quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Consequências (XX de XLIII)




Tinham passado cinco meses quando Patrícia e Tiago viram o pai pela primeira vez, ao passarem os portões do aeroporto de Chipre. E dizer que ficaram surpreendidos, é dizer pouco. O pai, além de bronzeado, não estava somente em forma, estava musculado, e isso notava-se bem no seu porte, não que ele fizesse algo para o evidenciar, antes pelo contrário.

Patrícia atirou-se ao pai, cobrindo-o de beijos, mais parecendo uma miúda pequena que uma mulher de vinte e quatro, mas logo deu lugar a Tiago que deu um abraço apertado e sentido ao pai.

“Tive saudades vossas, miúdos.” Disse ele num tom embargado.

“Nós também, pai” disse Patrícia ao mesmo tempo que Tiago apenas apertava mais o abraço.

Saíram do aeroporto e foram para uma vila com vários quartos e uma piscina infinita com vista para o oceano. Tiago e Patrícia estavam pasmados.

“Caramba. Isto é luxo.”

“Queria que aproveitássemos bem o estarmos juntos. Só temos uns dias, por isso…”

“Mas não era preciso isto tudo…”

“Filha, podia não ser para vocês, mas era para mim. Quero mesmo relaxar estes dias, sem ter de me preocupar com nada.”

Os filhos encolheram os ombros e foram escolher os quartos, sendo todos relativamente similares, para arrumar a bagagem, tendo Patrícia saído do quarto em biquíni, mergulhando de cabeça na piscina e nadando até ao rebordo para apreciar a paisagem.

“Pai, a vista aqui é espectacular.”

E dizia ela isto quando Tiago sai da casa e mergulha também, fazendo companhia à irmã. 

Alex ficou parado a olhar para os filhos na piscina a brincar e uma torrente de recordações veio-lhe à mente, de tempos mais felizes. Mas a presença de Marie em todos eles parecia tingir essas memórias.

“É tempo de fazer novas memórias” pensou, enquanto entrava no seu quarto e se trocava para uns calções de banho, juntando-se aos filhos na piscina.

Conforme ele mergulhou e veio à tona, reparou em ambos a olhar para ele, admirados.

“O que foi?”

“Pai,” perguntou Patrícia “O que é que tens andado a fazer?”

“Porquê?” Perguntou Alex admirado. Desta vez foi Tiago que respondeu.

“Tu já olhaste bem para ti? Eu julgava que estavas em forma antes, mas… estás inchado!”

Alex riu.

“Ando a ter um treino intensivo militar. Foi adoptado pela equipa de segurança onde estou e eles torturam-me todos os dias.”

“Treino militar? Mas onde é que estás, pai?” Perguntou Tiago.

“Não interessa. É um sítio muito pouco recomendável. Fiquemos por ai.”

“Mas porquê?”

“Porque eu não quero que se preocupem em demasia. As coisas não são tão más como aparecem ao mundo. Digamos que não corro perigo.”

As conversas esbateram-se por ali, voltando a tópicos mais mundanos, com Alex a querer inteirar-se da vida dos filhos e como as coisas corriam para eles. Mas havia sempre uma inevitável contenção de ambos, uma vez que não queriam falar da mãe, porque sabiam que o pai não o quereria.

Passaram os dias juntos até à despedida, com a promessa de Alex de repetirem logo que possível onde fosse possível. Alex voltou ao seu lugar com a alma cheia como não sentia há muito.

Já os irmãos partiam felizes por ter visto o pai, mas apreensivos quanto ao futuro e a saberem que alguém em casa os aguardava ansiosamente à espera de ter um mínimo de um vislumbre…


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