A casa tinha uma aparência estranha para ele. Devia ser uma propriedade bastante rica, porque estava isolada e algo distante da povoação mais próxima. Grande, ao contrario da maioria das casas. Entrou e a casa estava muito mais fresca do que pensava. No lusco fusco, as paredes eram desenhadas pela luz que passava através de intrincados detalhes talhados nos painéis de madeira que estavam por todo o lado. No centro da casa um pátio interior que lhe fazia lembrar um claustro de um convento em miniatura mas todo revestido e com colunas de madeira entalhada com detalhes riquíssimos. Teria tempo para os analisar ao pormenor, mas não deixou de ficar impressionado. No quarto, enorme, uma secretária moderna com um computador contrastava com os móveis e poltronas de aspecto antigo e com a enorme cama de dossel que daria para quatro pessoas folgadamente.
Miguel e um dos outros homens entrou atrás dele, trazendo as malas.
“Onde quer que as ponhamos?” Perguntou.
“Deixem-nas em qualquer lado, eu depois trato disso.”
“Antes de me retirar,” deu-lhe um pequeno papel “ Nesse papel tem o meu número e mais alguns números importantes. Para já ficará sozinho, mas está um homem na frente da casa e outro nas traseiras. O nosso aquartelamento é nas instalações da sede e é lá que eu estarei, mas virei com a frequência que for necessário. Seja o que for, não hesite em ligar-me. Mais logo o pessoal que vai cuidar da casa vai chegar. Já foi pré-aprovado por nós. Terá uma cozinheira e uma governanta. Não são locais. Amanhã de manhã chegará o seu secretário que trabalhará em permanência consigo, aqui e na sede. Agora deixo-o, mas informo desde já que tem uma reunião marcada para as onze da manhã, pelo que estaremos aqui para o levar às dez e meia. O seu secretário chegará pontualmente às nove. E ele é britânico…” acrescentou no fim com um sorriso, que mereceu outro de Alex em resposta.
“Obrigado Miguel.”
Os homens saíram e Alex ia para se sentar, mas chamou:
“Miguel.” Este voltou atrás com uma expressão interrogativa “Por acaso não haverá nesta casa algo que se beba?”
Miguel sorriu, atravessou o quarto, pressionou um painel na parede que abriu e revelou um minibar, saindo em seguida.
Alex respirou fundo, atirou o casaco que ainda tinha nas mãos para cima da cama, descalçou-se, desapertou a camisa, agarrou um copo e procurou através das garrafas até encontrar um whisky que lhe agradava, juntou duas pedras de gelo, sentou-se numa convidativa poltrona de veludo carmesim que o aconchegou de imediato, agarrou no telemóvel, verificou, para sua surpresa, que tinha rede e ligou. Esperou algum tempo até ouvir o sinal de chamada, ao ponto de pensar que afinal era falso alarme. Mas de repente ouviu o toque que foi atendido de imediato.
“Pai.” A voz de Patrícia ansiosa do outro lado “onde é que tu estás?”
“Numa poltrona de veludo.” Respondeu numa voz calma e controlada “Estás ao pé da tua mãe?”
“Sim, mas vou para o quintal, se quiseres.”
“Sim, é melhor. Ou então posso ligar noutra altura…”
“Não, nem penses. Já me estou a afastar. A Lisa também está aqui…”
“Olha que bom. Presumo que já te tenham dito alguma coisa.”
“Já, pai. O suficiente para neste momento a mãe não ser a minha pessoa favorita.”
“Espero que não te tenham contado mesmo tudo…”
“Não, omitiram as partes gráficas.”
Ficaram em silêncio, sem saber o que dizer um ao outro.
“Pai, depois de ouvir a história percebo-te, mas não achas que foste um bocadinho precipitado?”
“Se a tua mãe entrasse em casa com o sorriso que lhe ouvi na voz quando ligou a primeira vez, a esta hora eu estava na prisão e tu estavas órfã de mãe. E como não a podia matar, até porque nunca te privaria, a ti e ao teu irmão, dela, matei-a em mim. Para mim ela morreu. Quando falarmos não quero que a menciones e, se queres que continuemos a falar, pensa bem o que dizes de mim. Não só ela está morta para mim, eu quero estar morto para ela.”
“Vais pedir o divórcio?”
“Eu? Ser traído e ainda perder metade do que passei uma vida a trabalhar para conquistar? Não. Ela que trate disse daqui a um ano e que fique com o que eu deixei para trás. Entretanto deve arranjar outro estúpido qualquer que a queira sustentar.”
“Também não precisas de falar assim da mãe.”
“Não estou a falar mal, estou a constatar uma realidade plausível.”
“Fazes ideia de como ela está?”
“Acho que te disse algo há uns segundos atrás…”
“Sim, desculpa. Mas onde é que estás?”
“Se queres que te diga, nem eu sei bem… Mas de qualquer maneira não te vou dizer.”
“Não queres que a mãe descubra?”
“Não quero que tu e o teu irmão se preocupem. O Tiago já sabe?”
“Sabe que houve um problema grave, mas tem um exame amanhã, e eu não lhe disse mais nada para não lhe descarrilar o exame.”
“Fizeste bem. Estava para lhe ligar a seguir, mas assim vou deixá-lo em paz. Quando falares com ele, diz que lhe ligo na terça-feira.”
“OK. Eu digo.”
“Olha, eu acabei de chegar, ainda nem me instalei e estou cansado. Já sabes que estou bem. Quando precisares de alguma coisa, seja o que for, seja a que horas, liga. Estou aqui para ti.”
“Eu sei, pai.” respondeu Patricia com a voz embargada. “Vai descansar então. Falamos depois.”
“Amo-te, filha”
“E eu a ti, pai.”
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