Andreia saiu do enorme quarto que César lhe destinara para a sala onde ele já a esperava, com um vestido preto, clássico, mas com alguns toques invulgares. O vestido, de Nuno Baltazar, parecia feito de uma única peça de pano que a envolvia dos pés ao pescoço, sendo que tinha a manga direita mas descia depois num corte enviesado deixando o ombro e o braço esquerdo a descoberto, havendo uma tira de pano que o cintava e ajustava à silhueta com uma espécie de fivela comprida trabalhada em metal dourado com pedras de lápis-lazúli num motivo vagamente egípcio e que fazia a parte de baixo do vestido cair como cortinas que se abriam levemente a cada passo. Completava o conjunto um par de luvas compridas de pelica que acabavam ligeiramente acima do cotovelo e uns sapatos pretos, da casa Sergio Rossi, modelo Cachet. A aprovação patente no olhar de César fê-la perceber que tinha feito a escolha perfeita.
- Sente-se. – Ordenou César
secamente, convidando-a para se sentar à sua frente e aguardou que ela o
fizesse antes de ele próprio se sentar.
- Andreia, reconsiderei. Não
creio que seja boa ideia vir e como tal, que seja boa ideia irmos.
Ela olhou-o com uma expressão
interrogativa.
- Não tem nada a ver consigo…
Lembra-se da primeira vez que fomos ver a Céu? – Ela assentiu – Pois aquilo que
viu lá não foi absolutamente nada por comparação com o que poderá ver hoje.
- Ainda assim achou por bem ir…
- Sim. Mas como pode ver, estou
a reconsiderar.
- E porquê ir?
- Porque vai lá estar alguém
que pode decidir um negócio de alguns milhões e que tem estado completamente
parado até agora. Por outro lado, não posso ir sozinho, uma vez que é um evento
exclusivamente para casais. Acho que era essa a jogada de Julia.
- Posso perguntar quem ela é?
César sorriu.
- Apenas uma antiga parceira de
negócios com quem acabei por me envolver, por motivos que me parecem óbvios…
- Ela parecia um anjo!
- Acredite que ela é tudo menos
isso. Aliás, se o diabo fosse uma mulher, seria a personificação perfeita,
creia! De qualquer forma, voltando a hoje, claro que quero desbloquear o
negócio, mas tenho algum receio por si.
- César, de algum tempo para cá
tenho percebido muita coisa. Não precisa de me proteger. Vamos e fechamos o
negócio, se isso for possível.
César olhou para ela, com um
ar preocupado durante uns segundo, tentando decidir o que fazer. Depois, pegou
numa máscara veneziana que tinha junto a si e deu-lha.
- Vamos então.
Levantou-se, deu-lhe a mão
para a ajudar a levantar e saíram. Já iam no carro quando Andreia perguntou:
- É perto?
- Depende do que considera
perto. Para um americano é. Mais ou menos hora e meia. Eu não vou acelerar, por
isso relaxe. Ainda bem que escolhi este carro.
- É assim tão importante?
- Para os americanos os carros
são tudo. Eles passam horas da vida deles dentro dos carros. Um fora de série
nunca passa despercebido.
- Fora de série?
- Sim, só vai haver vinte
iguais no mundo inteiro.
- Quanto é que custa uma coisa
destas?
- Perto de três milhões de
dólares. Andreia engoliu em seco.
- Não é dinheiro a mais para
dar por um carro?
- Andreia, a maior parte dos
carros, mesmo os Mercedes que compramos em Portugal, perdem valor assim que
saem do stand. O SLS pode vir a ser um carro valioso daqui a umas décadas, mas
não é certo. Este carro, provavelmente, vai valer o dobro ou o triplo daqui a
dez anos. É dos melhores investimentos que se pode fazer. Além disso, ainda se
tem o gozo de conduzir uma das máquinas mais perfeitas produzidas até hoje e um
dos poucos carros que passam a barreira dos quatrocentos quilómetros por hora.
Tem de admitir que é mais divertido do que ter o dinheiro investido.
- E se tiver um acidente com
ele?
- E se eu morrer amanhã? Não
podemos passar a vida com medo, Andreia. O que tiver de acontecer acontecerá,
independentemente da minha vontade, por isso…
Andreia percebeu, calou-se e
recostou-se no luxuoso conforto que a rodeava.
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