A cara com que ela entrou em casa
naquele dia era completamente diferente! Vinha pálida, olhos inchados de
chorar… Nada habitual nela! Estava de tal forma perturbada que ele não se
conteve e acabou por perguntar:
-Então, o que se
passou?
Ela olhou para ele,
quebrou num pranto, correu para o quarto e trancou-se! Ele conseguia ouvi-la a
chorar compulsivamente. Esteve assim durante horas.
Claro que ele se
importava com o que se estaria a passar, mas por outro lado não sabia até que
ponto aquilo tudo teria a ver com ele, e, se não tivesse, não era algo com que
quisesse lidar, a não ser que ela viesse ter com ele voluntariamente. Deixou-a
ficar, continuou o que estava a fazer, depois foi fazer o jantar e só depois,
finalmente, foi bater à porta do quarto:
-O jantar está
pronto!
-Não quero comer!
-É como quiseres. –
Disse friamente – A mesa está posta. Eu vou jantar.
Ao fim de uns minutos
ela lá saiu do quarto. Estava com um aspecto péssimo!
Começaram a comer em
silêncio, como faziam desde aquela noite. Ela queria falar com ele, queria
dizer-lhe o que se passava com ela, precisava do ombro dele, mas não sabia se
tinha sequer esse direito. Às vezes olhava-o, em busca de alguma simpatia da
sua parte, mas não parecia estar ali nada! Devia ter tido mais juízo! Não devia
ter sido tão ingénua! Devia ter ouvido o marido! Devia ter ouvido a mãe! E
agora estava aqui e nunca se tinha sentido tão só!
-O que é que se
passou para estares assim? – Acabou ele por perguntar, para sua surpresa.
-Queres mesmo saber?
-Bem, a não ser que
me queiras contar alguma proeza de cariz sexual, sim, quero!
Doeu! E foi merecido!
-Ele hoje não
apareceu no trabalho. Tentei saber se estava tudo bem com ele, mas não tive
resposta durante todo o dia. Quando saí estava a mulher dele à minha espera!
Ele soltou uma
gargalhada, quase que se engasgou, mas recompôs-se rapidamente. Ela continuou, embora
mais reticente que antes.
-Veio falar comigo a
perguntar o que se passava entre mim e o marido. Está gravida de quatro meses e
estava num estado de nervos lastimoso. Até tive medo por ela e a criança, da
maneira como ela estava. Eu disse-lhe o que se passava com honestidade e
expliquei-lhe que uma vez que estávamos ambos em casamentos abertos… Ela
simplesmente começou a chorar de uma maneira que me deixou paralisada!
-Não me digas: ele
decidiu abrir o casamente mas esqueceu-se de avisá-la!
Ela simplesmente
assentiu, com a vergonha das suas acções a pesar no seu gesto.
-Nunca me senti tão
mal! Ele mentiu-me este tempo todo! Porquê?
-Queres a resposta
simples ou uma mais elaborada?
-A simples!
-Qual eram as
hipóteses que ele tinha de conseguir ir para a cama com outra mulher como tu?
-O que é que queres
dizer com isso?
-Quero dizer que sim,
tenho quase e certeza de quem ele é. E se eu não estiver errado, diz-me
francamente, quais são as hipóteses de um homem como ele engatar uma mulher
como tu? Tu foste a sorte grande! Saiu-lhe a lotaria! Teve de te mentir para ir
para a cama contigo? Grande coisa! Se lhe pedisses para caminhar sobre brasas,
ele caminhava! Esperavas o quê?
-Fui tão ingénua…
-Pois fostes! E
agora?
-E agora não quero
voltar a vê-lo! Sei que terei de o ver no trabalho, mas tudo o que não seja
estritamente profissional está fora de questão!
-Ok. Por momentos
pesei que irias tentar lutar por ele…
-Marcelo, eu não o
amo, nunca amei! Além disso ele enganou-me, enganou a mulher, grávida… Ele é um
escroque!
-Ainda bem que tens
as ideias no sítio!
Ela sorriu,
finalmente! Era, sem dúvida, a conversa mais próxima que tinham tido em meses.
Decidiu aproveitar esta abertura:
-Olha, eu sei que
aquilo que fiz, e de que ainda não me lembro bem…
-Deste-me uma
descrição detalhada de como arrastaste o teu amante para o banco de trás do
carro dele, num sítio qualquer, e lhe deste uma foda que lhe abanou o mundo! – Interrompeu-a
ele! Se ela não tinha a certeza de tudo, ficou com ela de repente. O seu coração
afundou-se!
-Foi muito pior do
que imaginava!
-Não foi confortável,
posso dizer-te!
-Tens toda a razão do
mundo para me teres tratado como trataste! Eu fui um traste!
-Foste!
Cada resposta dele
parecia um estalo na cara, mas ele estava grata que ele ainda não se tivesse
levantado e saído.
-Podemos pôr isto
para trás de nós?
-Sim! Também já
estava farto de estar zangado contigo. Mas fica tu sabendo que se alguma vez
algo de semelhante acontecer, não te vou desculpar! Já basta o que basta! Não
sou capacho de ninguém, nem de ti!
Ela não se conteve,
levantou-se e abraçou-o. Ele não reagiu, não a abraçou de volta, mas ainda
assim sentiu-se, mais uma vez, segura, como se simplesmente isto desse sentido
ao mundo! Tentou beijá-lo, mas mais uma vez ele virou-lhe a cara, o que a
deixou triste. Mas nessa noite pode aninhar-se novamente nos seus braços.
Pergunto-me, neste momento, se existem pessoas como ele? Se depois a vida segue igual ao antes de? Se isso tem forma de se gerir?
ResponderEliminarBom dia, sô Gil
Existem!
EliminarE não, não é igual! Nada é igual...
...mas estes tipos de problemas têm o condão de destruir relações...
...ou, de uma maneira transviada, sobretudo porque tudo acaba por vir a lume, de tornar algumas relações mais fortes!
Ou por outra, destroi relações, mas se nuns casos a destruição é permanente, noutros, como uma Fenix, a uma nova relação nasce das cinzas da destruída!
Neste caso, porque não há traição, não há essa dissimulação, acho até mais fácil do que numa relação em que há traição.
Traição implica falta de respeito. e se alguém não respeita o outro, também não o pode amar, independente daquilo que o próprio pensa, e por vezes apenas acabar com a relação pode trazer de volta o amor próprio do traído.
Bom dia, D. Noname :)
Bom dia:- Na minha humilde opinião quem tem um casamento assim não se ama. É tudo menos casamento. Jamais eu aceitaria um casamento assim. Aberto dizem eles e elas. Só não sei, nem percebo, é como conseguem entrar na porta, mesmo com essa bem aberta, lol
ResponderEliminar.
Abraço poético
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Creio que o grande problema é que amor e paixão (luxúria) são duas coisas completamente distintas, embora possam ou não ser complementares.
EliminarIndependentemente disso, ambas são confundidas com frequência. Quantas vezes o "apaixonado" não proclama o seu amor, quando nem sequer conhece o outro suficientemente?
Por isso não acho estranho amar-se alguém e sentir atracção por outra pessoa. Aliás, é possível amar alguém profundamente apesar de não se sentir qualquer atracção física! Bem como o contrário.
A maior parte dos problemas acaba por acontecer quando estes conceitos se confundem! E as maiores desilusões quando as pessoas se apercebem que estes conceitos andaram confundidos nas suas cabeças.
No entanto, estes casos (casamentos abertos) são, para mim, menos graves do que traições puras e simples. Nestes casos ambos os parceiros sabem e estão informados do que se passa e é uma escolha pessoal aceitar ou não a situação (embora ache que quando é uma situação imposta não passa de uma desculpa para ter um caso livre de culpa).
Abraço
Em boa verdade, este é mesmo um casamento moderno! Tão moderno que nem o consigo conceber mesmo nestes tempos super modernos.
ResponderEliminarEntão, ela desabafa com o companheiro os desaires, contratempos e a vergonha de se ver confrontada com a mulher do colega amante ( amante ou pseudo, já que dizes não ter havido traição?)
Ai, que isto é demais para esta minha cabeça sonhadora...;)
Beijocas, caro Cláudio Gil. :)
Bem, estão num casamento aberto, por mutuo acordo, daí não haver traição... Ao contrário do amante dela, que pelos vistos estava num casamento aberto mas esqueceu-se de falar com a esposa acerca do assunto... ;)
EliminarBeijos, Janita :)
Ehehehehh...essa esteve de murrenhanha...:)))
EliminarSó tu!!
Ah, Gil, não publiques o meu comment anterior, nem este, vá, senão ainda pensam que isto é uma história humorística...
Eliminar...como já deves ter percebido, estou-me um bocado nas tintas para o que outros possam pensar ou não... ;)
EliminarA vida são dois dias, o carnaval são 3 e rir é a única coisa de jeito que temos nesta vida! LOOOOOOOOL