A vida em casa tinha voltado quase ao
normal, pelo menos aquilo que era normal em tempos mais recentes.
Ele continuava a sair
aos fins-de-semana embora ela já não saísse. Na cabeça dela as dúvidas
acumulavam-se e os ciúmes também! Mas as conversas que tinham eram cada vez
mais leves. A disposição dele mudava a cada dia, como se um peso lhe tivesse
saído dos ombros. Não era o homem que ela conhecia, ainda, mas estava bem mais
próximo do que em todos os meses anteriores.
Ela odiava o que o
seu amante tinha feito. Odiava-o! Sentia-se deprimida pelas suas acções, por
ter sido tão infantilmente enganada! Mas ao mesmo tempo o seu corpo, com o
passar dos dias, rebelava-se. Por vezes perdia-se a recordar os dias de paixão
com o amante. Excitava-se e acabava por se masturbar a pensar nele. Apesar de
ter cortado todo o contacto com ele, não havia uma altura em que um sinal de
aviso no telemóvel não fizesse com que os seus pensamentos fossem directamente
para o amante, bem como não conseguia conter uma ponta de desilusão por não
ser.
Já o amante, no
próprio dia em que Clara foi confrontada pela mulher dele, grávida, tinha pedido
a transferência para outra cidade onde a firma tinha também um escritório, e
ela nunca mais o vira. E ainda bem, pensava para si! Mas ainda assim…
Mas, mais do que lhe
apetecia o amante, apetecia-lhe sexo! E a verdade é que tinha um belíssimo
exemplar do sexo masculino em casa! E foi enquanto pensava nisto que se deu
conta que há meses, desde a conversa sobre a abertura no casamento, que não
fazia amor com o seu marido! Pela primeira vez dava-se conta disso, com alguma
surpresa! Em todo aquele tempo ele nunca sequer tentou iniciar nada, como era
costume! Zero! E este simples pensamento fez avolumar mais ainda a questão que
já lhe andava na cabeça há algum tempo: Quem é ela?
Decidiu tomar conta
da situação de uma vez por todas. Ele tinha saído, mas não ia demorar. Ela bem
que tinha percebido os olhares dele quando se preparava para sair com o amante.
Vestiu a sua lingerie mais sexy, um vestido revelador, mas com
classe, algo que ela sabia chamar a atenção de qualquer homem, sem no entanto lhe
dar um ar vulgar, maquilhou-se a preceito e depois sentou-se na sala e esperou.
Quando ele entrou em
casa e a viu daquela maneira, o seu coração saltou uma batida. Estava
simplesmente deslumbrante, e apeteceu-lhe largar os sacos de comida no meio do
chão e tomá-la ali mesmo. Mas recompôs-se e seguiu para a cozinha onde pousou
os sacos.
Ela seguiu-o.
-Que é que achas? – Perguntou
ela, fazendo a pose mais sexy que conseguiu
imaginar.
-Estás gira. Vais
sair?
-Não!
-Não? Vestida assim?
-É para ti!
Ele olhou para ela
com uma cara séria.
-Para mim? – Perguntou
com alguma surpresa.
-Sim! Não te pareço
apetecível? – Perguntou, aproximando-se num passo sedutor, como uma pantera que
encanta uma presa.
-Muito! - Respondeu
ele, sem que a sua expressão se alterasse.
-Não estou desejável?
– Continuava a aproximar-se! Ele continuava imóvel.
-Estás!
Ela colou o corpo ao
dele.
-Não me desejas?
- Mais do que possas
imaginar!
A resposta dele
deu-lhe alento! Deu-lhe um beijo no pescoço e continuou:
-Queres-me?
-Não!
O seu mundo
estilhaçou-se, de repente, com uma simples palavra. Largou-o de imediato e olhou
para ele, magoada de uma forma que até a fazia tremer por dentro.
-Não?
-Não!
As lagrimas
irromperam-lhe nos olhos, virou as costas, saiu da cozinha. Ele arrumou o
conteúdo dos sacos. Ela sentou-se no sofá a chorar quase compulsivamente,
embora se esforçasse por se conter. Ele saiu para o quintal, nas traseiras. Ela
enrolou-se em posição fetal enquanto mil imagens dele com outras mulheres mais
bonitas, mais jovens lhe percorriam a imaginação! Ele fumava um charro enquanto
tentava também conter as lágrimas.
Quando acabou de
fumar, voltou para a cozinha e foi preparando o jantar. Ela já se acalmara um
pouco, mas continuava encolhida no sofá a chorar baixinho.
Ao fim de uma meia
hora ele chamou-a para jantar. Ela levantou-se, foi à casa de banho limpar a
cara da maquilhagem esborratada, foi ao quarto e trocou de roupa para algo mais
de trazer por casa, sentou-se à mesa e começou a debicar o seu prato em
silêncio enquanto mil coisas lhe corriam no pensamento! Ele manteve-se em
silêncio também! Por fim ela falou:
-Estive a pensar e
gostava de acabar com a “abertura” no nosso casamento!
Ele parou de comer e
ficou a olhar para ela de uma forma bastante séria. Ela, neste momento, mais do
que em qualquer outro, não sabia o que esperar dele. Ele falou, por fim:
-Antes de te
responder a isso, gostava que tivesses a noção do extremo egoísmo de que essa
afirmação está carregada.
-Egoísmo?
- Sim, puro e duro!
Repara, quiseste abrir o casamento para perseguires os teus sentimentos,…
-E tu concordaste!
-Sim, porque a alternativa,
como tu a puseste naquele dia seria isso ou um divórcio. Não sei se estás
recordada…
Ela calou-se. Não
tinha argumento. Ele tinha razão.
-No entanto,… -
continuou ele - …agora que tudo correu como era mais ou menos espectável que
corresse, já não tens interesse nenhum! E como tu não tens interesse, então
fecha-se e pronto! Não achas um tudo-nada egoísta?
As palavras dele
doíam-lhe na alma, sobretudo porque ela sabia que ele tinha razão. Mais ainda
porque a suspeita de que ele teria alguém se adensou. Que outro motivo teria
ele para lhe responder assim? Manteve-se em silêncio e ele continuou:
-E quem é que me
garante que amanhã não há alguém que te encha o ego e afinal sempre querias o
casamento aberto?
Apesar das palavras
serem duras, o tom em que eram ditas não tinha uma única nota de reprovação.
Uma única nota de acusação. Era apenas uma pergunta legitima, em face a tudo o
que se tinha passado!
-Eu sei que tens
razão,… - acabou ela por dizer - …mas, independentemente disso, gostava de
fechar o casamento… caso tu concordes!
-Tens noção de que se
eu concordar esta é uma opção que nunca mais vai estar em cima da mesa, seja a
que pretexto for? Que se houver algum indício seja do que for, o pedido de divórcio
vai ser imediato?
-Tenho!
-E mesmo assim
queres?
-Sim. Acho que é
justo dar-te algum tempo para arrumares algum assunto pendente… duas semanas?
Achas bem? – Ele encolheu os ombros em resposta – …mas após isso, nada mais!
-Ok, seja como tu
queres!
A coisa está a acinzentar, ainda que, em cinzento escuro :-)
ResponderEliminarBoa tarde, sô Gil
Sim, mas a negritude vai levantando... :)
EliminarBoa tarde, D. Noname
Começo a gostar deste Marcelo! Tomara que ele não ceda assim com duas cantigas, afinal, um homem (ou mulher) tem a sua dignidade, não é um objecto que ora se deseja ora se recusa, por aparecer outro mais apetecível. Ai, agora que o outro deu de frosques é que reparou no homem sexy que sempre teve em casa? :))
ResponderEliminarSiga a dança, senhor escritor e não ligue a bocas foleiras. :)
Um abraço.
Eu já só ligo a muito poucas coisas... :)
EliminarAbraço