo?
César olhou para ela e ergueu
o sobrolho. Talvez estivesse mesmo zangado, ou apenas estranhasse o tratamento
informal.
- Não, não estou. Disse-te que
ali eras livre de fazer o que entendesses e que nunca te iria censurar. Quanto
muito estou surpreso. Sentes-te bem?
- Tão bem! Estou feliz.
Cesar deixou-se ficar um pouco
em silêncio.
- Achas-me atraente?
César voltou a olhar para ela
com um ar absolutamente surpreendido, mas respondeu.
- Acho.
- Gostavas de fazer amor
comigo?
Cesar parou o carro,
encostando-o na berma com muito cuidado, visto que era muito baixo. Depois
virou-se para ela.
- Andreia, o que é que
aconteceu lá dentro?
- Não sei. Estava a falar com a
Julia quando me senti tão em paz…
- Com a Julia?
- Sim. Ela é tão linda, não é?
- Deu-te alguma coisa?
- Só um cocktail, mas sem
álcool. Chamava-se “Virgin Marguerita”. Ela até disse que me assentava bem.
O ar de César passara de
surpreendido a grave, e depois a furioso.
- Estás zangado comigo? –
Perguntou novamente ao vê-lo assim.
- Já te disse que não. – Tirou
a sua cigarreira de prata do bolso, tirou um dos seus cigarros de erva,
acendeu-o e deu-lho para a mão – Fuma. – Ordenou – Vai fazer-te ficar menos
irrequieta e vai evitar que se te abram buracos no cérebro.
Ela imaginou um cérebro cheio
de buracos e desatou a rir à gargalhada. Pegou no cigarro e deu uma passa
longa. Deu outra e passou o cigarro a César, que apenas deu uma passa curta e
lho passou de volta.
- Não me respondeste, há pouco.
Gostavas de fazer amor comigo?
- Não.
- É porque não me achas
atraente?
- Não, é porque estás
completamente carregada de Extasy ou outra porcaria semelhante, o que só por si
é mais que motivo. Já te disse que és uma mulher atraente. Agora acaba de fumar
e sossega. – Disse César ao mesmo tempo que arrancava com o carro.
O efeito de erva fez-se sentir
e Andreia relaxou finalmente, embora as sensações continuassem ao rubro, se
calhar ainda mais intensificadas. Apenas a ansiedade tinha desaparecido.
Tiveram de parar algumas vezes pelo caminho, não só para reabastecer o carro,
mas também para comprar água para Andreia, que parecia ter uma sede que não
tinha fim.
Chegaram, por fim, à
penthouse, mas Andreia estava, apesar de mais relaxada, demasiado eléctrica
para se ir deitar. César, com uma enorme paciência, fez-lhe companhia enquanto
esperava que a droga começasse a sair do seu sistema.
- É verdade o que a Julia me
disse?
- Não sei. Teria de saber o que
a Julia disse.
- Disse que se fizessem um
clube dos corações partidos por ti seria difícil encontrarem um sítio para
fazerem os encontros…
- Creio que difícil não seria.
Pouco prático, talvez.
- Mas é verdade?
- É. Já fui muito mau rapaz.
- E já não és?
- Acho que não.
- O que é que aconteceu?
- A vida, o mundo, as circunstâncias…
Aconteceu muita coisa.
- Arrependeste-te do que já
fizeste?
- Não. Qual seria o objectivo
de me arrepender? Mudava alguma coisa?
Andreia sorriu.
- Pois, realmente não muda
nada.
- Pois não. Só te faz carregar
um peso atrás sem qualquer objectivo prático. Se fizeste algo que não foi bem
feito, não voltes a fazê-lo. Lamentares-te não vai alterar o que já fizeste.
- Sabes porque é que te
perguntei se querias fazer amor comigo?
- Porque estás drogada. Caso
contrário não perguntarias.
- Não foi só por isso. Cesar encarou-a.
- Então?
- Sabes, toda a vida tive muito
pouco. Dediquei-me aos estudos que os meus pais pagaram com dificuldades, vivi
pouco, tive poucos namorados e os que tive sempre foram… Nem sei…
- Insalubres?
Andreia olhou para ele e riu
com vontade.
- Bela palavra. Nunca tinha
pensado nisso, mas sim. O sexo sempre foi algo que não me disse nada porque não
havia grande coisa a dizer. Cinco minutos com um tipo em cima de mim, a arfar,
e acabou. Nunca percebi porque é que tanta gente falava de sexo da maneira como
falava, de que era tão bom, de como era bom, das sensações… Hoje, se calhar por
causa da droga, ou do ambiente, ou fosse do que fosse, senti! Mesmo! E percebi
que o problema nunca esteve em mim. Apenas nunca tive um homem a sério, que me
fizesse ir ao sétimo céu…
- Hás-de ter. – Disse César com
um sorriso quase paternal.
- Eu sei… Mas hoje com tudo o
que se passou… Adorei os toques de todos aqueles estranhos, os beijos, as
línguas no meu corpo e se não aparecesses tinha-me oferecido de bom grado.
- E acredita que te teriam
tomado de bom grado também.
- Hoje senti, pela primeira
vez, e ainda sinto. O toque do tecido electriza-me, o contacto com a tua pele
deixa-me fora de mim…
- Andreia, sabes que é a droga
a falar, não sabes?
Embora com um sorriso de
felicidade extrema no rosto, as lagrimas começaram a soltar-se dos olhos dela.
- Não sei se é só a droga…
- Um dia vais encontrar alguém
que se vai verdadeiramente apaixonar por ti e que te vai dar tudo aquilo que
mereces e precisas. Eu não estou apaixonado por ti…
- Nem eu por ti. Juro. Mas esta
noite foi tão estranha e ao mesmo tempo tão mágica… Apenas queria sentir… por
uma vez que fosse… Olhava para César, com as faces banhadas de lágrimas, apesar
de se sentir plenamente feliz e sem perceber o que se passava consigo e esperava
uma reacção dele.
- Não dizes nada?
Cesar ficou a olhá-la com a
expressão enigmática e séria que tinha a maior parte do tempo. Tinha perdido o
ar paternal e era impossível descortinar-lhe os pensamentos.
- Digo que está na altura de
ires tomar um banho e vestir outras roupas. As tuas estão completamente
ensopadas em suor e até o teu cabelo está molhado.
Ela assentiu, sentindo uma
pontada de tristeza, e seguiu para o seu quarto para poder tomar um duche,
vendo ainda César tirar outro dos seus cigarros da cigarreira de prata e
acendê-lo. Tomou o seu banho, calmamente, a desfrutar como nunca a água que lhe
escoria pelo corpo e que causava sensações que quase a punham a delirar,
pequenos formigueiros eléctricos, não conseguindo conter um ou outro gemido.
Apeteceu-lhe tocar-se, mas resistiu a fazê-lo.
Saiu do banho sentindo-se mais
fresca, tirou o excesso de água do cabelo com a toalha, secou-se, vestiu um
robe, que deixou aberto e voltou à sala. César tinha diminuído as luzes e
estava de pé em frente a uma das enormes vidraças a observar as luzes da cidade
que se perdiam no horizonte. Caminhou silenciosamente e ficou no meio da sala
esperando que ele desviasse a sua atenção da paisagem. Quando ele finalmente o
fez, deu com ela nua, no meio da sala, a encará-lo.
- Um dia. Uma noite. Esta
noite. É só o que te peço.
César fitou-a com aquela
expressão enigmática impossível de decifrar, mas neste momento Andreia apenas
pensava que não havia nada a perder. O não estava já garantido.
- Tens noção – perguntou César
– que o mundo irá continuar e que amanhã terás de lidar comigo como sempre
lidaste até aqui?
Ela acenou em assentimento.
César caminhou até ela e
parou, quase encostado a ela, a sua expressão inalterada e pese embora a
proximidade, não fez qualquer gesto, apenas ficou a olhá-la fixamente nos
olhos.
Parecia ter passado uma
eternidade quando ela levantou a mão, levando-a ao colarinho dele e retirando o
laço que pendia desapertado, largando-o em seguida para o chão e, não vendo
qualquer reacção da parte dele, começou a desapertar os botões da camisa, um a
um, com toda a calma do mundo, apreciando um momento que se adivinhava
irrepetível, e, chegada ao fundo, desapertou o cinto e o primeiro botão das
calças para soltar a camisa, desapertou-lhe os botões de punho e fez deslizar a
camisa expondo-lhe o torso e fazendo-a cair também no chão, ajoelhou-se,
desapertou os atacadores de um sapato e depois do outro e quebrou finalmente a
imobilidade dele, fazendo-o levantar os pés para que o descalçasse, repetiu o
processo com as meias, acabou de desapertar as calças, fê-las deslizar até ao
chão, contando novamente com a colaboração dele para as tirar, ergueu-se, olhou
os olhos que ardiam com uma intensidade que ela nunca lhe tinha visto e que
ainda não se tinham despregado dela, fez deslizar o robe pelos ombros
deixando-o também cair, parou a olhar um pouco para ele, a admirá-lo,
ajoelhou-se novamente e fez deslizar até ao chão a ultima peça de roupa dele,
revelando-o, olhou-o, levantou a mão até à altura do peito dele e colocou-a
contra a pele e sentiu quase um choque de electricidade a percorre-la, deixou a
mão deslizar por ela sentindo a sua pele e finalmente tocou-o, envolveu-o com a
sua mão, sentiu a textura, a suavidade e apeteceu-lhe prova-lo, coisa que nunca
tinha feito a ninguém, aproximou os seus lábios e depositou um beijo suave na
glande, adorou o sabor, a sensação, abriu os lábios e fê-lo deslizar para a sua
boca, sentindo-o a pulsar entre a língua e o palato, fê-lo deslizar enquanto o
sugava, sentiu a mão dele a afagar-lhe o cabelo com suavidade, sentiu a
excitação dele a crescer, sentiu a maneira como o seu corpo se electrificava à
medida que lhe dava mais e mais prazer, sentiu-o a começar a ficar contraído,
sentiu a mão a agarrar-lhe o cabelo e a puxá-lo, forçando-a a abandonar o que
estava a fazer e a pôr-se de pé, os braços dele a envolvê-la, os lábios a
colarem-se aos seus, a língua a invadi-la e a enlear-se na sua, as mãos a
deslizarem nas suas costas lançando sensações estranhas por todo o seu corpo e
ele quebrou o beijo, levantou-a do chão, levou-a para o quarto, depositou-a na
cama, deitou-se ao seu lado, beijou-a com uma intensidade suave e sem
urgências, acariciou-a fazendo as mãos percorrerem todo o seu corpo,
massajou-lhe os seios com suavidade, fazendo os seus mamilos erguerem-se e
endurecerem, quebrou o beijo apenas para colar a boca ao seu mamilo que sugou
suavemente, fazendo a língua descrever arabescos que a obrigaram a aprofundar
ainda mais a respiração, voltou a colar os lábios aos seus enquanto a mão dele
descobria a humidade do seu lugar mais íntimo, fixando-se depois no ponto acima
e começando a fazer suaves círculos num movimento propositadamente lento,
deliberadamente lento, angustiantemente lento que a faz querer mais, muito
mais, que a obriga a ondular as ancas ao mesmo ritmo, que a deixa quente, e sem
qualquer aviso a intensidade aumenta aos poucos, a cada movimento, e aos poucos
acelera, como se ele soubesse o que ela quer, quando ela quer, e fála ter um
orgasmo doce e eléctrico, calmo mas intenso, que a leva a pôr a mão por cima da
dele e a pará-la, apertando-a contra si e solta-a e ele continua os movimentos,
começando lento, esperando que o corpo dela responda novamente o que não
demora, e começa a acelerar, mais, e mais, e mais levando-a muito rapidamente a
um novo clímax, desta vez mais intenso, mais brutal, fazendo o seu corpo
arquear, até a sensação quebrar e ela se deixar cair, e abraça-se a ele,
beija-o com intensidade, tesão, luxúria, inebriada por sensações que nunca
tinha vivido, e ele faz o dedo médio deslizar na sua humidade, depois também o
anelar e começa a entrar nela devagar, sentindo-a apertada e a dilatar, um
vaivém lento e suave, que ele mantem lento e vai aprofundando fazendo com que
os seus gemidos se tornem mais audíveis, a sua respiração mais forte e ela
fecha os olhos, sente os movimentos acelerar, cada vez mais, arrastando-a para
um lugar dentro de si, desconhecido dela até hoje, onde os pensamentos se
ofuscam e apenas existem sensações de prazer e deleite e ele fá-la explodir enquanto
ouve ao longe gritos de prazer que são seus e a sensação dura, muito mais tempo
que ela poderia imaginar, uma eternidade que acaba depressa demais, abre os
olhos – Quero-te! – diz, olhando-o nos olhos enquanto o agarra com a mão,
mimando-o, sentindo a sua pujança, e vê o sorriso nos olhos dele, o ar de um
miúdo que vai fazer a maior das travessuras enquanto ele se levanta, sem tirar
os dedos de dentro dela, deixando-os bem fundo, pressionando o seu ponto mais
sensível com a palma da mão e se ajoelha ao lado dela, coloca uma mão na parte
baixa do ventre, faz pressão e começa a movimentar os dedos, não num movimento
de vaivém, mas dando toques rápidos e intensos, por dentro, na direcção do seu
ponto mais sensível, e vai aumentando a rapidez e a intensidade, o corpo dela
acompanha-o, como se lhe pertencesse, o raciocínio foge-lhe, a intensidade das
sensações é demasiado forte e, quando ela já nem consegue pensar, os dedos dele
retraem-se num gancho que a aperta e os movimentos dele tornam-se rápidos, quase
brutais, tocando-a num ponto que, naquele momento, parece o âmago do seu ser e
a sensação é demais, demasiado forte, e tudo desaparece, inclusive ela,
restando apenas esta sensação à medida que o seu corpo cede e ela atinge o
nirvana, fazendo-a gritar um – Foda-se! – pela primeira vez na sua vida e se
derrama para ele e colapsa na cama e ele dá-lhe finalmente tréguas, deixando-a
relaxar um pouco enquanto se deita no meio das suas pernas, a olha, espera que
ela abra os olhos, o que ela faz em seguida encontrando-o ali com alguma
surpresa e vê-o passar a língua pelos lábios, humedecendo-os, e em seguida
sente-os colados ao ponto que até há pouco ela julgava o mais sensível,
sente-se sugada, sente a língua a descrever arabescos com suavidade, a
excitação retorna, incontrolável, ele aumenta o ritmo, espalma a língua contra
si, fustiga-a, e ela agarra-lhe a cabeça, puxa-o contra si enquanto tem mais um
clímax, não tão intenso mas absolutamente delicioso, larga-o continuando a
sentir os seus lábios e a sua língua agora com mais suavidade, e sente-se
novamente penetrada, primeiro com um, depois com dois dedos, o vaivém começa
lento, com a língua a acompanhar o ritmo e vai escalando de velocidade e
intensidade, provocando um novo orgasmo carregado de sensações diferentes e
quando a sensação acalma pede-lhe novamente – Quero-te… – desta vez mais como
uma suplica que um pedido, e ele ajoelha-se entre as suas pernas sem tirar os
dedos de dentro de si, antes junta mais um, preenchendo-a, alargando, começa a
penetrá-la com força, fundo, intensamente, cada vez mais rapidamente e ela
perde a noção de onde está, dele, de si própria e existe apenas prazer intenso,
que não pára, não acaba e as contracções no seu ventre são continuas e fortes e
ela nem fazia ideia de que uma mulher podia sentir algo de vagamente parecido
com isto e ele pára finalmente, deita-se sobre ela, entra nela com suavidade,
ele sente-o a todo o comprimento, sente o peso do corpo dele, abraça-se a ele,
as lagrimas de pura felicidade correm-lhe pela face e limita-se a implorar-lhe
- Fode-me! – entre os gritos e
gemidos de prazer que solta, entre os orgasmos que chegam como ondas sucessivas
e sente-o enorme dentro de si, adivinha o ponto a que ele está a chegar, olha-o
nos olhos e pede-lhe – Vem-te… – e ele faz-lhe a vontade de derrama-se nela ao
mesmo tempo que ela se derrama para ele…
***
A torrente de recordações
acelera-lhe a respiração ao mesmo tempo que lhe provoca uma angústia e vergonha
avassaladoras.
Como fora ela capaz? Como iria
César encará-la? Como era possível, sequer, que ela fosse capaz de fazer algo
de parecido. Todas as recordações estavam envolvidas de uma certa…
surrealidade… talvez, como se apenas restassem as sensações e as imagens
pertencessem a outro alguém que não ela.
Procurou razões, ou desculpas
tentando agarrar-se a qualquer réstia de esperança. O que é que ela sabia
acerca dos efeitos do MDNA?
Tudo o que ela tinha noção de
ter experienciado se encaixava perfeitamente. Mas sabia que os utilizadores de
MDNA, em alguns casos, experimentavam alucinações, sobretudo se expostos também
a outras drogas. César dera-lhe erva a fumar, para se acalmar na vigem de
volta… podia isso ter potenciado alguma espécie de alucinação?
Na sua mente começou a
formar-se esta hipótese como plausível. Uma esperança a que rapidamente se
agarrou. Talvez tudo não passasse disso mesmo. E ainda que não fosse? O que é
que César tinha dito? “Tens noção que o mundo irá continuar e que amanhã terás
de lidar comigo como sempre lidaste até aqui?” Ilusão ou realidade, não mudava
nada…
Mas a sua percepção do mundo
mudara para sempre… Ainda que não passasse de uma alucinação, era demasiado
intensa e demasiado vívida. Independentemente disso, o mundo continuava hoje,
igual ao que sempre fora, mas hoje sentia-se diferente e sabia-se diferente.
Numa enorme batalha de
vontades entre os músculos do seu corpo e a sua sede, a sede acabou por vencer
e ela levantou-se a custo e foi para a sua casa de banho, abriu a torneira do
lavatório, pondo a mão em concha sob o fio de água e debruçou-se bebendo,
tentando saciar a sua sede e bebendo mais e mais, até ao ponto de se sentir
cheia. O seu corpo pareceu ganhar um pouco de energia para a erguer, olhou-se
no espelho e não se reconheceu. Avançou para a cabine de duche e sentiu a água
a acariciar-lhe a pele, tirando o sal do suor, deixando-a fresca, saiu a
sentir-se mais humana, limpou-se, vestiu um robe e preparou-se para sair do
quarto. Não lhe apetecia comer, mas sabia que devia.
Estava para sair do quarto
quando ouviu vozes que vinham da sala.
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