Nos dois dias seguintes ela nem se deu
conta de que quase não falou com o marido. Estava tão perdida entre mensagens
de texto e tão ansiosa que nem reparou que ele quase não saiu do escritório.
Mesmo ao jantar, a única refeição que partilhavam sem excepção, não reparou que
mal trocaram algumas palavras.
Dois dias depois ela
chegou a casa, foi tomar um longo banho perfumado, escolheu cuidadosamente a
sua lingerie, a roupa com que ia
sair, aplicou cuidadosa e meticulosamente a sua maquilhagem, vestiu-se, calçou
uns sapatos escandalosamente altos, mas que faziam as suas pernas parecerem
mais torneadas do que já eram, olhou-se ao espelho e pensou no que o seu quase
amante sentiria quando a visse. Tesão, esperava ela. Só o simples pensamento
criava alguma humidade na sua zona genital, o que era algo de novo para ela.
Raras vezes se tinha sentido assim, e gostava do que sentia. Mal podia esperar!
Saiu do quarto, toda
produzida, abriu a porta do escritório do marido, que olhou para ela assim que
a porta abriu e não conseguiu conter o espanto, logo seguido por um apagar
daquela chama que pareceu surgir momentaneamente no seu olhar.
-Vou sair. – Anunciou
ela simplesmente.
-Ok! Não te esqueças
do que combinamos! Avisa-me que estas bem. Se algo não estiver bem, liga-me.
-Não me esqueço. Até
logo.
-Até… - disse ele num
tom mortiço, desviando o seu olhar para o monitor e desviando por completo a
atenção dela.
Daí a cerca de meia
hora recebeu uma mensagem dela dizendo que estava tudo bem. Respondeu “OK” as
lagrimas corriam-lhe pela face e os gatafunhos no monitor bem podiam ser
hieróglifos sem sentido. Como a sua vida aparentava estar, sem sentido.
O seu cérebro não
parava, o seu ego torturava-o e rebaixava-o. “Achas-te um homem a sério?”, “Se
te desses ao respeito ias ter com ela e davas uma valente trepa ao tipo”.
Estava farto desta voz na sua cabeça. Levantou-se de repente, foi até à garagem
e procurou uma caixa, da qual já não sabia o paradeiro há muito. Não a
encontrava, por mais que procurasse, até que olhou para uma outra caixa,
abandonada há mais de uma década, coberta de pó e lembrou-se que a caixa que
procurava estava dentro da outra. Procurou um pano e retirou a caixa grande do
lugar onde repousava, limpando depois 12 anos de poeira e lixo que nem deixavam
ver a cor castanha da caixa. Finalmente abriu-a, e ali estava, não só a pequena
caixa que procurava, mas também a sua guitarra, uma Les Paul Standart que tinha
sido o seu maior orgulho. Tirou a caixa pequena e colocou-a no bolso de trás
das calças e ia para fechar a caixa quando parou e olhou para a guitarra.
Parecia que após 12 anos de silêncio, ela queria falar novamente. Fechou a
caixa, mas levou-a para dentro de casa, para o seu escritório. Aí, retirou-a
finalmente. A caixa tinha cumprido com a sua obrigação e a guitarra, à excepção
das cordas ferrugentas, parecia que tinha sido arrumada ontem. Tentou afiná-la,
mas as cordas simplesmente desintegraram-se. Pousou a guitarra de volta no
estojo e perguntou-se se ainda saberia tocar.
Mas, ainda que
quisesse descobrir, sem cordas seria impossível. Pegou na caixa pequena,
abriu-a e retirou dela uma cabeça de erva, uma mortalha, procurou um pouco de
cartolina, com o qual fez um filtro, enrolou um cigarro de uma maneira pouco
convencional, devido à falta de prática, mas lá conseguiu qualquer coisa. Foi
para o seu quintal, acendeu o cigarro e pela primeira vez, nos últimos dias,
sentiu os seus pensamentos desvanecerem-se numa nevoa de esquecimento.
Depois foi-se deitar.
Uma eternidade, ou
pelo menos assim lhe pareceu, depois recebeu uma mensagem dela, “está tudo bem,
a voltar agora para casa”. Mais uma vez respondeu “OK” e desligou o telemóvel.
Meia hora depois
ouviu a porta da rua a abrir. Pouco depois viu-a entrar no quarto, pé ante pé,
ela abriu gavetas com todo o cuidado, tirou roupa de dormir e saiu do quarto.
Voltou uns 20 minutos depois, com o cheiro de ter acabado de tomar banho e o
cabelo quase seco mas ainda com alguma humidade.
Ela deitou-se o mais
devagar que pode, só se apercebendo então que ele ainda estava acordado quando
ele levantou o braço, como sempre fazia, deixando-a aninhar-se nele com a
cabeça encaixada no seu ombro.
-Estás bem? – Perguntou
ele num sussurro.
-Sim! – Respondeu.
Estava mesmo bem. Tinha ido jantar a um hotel e o seu amante tinha feito os
possíveis por ser o primeiro encontro mais romântico possível. Depois subiram
para um quarto, já no elevador tinha sido impossível conterem-se e quando
chegaram finalmente ao quarto já todas as roupas de ambos estavam desalinhadas
e começaram a ficar espalhadas pelo chão mesmo antes de a porta fechar. E assim
que as roupas saíram dos corpos ela empurrou-o para a cama e estava já tão
molhada que o fez entrar nela de uma só vez, tirando-lhe a respiração. O
orgasmo foi breve, intenso como ela nunca tinha tido! Nunca na sua vida tinha
sentido tanto desejo. Depois falaram por algum tempo, trocaram mimos e carícias,
embora não tenham voltado a fazer amor. Não que ela não se tivesse esforçado
mas ele estava cansado e não conseguiu. Mas ainda sentia o seu corpo a vibrar
da excitação daquela primeira noite.
Aninhou-se ainda mais
no seu marido e deslizou para o sono…
É do caraças, senhores leitores.
ResponderEliminar:)
Do caraças? LOL
Eliminar(só aqui para nós, não me parece que haja muitos desses por aqui... ;) )
EliminarE então! Qual a dúvida?
EliminarNem todos os tripeiros têm o vocabulário curto ahahahaha
Bom dia, sô Gil
É o que faz dares de frosques, os leitores desabituam-se, ahahahah
EliminarNão me estava a queixar, só a constatar, uma vez que te dirigiste aos "potenciais" leitores... LOL
EliminarClaro que foi uma introdução e um orgasmo rápido. Ainda vinha quente do amante, lol
ResponderEliminarGostei da narrativa. Voltarei. Cumprimentos
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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A narrativa é acerca do que se passou no hotel com o amante. Nada se passou com o marido (só para esclarecer...) :)
EliminarObrigado pela visita
Cumprimentos
Fico dividida ao ler esta história. Por um lado entendo que um relacionamento como o deste casal, que vem quase do berço, seja um bocado morno e que ela sentisse necessidade de mais. Por outro lado não entendo essas modernices de casamento aberto, e infidelidade é infidelidade seja em que situação for mesmo que apenas numa relação temporária. Enquanto se está com um parceiro respeita-se esse parceiro. A situação não é a melhor na cama. Conversa-se com ele ou ela, e faz-se saber do que se gosta e como se gosta. É assim que penso, mas enfim eu já sou velhota, estou ultrapassada.
ResponderEliminarAbraço, saúde e uma boa semana
Elvira, como diz, modernices...
Eliminar...se isto fosse a anedota do Alentejano, ele chegava a casa, dava com ela e o amante na sala e dizia "Tu e essas modernices... Ê que nã t'apanhe é fumando, tájóvir?" ;)
Abraço, Elvira :)