Andreia encontrou Céu
numa
cadeira
da
sala
de
espera
do
hospital,
como
nunca
a
tinha
visto,
os
olhos
inchados
das
lágrimas
e
um
ar
do
mais
absoluto
desespero.
Assim
que a viu, levantou-se
e abraçou-se a ela a chorar.
Andreia abraçou-a por um
pouco, até ela se recompor o suficiente e finalmente perguntou:
- Como é que ele está?
- Está em estado crítico.
Levaram-no de urgência para o bloco e está a ser operado. Não consegui saber
mais nada… não sou familiar…
Andreia assentiu.
- Anda, vamos ver se
conseguimos saber mais alguma coisa. Como é que isto aconteceu?
- Íamos a sair do clube, estava
um carro estacionado atrás do dele, ele foi pedir para o afastarem e quando dei
por isso ouvi tiros e ele estava no chão.
- Tiros?
Sim dispararam três tiros. Um
não lhe acertou, o outro apanhou-o de raspão num braço, mas o outro foi no
peito. Acho que só não foi pior porque os seguranças ouviram e vieram logo, e o
carro arrancou disparado.
Chegaram à recepção e Andreia
pediu informações, que não foram dadas pela funcionária, visto que não tinha
autorização. Andreia pegou no telemóvel, e fez uma chamada. Daí a pouco a
funcionária recebia outra no telefone de serviço, olhou para ambas com um ar
furioso, mas não fez comentários e levou-as por um corredor. Aí chegadas
ficaram à espera à porta do bloco. Não tiveram de esperar muito. Saiu um médico
que as informou do estado actual de César, dizendo-lhes o quanto era grave. A
operação estava a correr bem, mas ele tinha perdido muito sangue e era
impossível fazer qualquer tipo de previsão. De qualquer forma, pediu-lhes para
aguardarem na sala que quando acabasse a operação iria ter com elas.
Céu estava espantada com o
pragmatismo de Andreia, que rapidamente começou a fazer telefonemas, uns atras
dos outros, quer para evitar que alguma notícia acerca do assunto passasse para
algum lado, como para recolher os carros de César e de Céu e levá-los para
Sintra. Por fim voltou-se para ela.
- Já comeste alguma coisa?
- Não me apetece.
Tens de comer qualquer coisa.
Podes não ter apetite, mas não vai ser o facto de não comeres que vai alterar
alguma coisa. Além disso é-se muito mais optimista com o estomago recheado.
- A sério, não me apetece.
- Então faz-me companhia.
Foram à recepção e deixaram o
número de telefone de Andreia pedindo para a avisarem de imediato caso o médico
viesse para ter com elas e depois foram até ao bar do hospital.
Céu sentou-se e Andreia foi
buscar comida. Trouxe dois copos de sumo de laranja e dois croissants mistos.
- Oh! Andreia, eu disse-te que
não queria nada…
- Bem agora já queres. Come.
Céu começou a comer a
contragosto, e só aí Andreia se apercebeu do anel de noivado.
- Ele já to deu?
Céu olhou para o anel e teve
de lutar para conter novamente as lagrimas.
- Sim. Uns dez minutos antes…
disto!
Andreia deixou-se ficar em
silêncio, percebendo tudo o que devia estar a passar pela cabeça dela. Também
passava pela sua, mas, neste momento, havia coisas mais prementes a serem
tratadas.
- Céu, desculpa perguntar-te
isto, mas viste quem é que estava dentro do carro?
- Não, foi tudo tão rápido…
- E que carro era?
- Era um carro velho… Sei lá…
Andreia assentiu.
- Sabes, acho que isto não
aconteceu por acaso.
- O que é que queres dizer com
isso?
- O César falou-te da conversa
que teve com Julia?
- Por alto… Disse-me que achava
que a questão estava resolvida e que ela ia ficar quieta.
- Pois… Sabes, o César tem
vindo a implementar um plano…
- Sim, ele falou-me nisso.
- Ele expôs o plano à Julia.
Mostrou-lhe que estava numa posição de força e que a podia fazer perder tudo
num piscar de olhos. Não acredito que ela tenha ficado contente. Portanto acho
que das duas uma: ou ela revelou o plano a alguém e nesse caso,
independentemente do que se passar na sala de operações ele vai estar morto e
eu também, ou então ela achou que tirando o César do caminho poderia
apoderar-se do plano e levá-lo ela a cabo. Nesse caso é uma sorte ainda não
terem tentado nada contra mim também. Ela calculará que eu sei, portanto também
teria de desaparecer. Inclino-me mais para a segunda hipótese…
- Porquê?
- Porque ela iria
subestimar-me, de certeza. Na primeira hipótese as coisas seriam mais bem
orquestradas e já nem eu nem o César cá estaríamos, de certeza.
- Mas… Nesse caso, quando ela
souber que ele não morreu vai voltar a tentar!
- Mas para já vai tentar
apanhar-me. E, uma vez que ainda não conseguiu, vamos fazer os possíveis para
que apanhe… Deixa-me fazer uns telefonemas…
Fez meia dúzia de chamadas
rápidas, enquanto acabavam as duas de comer. Dentro de Céu crescia uma fúria
enorme e um ódio direccionado à mulher que num momento, tinha posto em risco a
pessoa que ela sabia agora, tinha a absoluta certeza, era o ser que ela amava.
Voltaram à sala de espera
tentando saber mais notícias, mas a operação ainda decorria. Andreia pediu a
Céu para se manter por ali e partiu.
Céu ficou sozinha a rezar,
pela primeira vez na sua vida a rezar a um Deus que, se estava lá, sabia que o
seu coração estava a ser absolutamente sincero, e rezou, por muito tempo até
ser interrompida pelo médico que veio ter com ela.
- Queria dizer-lhe que a
operação correu bem e ele parece estável, mas ainda é cedo para termos alguma
certeza. Já saiu da sala de operações e está no recobro. Vão passar-se horas
até lhe podermos dizer alguma coisa ou de poder vê-lo. Se quiser ir para casa…
Prometo que a avisamos se alguma coisa acontecer.
- Não. Eu fico.
O médico sorriu-lhe,
simpatético, e afastou-se, deixando-a mergulhar de novo nas suas preces.
***
Andreia chegava à mansão de
Sintra e dava a última curva antes do portão quando viu um carro pequeno,
preto, num estado não muito bom, de vidros fumados, parado em frente ao portão.
Abrandou e aproximou-se
devagar, tentando ver se havia alguém la dentro. Verificou que aparentemente
não havia enquanto passava devagar, sem parar. Foi parar um pouco mais à
frente, no meio da estrada e esperou.
Viu um vulto a levantar-se
dentro do carro e arrancar com ele. Andreia acelerou, arrancando rapidamente
pelas ruas estreitas e sinuosas demais para a velocidade que ela queria
imprimir ao carro. O carro pequeno seguia-a, mas param ambos de repente, a
seguir a uma curva apertada, numa barreira de carros de polícia que fechava a
rua.
O carro pequeno inverteu de
imediato a marcha, mas pouco andou, travado por mais carros de polícia. O
ocupante saiu disparado do carro, tentando saltar a vedação ao lado, mas foi
prontamente apanhado por agentes que o agarraram. Tentou resistir mas foi
subjugado.
Um homem, na casa dos seus
cinquentas, sai de um dos carros de polícia e aproxima-se de Andreia,
fazendo-lhe sinal de que pode sair também, o que ela faz.
- Inspector Silva? – Perguntou
Andreia. O homem assentiu com um ar sério – O comandante Lopes falou-me de si…
***
O médico apareceu novamente.
- Queria só dizer-lhe que ele
já saiu do recobro mas ainda não está fora de perigo. Temo-lo num coma induzido
e ainda há muito que esperar.
Céu assentiu, mas tencionava
não arredar pé. O telemóvel tocou. Atendeu.
- Sim?
- Céu, foi ela.
- Tens a certeza? Como é que
sabes?
Andreia contou-lhe a pequena
aventura que tinha tido.
- Vê lá, era um rapaz de
dezanove anos. Ela deu-lhe a volta à cabeça.
- O quê?
- Usou um miúdo a quem deu a
volta. Acreditas nisto?
Céu sabia bem o que uma mulher
conseguia fazer à cabeça de um rapaz.
- Acredito. – Dentro de si
nascia algo de muito negro – Andreia, eu trato disto.
- Que é que vais fazer, Céu?
- Não te preocupes.
- Céu… – desligou.
Nos seus pensamentos pediu
desculpa a César por o deixar, mas voltaria muito em breve. Pediu a Deus que
mandasse um anjo para olhar por ele. Depois levantou-se e saiu.
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