quinta-feira, 7 de novembro de 2024

Consequências (VII de XLIII)



Guilherme Ferreira não é um homem particularmente atraente. Baixo, de cabelo meio ralo, apesar de ainda não ter quarenta anos feitos, um bocado para o mais forte do que deveria, fruto sem dúvida da vida que levava imerso em stress. No entanto era extremamente inteligente e charmoso… Para além de imensamente abastado, com uma fortuna que já vinha de família, mas que ele aumentou ainda mais.

Claro que a mulher dele era absolutamente deslumbrante, aliás, como todas as mulheres que estavam na festa. Não era um acaso os convites não serem dados a qualquer um.

Embora houvesse homens muito mais apelativos e interessantes na festa, Marie ficou contente por lhe ter saído Guilherme. Não porque tivesse alguma preferência por ele, aliás, nem o conhecia, embora fosse amiga da sua mulher. Mas o facto de ele nãos ser particularmente atraente de certeza que iria ajudar a ultrapassar a situação que ela sabia que teria em casa no dia seguinte, após a conversa que tiveram há poucos momentos.

Tinha tentado esquivar-se ao Alex até à hora do sorteio, mas ele acabou por perceber o que se passava e confrontou-a. Ela sabia que estava em falta, que tinha mentido para o conseguir arrastar, tinha-o tentado com promessas durante a noite…

Claro que nenhuma das promessas que fez foi em vão. Ele ia acabar a noite com alguém que, a avaliar pelas conversas com as amigas, fosse quem fosse, ia fazer os possíveis por aproveitar. Como ela tinha dito “A sortuda a quem ele sair que aproveite, porque duvido que isto se venha a repetir”. Mas ela sabia que a espectativa dele não era qualquer uma das outras mas sim ela própria.

Quando Alex lhe disse que iam embora e ela viu o que ia no olhar dele, duvidou por instantes e esteve quase a ceder, mas depois veio a voz com o anuncio do sorteio…

E depois estava ali. Se voltasse atrás seria uma desilusão para toda a gente que tinha criado expectativas em torno de ambos. Se seguisse em frente… Depois de ver a expressão completamente irada nos olhos dele, que à medida que as recusas dela continuavam se iam tornando frios como o aço, sabia que os próximos tempos seriam difíceis, e que ela teria de se superar para que a relação entre ambos voltasse ao lugar. Mas ela sabia que ele a amava. E ela faria tudo o que fosse preciso para apagar a dor que via nos olhos dele.

Dai ter ficado feliz por, quando o seu numero foi anunciado, ser o Guilherme quem a esperava no centro da sala. Sendo o arranjo por sorteio, ainda por cima, menos razões haveria para que o ciúme dele subsistisse.

Quando ele lhe disse “Não faças isto” com uma expressão quase de… ódio?! Nos olhos a sua vontade vacilou. Lá dentro uma pequena voz disse-lhe que nada disto estava bem. Mas era tarde demais, esperavam-na e ela sabia que amanhã começaria um longo caminho… Ou talvez não. Talvez ele acabasse por ter uma experiencia espetacular e se tornasse mais fácil… Quem sabe, até poderiam voltar a uma destas festas noutra ocasião. Mas neste momento, olhando para a cara dele, não pode deixar de se perguntar se não estaria a fazer o pior erro da sua vida…

“Daqui a pouco o teu numero vai ser chamado, vais sair daqui acompanhado, vais ter uma noite com uma experiencia diferente e amanhã vais ver, quando falarmos, que isto só nos vai aproximar mais.” Acabou por lhe dizer, voltando as costas e caminhando em direção a Guilherme sem olhar para trás. Sabia que se o fizesse, provavelmente pararia tudo ali.

Não viu o seu marido a ficar branco e tonto, a ter de se segurar numa parede para não cair, o esgar de dor na cara dele enquanto levava a outra mão ao peito, os suores frios que lhe começaram a descer pela testa, a respiração acelerada dele. Apenas viu o olhar de felicidade e desejo de Guilherme e sentiu-se… poderosa! Chegou-se ao pé de Guilherme e deu-lhe um suave beijo nos lábios. Pela primeira vez desde que conhecera Alex sentiu os lábios de outro homem e o sentido de estar a fazer algo proibido lançou-lhe um arrepio de excitação pela espinha. Continuou sem olhar para Alex e não viu que enquanto saia da sala ele se transformava lentamente numa estatua com um olhar assassino.

Saiu da Mansão e foi levada ao Maserati de Guilherme. Não falaram muito na viagem, mas ela sentia o olhar de desejo dele. Sentir a mão dele a repousar casualmente na perna dela foi algo de estranho, ao primeiro toque, mas as sensações de desejo e luxuria que sentia sobrepunham-se à racionalidade. No entanto a parte racional ainda lá estava e a preocupação também.

Quando recebeu a mensagem de Lisa a dizer que tinha sido ela a contemplada respirou um pouco com mais serenidade.

Lisa era, sem dúvida, uma das mulheres mais atraentes que ela conhecia. Não eram só as proporções do seu corpo, o seu rosto de anjo ou aqueles lindos cabelos que pareciam feitos de fogo liquido, era também o seu porte, a sua classe. Já tinha visto alguns dos homens mais poderosos ficarem sem palavras perante ela. O Alex seria incapaz de a recusar. Não seria?

Perguntou-lhe por mensagem como estavam as coisas. Lisa respondeu que estavam no carro, a caminho de casa dela, mas que estava algo desapontada porque ele não parecia nada o homem que ela sempre tinha descrito. Antes pelo contrário, parecia estar a ignorá-la completamente, o que a estava a deixar confundida.

Chegaram a casa de Guilherme, uma mansão nos arredores também, muito mais discreta que a dos Pereiras, mas ainda assim enorme. Entraram, e Guilherme foi buscar duas taças de champagne. Brindaram, beberam…

Guilherme não perdeu tempo e envolveu-a num beijo languido, mas ela não se conseguia abandonar, a pensar como as coisas estariam a correr. No entanto, para não haver distrações, desligou o telemóvel e tentou abandonar-se ao momento. Isto era uma fuga à realidade. A realidade voltaria amanhã.

A delicadeza de Guilherme foi extrema, enquanto a beijava e despia devagar. Os olhos dele, carregados de desejo diziam-lhe o quanto este homem a queria agora. Ele fez-lhe deslizar o vestido até aos pés, deixando-a quase gloriosamente nua, apenas com a lingerie que lhe fora oferecida por Alex e que ela tinha usado para ele apenas uma vez. Um pensamento cruzou-lhe a cabeça “Devia ter escolhido outro conjunto…” mas este era talvez o conjunto de lingerie mais ousado que tinha.

Guilherme arrastou-a para a cama, beijou todo o seu corpo enquanto descascava os restantes itens de vestuário e quando completou a tarefa colou a sua boca ao seu sexo, provocando-lhe uma onda de prazer que a perdeu completamente e estiveram assim bastante tempo, levando-a ele a um orgasmo intenso. Foram trocando caricias orais por mais algum tempo até que ele acabou por a tomar com meiguice e suavidade. Mas foram evoluindo ao longo da noite, criando confiança um no outro e quando fizeram amor pela ultima vez ele tomou-a com força, submetendo-a, e ela gozou com uma intensidade que ela já não sentia desde os primeiros anos com… Alex!

Estava ainda a descer do sétimo céu, enquanto Guilherme tomava um duche rápido e ela esperava para ir em seguida quando ligou de novo o seu telemóvel e viu que tinha uma mensagem nova de Lisa, mandada há poucos minutos. Ligou de imediato.

“Marie, só te estou a ligar para te dizer que já vou a caminho de casa.”

“Já? Mas o que é que se passou?”

Houve um silêncio enorme do outro lado, algo que a começou a deixar preocupada.

“Ele não sabia no que se estava a meter quando foi contigo, pois não?”

O seu coração perdeu uma batida.

“Não, não sabia.”

“E tu resolveste fazer isto na mesma? Tu és louca? Sabes o que arriscaste?”

“O que é que queres dizer com isso?”

“Quero dizer que se estivesse na tua posição jamais arriscaria perder este homem por causa de uma noite de sexo sem significado nenhum!”

As palavras de Lisa doeram.

“O que é que se passou? Ele não…”

“Olha, eu achei estranha a atitude dele. Quando fui ter com ele ao meio da sala ele nem parecer ver-me a chegar, estava pálido e com uma cara de quem estava disposto a dar cabo daquela gente toda. Cheguei-me a ele para lhe dar o beijo e nem mesmo assim ele reagiu. Nem olhou para mim. Acreditas que ele nem olhou para mim? A primeira reação que ele teve foi quando lhe agarrei o braço e o arrastei, mas durante o caminho todo ele parecia completamente ausente. Mesmo a pouca conversa que consegui dele foram pouco mais que mono sílabos ou respostas vagas. Depois chegamos a tua casa, ele meteu o carro na garagem e saiu. Deixou-me no carro como se nem se lembrasse que eu lá estava. Comecei a perceber que não só ele não sabia como não queria nada disto. Fui à casa de banho, tentei ligar-te mas o telefone estava desligado. Achei que tinha mesmo de o tentar seduzir, senão as coisas iam correr muito mal para ti hoje.”

Marie ouvia aas palavras de Lisa e sentia o coração a apertar.

“E depois, o que aconteceu?” perguntou já com medo da resposta.

“Depois tirei o vestido, respirei fundo e voltei para a sala. Entrei na sala em lingerie e saltos. Sabes que não há homem de sangue quente no mundo que não me saltasse para cima naquele instante… Mas ele nem sequer olhou para mim. Estava sentado na poltrona da sala, a beber a sua segunda ou terceira dose de whisky desde que tínhamos chegado a olhar para a parede mas completamente ausente. Não era que eu não estivesse ali… Ele é que não estava!”

Marie sentiu o seu coração a apertar. O que é que ela tinha feito?

“E depois?”

“Bem, depois eu fiquei à frente dele e só aí é que ele pareceu dar pela minha presença. Fez uma expressão… Nunca vi algo assim! Parecia de… Nojo! Nunca me senti tão pequena e insignificante à frente de ninguém. Ajoelhei-me à frente dele, comecei a acariciar-lhe as pernas, ele não me parou, mas parecia continuar completamente indiferente. Subi por ele acima, comecei a desapertar-lhe a camisa, mas ele continuou sem reacção, nem sequer olhava para mim. Só se mexia para levar o copo aos lábios. Acreditas que lhe beijei o corpo todo e ele nem sequer reagiu?”

“Ó meu Deus. Ele não reagia a ti?”

“Não. Só quando eu lhe disse que tu estavas algures a aproveitar a tua noite e que ele também o deveria fazer é que ele reagiu. Agarrou-me de repente e deu-me um beijo que me deixou completamente sem folego. Mas foi estranho. Não havia paixão, não havia tesão, não havia luxuria… Ele agarrou-me ao colo, levou-me para o quarto, atirou comigo para cima da cama como se eu fosse uma boneca, acabou de tirar a camisa e as calças, agarrou as minhas cuecas com a mão a arrancou-as de mim e tornou-se um verdadeiro animal.”

A consciência de Marie acalmou ao ouvir isto. Ele não tinha resistido. Estavam em pé de igualdade. Isto ia tornar o dia mais fácil. Quem sabe, tornar o futuro mais fácil.

“Foi estranho,” continuou Lisa “Nunca alguém me tinha tomado assim. Ele não me deu hipótese de fazer nada, não houve carinhos, beijos, preliminares… Ele fodeu-me durante três horas com uma intensidade… Não que esteja a reclamar… Amiga, nos meus 37 anos de vida nunca tive uma experiencia tão intensa… Aliás, nunca tive tantos orgasmos. Mas depois ele acabou, deixou-me no quarto, voltou nu para a sala, encheu novamente o copo de whisky e voltou a sentar-se na poltrona a olhar para nada e a beber. Queria ficar até de manhã, como de costume, mas percebi que não adiantava ficar. Vesti-me e chamei um táxi e disse-lhe que ia indo. Ele ainda perguntou se eu queria que ele me levasse, mas eu achei melhor não. Ele tinha bebido bastante, mas parecia completamente lucido, como se o álcool estivesse a passar por ele sem fazer efeito. E agora já estou a caminho de casa.”

“E como é que vais fazer? O Fernando ainda deve ter companhia…”

“Eu esgueiro-me para o escritório e durmo um bocado lá no divã. Eles nem vão dar por mim. Mas, e tu? O que é que vais fazer?”

“Não sei. Fico descansada por ele ter estado contigo, acredita. Senão ia ter um inferno pela frente. Mas mesmo assim… Acho que não voltar mesmo a nenhuma destas festas. Acho que vai ser uma sorte conseguir algo dele nos próximos tempos…”

“Posso dizer-te uma coisa sem levares a mal?” perguntou Lisa meio a medo.

“Claro que sim.”

“Marie, porque é que arriscaste tudo por tão pouco?”

Marie ficou a pensar durante algum tempo. Era uma boa pergunta. Se calhar tinha sido útil alguém ter-lhe feito esta pergunta antes. Realmente, agora que os sentimentos tinham acalmado, o que é que ela tinha ganho com esta experiência? Muito pouco. Talvez somente a certeza de que o seu marido é, sem dúvida, o único homem que quer na sua vida. E precisava de ter passado por isto para ter essa certeza? Precisava tê-lo magoado tão profundamente? Ela sabia a resposta. Não.

“Se queres que te diga, hoje, depois de tudo… Não sei! Mas sei que se pudesse voltar umas horas atrás…”

“Agora é tarde. Acho que vais passar anos até voltar a ter a confiança dele de volta, se alguma vez tiveres.”

“Pois, tens razão. Mas acredita, Nunca, mas nunca mais lhe vou dar a mínima razão para desconfiar de mim. Havemos de ultrapassar isto.”

“Espero bem que sim, amiga. Agora tenho de ir, estou a chegar à porta de casa.”

“Vai. Falamos mais logo, depois de descansarmos. Beijos.”

E desligaram.

Guilherme voltou para o quarto, deitando-se ao lado dela e notando o ar dela perguntou:

“Está tudo bem?”

Ela forçou um sorriso e respondeu.

“Há-de ficar.”


2 comentários:

  1. Isto é que vai aqui uma açorda, eu hein?
    Pobre Alex! Não o tivesse espicaçado a outra relembrando-lhe que a sua mulher esta com outro, e aquela loucura sexual feita de raiva, nunca teria acontecido.
    Sinto pena dessa gente, sabes?
    Será que estas cenas existem mesmo?
    Abraço, Gil.
    (tem juizinho, ok?)

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    Respostas
    1. Posso dizer-te com 100% de certeza que sim, existem mesmo!
      E, quando é consensual, cada um sabe de si e Deus sabe de todos!
      Mas quando uma das partes é, de alguma maneira, forçada... A coisa nunca acaba bem!

      Eu tenho sempre Juízo, exceto quando não tenho... ;)

      Abraço, Janita :)

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