Andreia agarrou-se com força
aos
braços
do
assento
sentindo um pânico
por
dentro,
não
um
pânico
forte
e
incontrolável
mas
aquele
frio
na
barriga
que
nos
desassossega
o nosso ser e provoca
pele de galinha como se todos os nossos sentidos pressentissem o perigo, pela
segunda vez na sua vida e ambas neste dia.
Sentira-se assim quando tinham
pousado em Nova Iorque, depois de um voo de quatro horas e antes de uma
enervante espera de duas horas pelo voo de Nova Iorque para Los Angeles e agora
sentia o mesmo quando o avião pousava em LAX, após mais três horas.
Decididamente não gostava de
voar. Não só esta sensação era angustiante, como também o era o peso e a
vertigem que sentia quando o avião saía do chão em aceleração e muito mais era,
ainda, quando o avião apanhava turbulência, por mais pequena que fosse.
César olhava-a aparentemente
divertido e ela não gostava do ar paternalista dele. Foi com alívio que saiu do
avião, mas o alívio foi de pouca dura pois assim que saíram do aeroporto
atingiu-a o calor e a poluição em excesso. Até sentiu uma pequena vertigem.
- Vai habituar-se… – limitou-se
César a dizer enquanto passava por ela e chamava um táxi. Ele abriu-lhe a porta
de trás do carro, auxiliando-a a entrar, dando a volta e sentando-se ao lado
dela, enquanto o motorista arrumava a bagagem de ambos na mala do carro.
Quando o motorista entrou
César deu-lhe instruções e arrancaram, enfiando-se num trafego lento e pesado.
Apesar de tudo à sua volta ser novidade, o cansaço acabou por vencer Andreia,
que se deixou adormecer. Quando César a acordou, o Sol já se punha no horizonte
e a cidade parecia ter ficado para trás. Estavam a porta de um enorme armazém
no meio de um bosque.
- Onde estamos?
- Na minha “casa de campo”. –
Respondeu César, enquanto pagava ao taxista.
Andreia saiu e viu, por entre
o arvoredo, a uma curta distância, uma mansão.
- Não devíamos ter ido antes
para ali? – Perguntou Andreia.
- Não. Só viemos buscar um
carro. Já deixamos as bagagens na “penthouse”, mas estava a dormir tão bem que
não a quis incomodar.
Dirigiram-se ao armazém e lá
chegados César introduziu um código num pequeno teclado numérico. As enormes
portas começaram a abrir, mostrando as luzes fluorescentes que se acendiam
ainda, iluminando o interior. Andreia ficou abismada.
À sua frente filas e filas de
automóveis, todos em estado imaculado, de todas as marcas e feitios
imagináveis.
- Precisamos de levar algo
adequado. – Disse César.
- Adequado ao quê?
- Aos nossos propósitos.
Afinal, estamos no reino das aparências, portanto temos de parecer mais do que
ser.
Andreia acompanhou-o enquanto
caminhavam por entre todos aqueles carros, que pareciam agrupados por marcas e
depois por ano.
- Este carros são todos seus?
- Sim. Sou aquilo a que os
americanos chamam de “gearhead”. – Respondeu com um sorriso. Pararam ao lado de
um carro descapotável absolutamente deslumbrante, todo em cromado e azul. César
sorriu.
- Já entregaram o meu Sang
Bleu. Perfeito.
Cesar conduziu-a ao carro,
abriu a porta e ajudou-a a instalar-se. Depois entrou ele, sentando-se ao
volante, e ligou o carro. Um ronco surdo fez-se mais sentir do que ouvir e em
seguida o carro começou a deslizar calmamente pelo enorme armazém. Assim que
saíram as portas o carro disparou com uma velocidade fenomenal através de uma
estrada sinuosa, parando quase abruptamente junto a um portão que se abria
sozinho. Entraram na estrada pública e Cesar não parecia preocupado com os
limites de velocidade. O carro lançava-se pela estrada a uma velocidade irreal,
que do interior apenas se notava pela rapidez com que a paisagem passava e pelo
ronco do motor conforme subia de rotação, porque lá dentro parecia que o carro
apenas deslizava por uma estrada plana, à excepção da força centrifuga que empurrava
o corpo para os lados nas curvas. Ainda assim, o assento moldava-se de tal
maneira aos corpos que isso não era um problema, era um mero inconveniente.
Escusado será dizer que Andreia estava muito assustada. Pelo contrário, César
tinha o ar de um miúdo com um brinquedo novo na manhã de natal.
Quando começaram a descer as
montanhas Andreia começou a ver toda a extensão da cidade que se alongava até
ao mar numa miríade de luzes coloridas e brilhantes que faziam inveja às
estrelas que quase eram ofuscados do céu. Ao entrarem na cidade, César
finalmente reduziu e Andreia descontraiu.
- Que espécie de carro é este?
– Perguntou ela finalmente.
- É um Bugatti Grand Sport de
edição especial, o Sang Bleu. É tal e qual como eu imaginava que seria. Que
máquina.
Andreia não podia deixar de
concordar, embora não o tivesse dito.
- Sabe aquele armazém enorme
que mandei fazer e lhe pareceu esquisito? – Ela acenou – É para estes carros.
Tenciono fazer um museu na herdade. Será mais um atractivo.
- Um excelente atractivo. Já
estive no museu do Caramulo, mas a sua garagem não tem nada a ver…
- Tenho é de ver se consigo
convencer os meus mecânicos a mudarem-se para lá. Mas há sempre maneiras…
Entraram para uma garagem,
onde finalmente pararam. Ele saiu e deu a volta ao carro, abrindo a porta e
auxiliando-a para sair. Depois entraram no elevador. César introduziu um código
e o elevador arrancou, levando-os para o último andar. As portas abrem
directamente para um enorme hall de entrada todo em mármore rosa.
Atravessam-no, entrando num salão enorme onde estava Ela.
- Tens noção de há quanto tempo
estou à tua espera? – Perguntou ela, desviando o olhar do horizonte e
virando-se para os encarar com um sorriso deslumbrante num rosto de anjo, sem
conseguir disfarçar nos olhos a surpresa de ver César acompanhado.
- Mais ou menos três anos. –
Respondeu César secamente. Ela ignorou completamente o comentário.
- Já estou aqui há horas.
Confesso que não esperava ver-te acompanhado.
- Já eu confesso que não
esperava ver ninguém aqui, muito menos tu.
- Ora, sabes que ainda tenho o
código…
- Eis algo que tenho de
corrigir rapidamente.
- E quem é a tua companhia, se
posso saber?
- E isso interessa-te porque…?
- Sabes que tudo em ti me
interessa…
- O sentimento não é recíproco.
- Não tinha ideia de que agora
te interessavas por debutantes…
- E eu não tinha ideia de que,
sequer, sabias que eu chegava hoje.
Como é que soubeste?
- Sabes que tenho os meus
meios. Já te fartaste do buraquinho onde te enfiaste? Como é que aquilo se
chama? Portugal?
- Não, ainda não.
- Este espécime é de lá? – Perguntou
ela enquanto se dirigia a Andreia, perscrutando-a com o olhar. Andreia
deixou-se ficar perfeitamente imóvel, sem saber como reagir.
- O que é que estás aqui a
fazer, afinal?
- Estamos tão susceptíveis,
hoje… Calma! Vim apenas convidar-te para um baile… de máscaras.
- Sabes bem que não estou
minimamente interessado.
Ela olhou para César e o seu
ar tornou-se ainda mais angélico e sedutor.
- Tens a certeza? – Perguntou
com uma voz capaz de derreter um coração de pedra.
- Tenho. – Respondeu César com
uma tal firmeza que impressionou Andreia.
- Pena… Vai lá estar o Levy… e
eu sei há quanto tempo queres falar com ele…
Dito isto, ela caminhou, ou
antes desfilou com uma classe impressionante em direcção à entrada.
- Se mudares de ideias, as
instruções estão no envelope em cima do piano. – E saiu.
César ficou silencioso,
pensativo. Andreia relaxou um pouco, enquanto tentava perceber ao que tinha
assistido. Finalmente ganhou coragem para perguntar:
- Quem era?
César pareceu ausente por mais
alguns momentos, mas finalmente respondeu:
- Julia – depois a sua face
ficou muito séria, quase irada – Prepare-se. Vamos a um baile de máscaras.
Sem comentários:
Enviar um comentário
O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!