Ela abriu a porta do quarto, agarrou o rapaz pelo colarinho, puxou-o para si, beijou-o, riu-se, empurrou-o para dentro do quarto e nem acendeu a luz, arrastou-o para a cama, atirou-o para lá, riu-se novamente, olhou para ele com ar de mulher fatal, que era e sabia sê-lo, começou a desapertar a camisa devagar fazendo o rapaz engolir em seco com a antecipação do que viria, enlevado pelo sorriso predador, mesmerizado e ela abre a camisa e desfralda-a deixando-o ver o corpo perfeito e a pele suave que o faz salivar…
Num canto escuro do quarto uma
faísca risca o ar acompanhada pelo som de um isqueiro que se acende e uma nuvem
de fumo, visível nos feixes na luz recortada que entra pelo estore, invade o ar
com o cheiro doce e espesso da erva.
Ela levanta-se irritada.
- Ainda a fumar os teus
cigarrinhos, César?
- Tal como tu continuas a comer
rapazes mais novos. Há hábitos que são difíceis de perder.
Ela acende a luz, revelando-o,
olha glacialmente para o rapaz que assiste mudo deitado na cama e diz – Sai. –
sem qualquer hipótese sequer de argumentar. Ele levanta-se e sai, confuso, sob
os olhares de ambos, o de Julia irritado e o de César quase divertido.
- Desculpa ter-te interrompido.
Não é que não seja um bom espectáculo ver-te com outro gajo, mas ao fim de
algumas vezes acaba por se tornar repetitivo.
- Então lá deste comigo…
- Não é como se andasses a
tentar passar despercebida, não é verdade?
- Pois… Na verdade estava à tua
espera, mais dia, menos dia. Admito que não esperava que fosse tão cedo, mas
enfim, às vezes a vida surpreende-nos. Mas a que é que devo a honra?
- Um simples pedido. – Olhou-a
nos olhos, a sua expressão implacável – Deixa-me em paz, de uma vez por todas.
A mim e aos que me rodeiam. Pára.
- Não.
- Não?! Mas porquê?
- Porque tu és meu. Porque
somos iguais. Porque eu quero-te para mim.
- E desde quando é que eu sou
uma comodidade tua? Quem é que te deu o direito a essa pretensão? Mete na tua
cabeça: acabou.
- Ninguém me despreza, ouviste?
Ninguém, muito menos um tipo qualquer que saiu dum buraco destes…
- Ah! É esse o teu problema?
Então dou-te um conselho: engole o teu orgulho e segue em frente. E isto é um
aviso.
- Tu… Tu atreves-te a
ameaçar-me? A mim?
- Só te digo que se não paras
de uma vez por todas eu faço-te engolir o orgulho. Não te esqueças de uma
coisa: eu sou um grande filho da puta quando quero, e se há uma pessoa que sabe
o quanto eu o consigo ser és tu. Pensa nisso.
- Mas quem és tu para fazer uma
ameaça dessas? De há três anos para cá não passas de um triste a viver de
rendimentos…
César parou a olhar para ela e
sorriu. Agarrou num portátil que estava ao pé de si, abriu-o e passou-lho.
Ela olhou irada e desconfiada
para ele. Agarrou o portátil, sentou-se e começou a analisar gráficos, folhas
de cálculo, projecções de crescimento de centenas de empresas em quase todas as
áreas, começou a ter noção do que César estava a fazer, percebeu as
ramificações. Olhou para ele, incrédula.
- Se não parares faço-te ficar
sem absolutamente nada num piscar de olhos.
Ela olhou para ele com medo,
percebendo que o que ele dizia era verdade. Ele estava em posição de poder
fazer isso. Como é que era possível que ele tivesse conseguido fazer isto sem
ninguém se aperceber?
Ele tirou-lhe o portátil das
mãos, fechou-o, arrumou-o numa mala, voltou-se para ela disse simplesmente:
- Considero este assunto
definitivamente encerrado. A um sussurro teu, estalo os dedos! Estamos
entendidos?
O ódio incendiou-lhe os olhos
a medida que se apercebia da sua impotência. Limitou-se a assentir. Ele
virou-lhe as costas e saiu.
Isto não ficaria assim, não
podia. Ela não podia estar tão vulnerável. Nem tão humilhada.
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