segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Consequências (XVII de XLIII)




“Pai, finalmente!” – exclamou Tiago quando atendeu o telefone.

“Desculpa só consegui ligar agora. Estava para te ligar e à tua irmã, mas ela apanhou-me em trânsito em Frankfurt e disse-me que tinhas um exame ontem…”

“Eu sei. Mas hoje já estava inquieto.”

“Desculpa mas tenho estado mesmo muito ocupado. Acabei de chegar e o lugar esteve vazio algum tempo e tive de me inteirar de montes de coisas… Mas isso não interessa nada. Já sabes?”

“Sim, já sei de tudo. Estou aqui em casa e vou voltar amanhã. Não achas que foste um bocadinho exagerado? Não podias ter ido para um hotel do outro lado da cidade?”

“Filho, se isso acontecesse eu ia ter de pedir o divórcio. A tua mãe ia contestar, íamos acabar à frente de um Juiz que nos mandava para um psicólogo para me tentarem convencer que a falsidade o desrespeito e a traição são algo que se pode descartar em nome de uma diversão qualquer. E depois no fim de aguentar esta tortura e gastar um rio de dinheiro em advogados, dissolviamos o casamento na mesma e ela fica com metade do que eu passei uma vida a construir. Desculpa filho. Mas dei tudo que podia dar a essa mulher, até a minha própria alma. Não sobrou mais nada. Vim para onde podia e estou fora do alcance. Ela que fique com o que deixei para trás, se conseguir. Daqui a um ano pode pedir o divórcio por abandono se arranjar maneira de pagar aos bancos.”

“E tu?”

“Eu estou bem. Não te preocupes. Tenho uma cozinheira a fazer pratos exóticos, uma governanta para me manter apresentável, uma casa de sonho, segurança privada e um emprego de topo. É verdade que a vida social aqui é um bocado limitada, até porque não posso ir a lado nenhum sozinho, mas também isso nunca me interessou grande coisa, por isso…”

“E nós, pai?”

“Tu e a tua irmã não tem de se preocupar com nada…”

“Não falava disso. Julgas que não fazes falta de outra maneira? Quando é que te vemos?”

“Bem, há rede de telemóveis, por isso, um bocado quando quiseres” respondeu Alex com um sorriso. “Eu não me vou afastar de vocês. E já agora, ficam prometidas umas férias num sitio giro. Aqui não porque isto é giro, mas é horrível ao mesmo tempo.”

“Vou-te cobrar essa promessa.”

“Não tens de cobrar. Tu e a tua irmã, vejam quando estão livres e eu trato de tudo.”

Falaram por mais algum tempo e Tiago ainda tentou em vão arrancar a localização ao pai, mas não conseguiu de todo. Quando deligaram Tiago olhou para Patrícia e ambos sentiram finalmente o vazio que se formava agora nas suas vidas.


Sem comentários:

Enviar um comentário

O QUÊ?!?!? ESCREVE MAIS ALTO QUEU NÂO T'OUVI BEM!