sexta-feira, 7 de maio de 2021

Um casamento moderno - XI

  (Hoje ficam mais dois capítulos, para compensar o Fim-de-Semana - este é o segundo)


Tomás partiu de volta para Londres antes do fim-de-ano e as rotinas voltaram.

Mas, apesar disso, os medos e a insegurança de Clara cresciam. Querer saber quem era a mulher ou as mulheres com quem o seu marido saia era agora quase uma obsessão, ao mesmo tempo que um fruto proibido. Se bem conhecia o marido, a única forma de saber alguma coisa seria perguntar-lhe directamente, mas não se atrevia a fazê-lo. Afinal tinha sido ela própria a estipular que não deviam conhecer os parceiros um do outro, mas a dúvida corroía-a.

Desde a conversa com a mãe que se sentia cada vez mais vacilar. Pesava nos seus anos de casada e no contraste absoluto que era estar na cama com o amante o com o Marcelo.

O amante fazia-a sentir-se desejada, sentir-se mulher, sentir-se feminina. Excitava-a a simples ideia de se ir encontrar com ele para ter sexo. Raras eram as vezes que não se sentia húmida só de pensar nisso! Isso contrastava completamente com o marido. Não que fazer amor com o marido fosse mau. Não era. Mas nunca sentia essa excitação…

Claro que quando as coisas começavam, tomavam proporções épicas. O marido era um óptimo amante, capaz de a levar a múltiplos orgasmos numa noite, coisa que não tinha com o amante. Mesmo quando passavam noites juntos, quando saiam em viagens de trabalho, ele não tinha a estamina do seu marido, mas a sua própria excitação compensava isso. Mas…

…e se o marido tinha encontrado alguém bem mais disponível do que ela sempre tinha sido? E se o marido estivesse a receber a paixão e o desejo que sempre tinha faltado?

Sentia-se cada vez mais inquieta e sem saber o que fazer. Dentro dela nascia um sentimento de culpa que começava a toldar a excitação dos encontros com o seu amante, já para não falar num cada vez maior ciúme em relação ao marido. E mesmo alguma raiva, que ela sabia ser infundada, mas estava lá.

Cada vez mais, quando o via sair ao fim-de-semana, lhe apetecia dizer-lhe para não ir. Mas sabia que não tinha esse direito, nem podia fazê-lo sem acabar com a sua relação. Começou a sentir-se deprimida e coisa que nunca tinha feito, começou a beber. E na névoa dos seus pensamentos, sentia-se magoada e apetecia-lhe cada vez mais magoá-lo!

E foi neste clima de pensamentos em que um dia, ela chegou a casa, vinda de mais um encontro. Pela primeira vez vinha completamente bêbada.

Entrou no quarto, sem cerimónias, não se importando com o facto de ele estar a dormir, – afinal, ele nunca estava a dormir, mesmo, quando ela chegava- despiu-se e atirou-se para a cama, aninhando-se nele, como sempre fazia.

Como é que ele ainda permitia que ela se aninhasse para dormir? No fundo, ele era um fraco! No fundo, desde o começo, alguma vez ele lutou por ela? Não! Simplesmente deixou-a ir!

-Estás bem? – Perguntou ele, como sempre perguntava!

Apeteceu-lhe magoá-lo. Não sabia porquê, mas sentia um ressentimento dentro de si que se transformava quase em raiva!

-Sim! Hoje fomos a uma festa de aniversário de uma colega, num bar!

-Bem, isso explica porque é que estás assim!

-Assim como?

-Bêbada! Se alguém pusesse um isqueiro à tua frente, lançavas chamas!

-Uma vez não são vezes…

-Pois não! – Respondeu ele, num tom que normalmente dava por concluída a conversa! Mas não estava concluída para ela!

-Mas o melhor foi depois da festa. Deixei o meu carro no estacionamento da firma e fui com ele. Mas como não estava em condições de conduzir, foi ele que me trouxe a casa!

-Amanhã vais ter de apanhar um Táxi!

-Sim! – A falta de reacção dele irritava-a! – Mas pelo caminho parámos num sítio isolado, eu arrastei-o para o banco de trás do carro e demos uma foda… Até o mundo estremeceu!

Houve um silêncio longo! Finalmente ele respirou bem fundo e acabou por responder:

-Ainda bem para ti!

Retirou o braço onde ela se tinha aninhado, empurrando-a para o lado,  levantou-se e saiu do quarto, deixando-a sozinha na cama!

Ela chorou até adormecer…


6 comentários:

  1. Ui, ui, a moça quer sol na eira e chuva no nabal :-)

    Boa tarde, sô Gil

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  2. Desde o começo...

    Boa tarde D. Noname

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  3. Bem, vamos lá ver se apanho o fio à meada.
    Estive a ler o primeiro capítulo, bastante interessante, diga-se, e parti para estes dois: X e XI.
    Pelos vistos a Clara sempre se envolveu com o colega, ou será que este Tomás já é outro?
    Conforme o meu tempo disponível verei se recuo, muito ou pouco. Talvez isto ainda tenha muito pra dar e eu apanhe o trem.
    Assim à priori penso que a personagem é moça equilibrada, mas com o desgaste que o tempo vai causando nas relações maritais, quem pode garantir se ela se aguentou muito ou pouco tempo? Olha, vou aguentar e acompanhar, mas lá que o teu talento como escritor salta aos olhos, disso não duvido.

    Bom fim de semana e um beijo, caro Gil.

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    1. Pois, tens mesmo que andar para trás, que isto já tem que se lhe diga...
      ...posso dizer-te que estás a leste do paraíso, neste momento :)

      Obrigado... Estou ferrugento e sem grande vontade de desenferrujar... Isto foi só um devaneio, escrito de uma vez só! Acho que quando um tema me chama à atenção, os neurónios lá se organizam... Já agora, esta história é vagamente baseada em três casos reais

      Bom FDS e Bjos para ti :)

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  4. Há mulheres muito complexas, para não lhes chamar egoístas. Ainda por cima se sente ofendida e revoltada ao pensar que o marido possa estar a fazer o mesmo que ela.
    Abraço, saúde e bom fim de semana

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