Entrou no sitio combinado por volta das cinco e meia da tarde, depois de ter saído do trabalho. Guilherme já lá estava, vendo-a chegar com um sorriso.
Guilherme levantou-se e ajeitou-lhe a cadeira como um verdadeiro cavalheiro. Perguntou-lhe o que ela ia querer e pediu de imediato a uma empregada antes de se sentar novamente.
“Estou feliz por teres aceite este convite.”
“Eu é que agradeço. Não tenho saído muito e não tenho grande coisa à minha espera em casa…”
“Não tens de agradecer.” Respondeu ele com um sorriso
O café dela chegou e foram falando algum tempo do trabalho dela e de como tinha ido parar à firma de Fernando. Após algum tempo de conversa de circunstância e estando Marie já mais à vontade, foi Guilherme que finalmente tocou no assunto.
“Desculpa estar a falar nisto, mas soube que algo não tinha corrido bem e que estavas com problemas. É verdade?”
“É, é verdade.”
“Eu vi que estavas preocupada quando lhe ligaste pela primeira vez, no Sábado de manhã, mas depois pareceste ficar mais descansada.”
“Pois, mas o problema começou a revelar-se logo a seguir a deixares-me em casa. Arrancaste, eu dirigi-me à porta, entrei, não encontrei o Alex e liguei-lhe… E o meu mundo colapsou aí.”
“Mas o que é que aconteceu na realidade?”
Marie passou algum tempo a explicar tudo desde o começo. Guilherme ia ouvindo Marie com atenção, mas sem dar opiniões ou tentar dizer alguma coisa. Simplesmente ouvia. Quando ela acabou, ficaram os dois em silêncio por algum tempo até Guilherme dizer finalmente.
“Não fazia ideia de que se tinha passado isso tudo. Se eu soubesse, tinha virado o carro ao contrário e tinha ficado contigo.”
“Nem tu, nem eu. Para mim foi um choque. Sabia que o Alex ia ficar chateado comigo durante algum tempo, contava com isso. Mas nunca por nunca esperei que ele, de um momento para o outro me abandonasse e fosse para o outro lado do mundo.”
“Mas onde é que ele está?”
“Não sei. Ele nem aos filhos diz. Já os levou uma vez para o Chipre, para umas miniférias, mas não lhes diz onde está.”
“Para tu não saberes?”
“Não! Sabes, os meus filhos sabem que partilharem comigo o que não devem nunca mais saberão nada dele. Não creio que eles saibam mesmo. Ele diz que está numa zona de conflito e que não quer preocupá-los mais.”
“Numa zona de conflito?”
“Sim, provavelmente a gerir alguma coisa no meio de uma guerra qualquer…”
“Pois. Complicado. E tu, como é que estás a lidar com isto?”
“Olha, estou a levar a vida para a frente. Ele deixou algum dinheiro na nossa conta conjunta, mas só para eu poder fazer face a algumas despesas imediatas e eu tive de arranjar um trabalho para poder pagar as contas e manter um telhado por cima da cabeça.”
“Bem, e foste trabalhar para o Fernando…”
“Sim. Mas não foi por acaso.”
“Não? Porque é que dizes isso?”
“Porque foi a Lisa que foi sorteada com o Alex.”
Guilherme não pode deixar de rir.
“Que confusão… Sabes que a Lisa e o Fernando não foram à ultima reunião, e pelo que soube da minha mulher, não vão voltar.”
“Sei. Acho que isso também foi resultado diste situação…”
Guilherme simplesmente anuiu.
“Mas, no meio disto tudo, estás bem?”
“Não. Para te ser franca, ainda me sinto perdida.”
“E eu, agora ainda me sinto mais culpado.”
“Não sintas. Tu, tal como a Lisa, não tens culpa de nada. Vocês só foram apanhados nisto porque o vosso numero saiu. Não creio que sequer o Alex olhasse para ti como culpado de alguma coisa. A culpa é só minha.”
Caiu um silêncio pesado entre os dois. Foi Marie quem o quebrou.
“Se calhar é melhor eu ir indo…”
“Posso dar-te uma boleia, se quiseres.”
“Obrigada, mas não, não é preciso.” Respondeu Marie com um sorriso. Fez menção de se levantar e Guilherme levantou-se de imediato, e, antes de se despedirem deu o seu cartão a Marie.
“Tens aqui os meus contactos. Se precisares de alguma coisa, alguém com quem falar, sair para te distrair, companhia… Estou à distância de um telefonema.”
“Obrigada, Guilherme.”
Saíram os dois do café, seguindo cada um para seu lado.
Sem comentários:
Enviar um comentário
O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!