O fim de semana passou e com o fim
voltaram as rotinas.
A dele, com bastante
trabalho em atraso em relação aos prazos que tinha, fazia com que se levantasse
antes dela e mergulhasse directamente no trabalho, deitando-se frequentemente
já bem depois dela completamente exausto.
Ela, como sempre,
saia de manhã, voltava ao fim da tarde e, embora estivessem os dois debaixo do
mesmo tecto, à excepção do jantar, quase que não se viam, e mesmo assim ela
notava perfeitamente que a cabeça dele não parava, ainda que estivesse longe do
computador.
Claro que todos os
eventos das suas vidas não ajudavam a que a concentração dele estivesse tão
focada como de costume, mas ele queria mesmo tratar do trabalho o mais rápido
possível, uma vez que no fim-de semana ainda teria mais dois concertos e o dia
a seguir era sempre complicado para conseguir fazer alguma coisa do seu
trabalho. Normalmente estava exausto! Já não tinha 20 anos e as noites perdidas
já pesavam.
Ela sabia de tudo
isto e tentava não o incomodar. Dava-lhe o espaço que ele precisava e, do mesmo
modo acabava por ficar com espaço para si.
Mas, numa manhã,
quando ela estava no trabalho, estava a olhar para um calendário, por causa de
marcações de reuniões, quando se apercebeu de repente que andara tão envolvida
com tudo que se tinha esquecido do aniversário dele, daí a duas semanas.
Nessa noite começou a
pensar no que poderia fazer! O primeiro pensamento que lhe ocorreu foi
proporcionar-lhe uma noite inesquecível, mas depressa pôs a ideia de lado! Há
um ano atrás teria sido a melhor das ideias, pelo que sabia agora. Daqui a um
ano, talvez fosse a melhor das ideias. Nesta altura o mais provável era a ideia
acabar em tragédia. Não era um bom caminho.
Depois de muito
pensar lembrou-se de que o Lucas fazia parte da banda. Não que ela o conhecesse
bem, tinha estado na loja dele duas ou três vezes a acompanhar o marido há
muitos anos atrás. Será que a loja ainda existia?
Abriu o Google maps. Como é que a loja se
chamava? Era incapaz de se lembrar, se é que alguma vez soube! Mas sabia onde
era, foi ampliando o mapa até à vista de rua e, sim, lá estava ainda.
No dia seguinte,
quando saiu do trabalho foi directamente lá. Encontrou uma jovem atrás do
balcão que a interpelou de imediato:
-Boa tarde. Diga por
favor!
-O Sr. Lucas está?
-Sim, está a dar uma
aula, neste momento. Queria falar com ele?
-Sim. Ele estará
muito demorado?
A rapariga olhou para
o relógio.
-Cerca de uns 20
minutos!
-Tudo bem, eu espero!
-Eu entretanto vou lá
dentro dizer-lhe que está aqui. Quem é que devo anunciar?
-Clara. O meu nome é
Clara, mas ele não deve saber quem é. Diga-lhe que é a mulher do Marcelo.
A rapariga olhou para
ela espantada.
-A senhora é que é a
mulher do Marcelo?
-Sim!
-Muito prazer em
conhecê-la. Eu sou a Patrícia, sou filha do Lucas.
-O prazer é meu,
Patrícia. - Respondeu ela com um sorriso.
-Eu vou avisar o meu
pai, pode ser que ele se despache… - disse a rapariga, sorrindo e piscando-lhe
o olho!
-Obrigada!
Aguardou um pouco.
Até que a rapariga voltou.
-O meu pai vem já.
E realmente não
demorou. Lucas saiu do corredor da sala de aulas e olhou para ela com um ar
meio espantado.
-Clara?
-Sim, sou eu. Já não
se deve lembrar de mim…
-Tenho uma vaga
recordação, sim! Desculpe estar espantado, mas o Marcelo é muito reservado e
nestes meses pouco ou nada ouvi falar de si…
Isto doeu-lhe um
pouco, mas era compreensível.
-Não tem importância.
– Respondeu ela com um sorriso.
-Mas o que a traz
aqui?
-Queria a sua ajuda,
se fosse possível. O Marcelo faz anos para a semana, na quinta-feira. Sei que
ele vai tocar convosco na sexta e queria fazer-lhe uma surpresa.
-Não é para fazer
nenhuma festa surpresa ou assim, pois não? Não sei se ele ia ficar muito
contente com isso…
-Não, não… É mais
porque queria comprar-lhe uma prenda, mas algo que lhe fosse mesmo útil, e como
ele anda a tocar consigo…
-Pode tratar-me por
tu.
-Nesse caso, digo-lhe
o mesmo!
-E qual é o orçamento
que tens em mente?
-Não tenho! O que é
que achas que lhe faria mesmo falta?
Lucas pensou um
pouco.
-Bem, uma coisa seria
realmente outra guitarra. Ele só tem aquela e caso haja algum azar, como já
aconteceu, temos de parar o concerto, porque ele não tem outra. Se calhar seria
a coisa mais útil…
-Então e que guitarra
poderia ser?
-Bem, nós temos aqui
uma grande variedade, mas se conheço bem o Marcelo, seria uma igual à que ele
tem, uma Les Paul! Mas isso não é
barato…
-E tem alguma?
Lucas sorriu!
-Bem tenho aqui uma
há meses. Normalmente não temos material tão caro na loja, só mesmo por
encomenda, mas esta guitarra veio para um cliente que depois não a quis e eu,
já nem sei porquê, não a devolvi ao fornecedor! Eu vou busca-la.
Quando voltou trazia
um estojo castanho, igual ao da guitarra de Marcelo. Abriu o estojo e tirou a
guitarra de lá de dentro. A guitarra tinha a parte de trás e as laterais
completamente pretas, mas um preto translucido que deixava ver os veios da
madeira por baixo. Já a frente era orlada no mesmo preto, mas esbatia-se até
dar lugar a um púrpura escuro e profundo que realçava os veios da madeira por
baixo e dava uma dimensão quase holográfica ao mesmo. Os veios pareciam dançar
conforme o angulo de luz que lhes batia. Todos os metais da guitarra eram
dourados. Aparte de tudo, era um objecto lindíssimo.
-Esta guitarra é
linda! – Disse ela espantada!
-E infelizmente cara!
Mas, sendo para o Marcelo faço um desconto bom nela… - Disse o Lucas,
piscando-lhe o olho.
-Nem precisas de me
dizer mais nada. Fico com ela.
-Óptimo! É bom saber
que ela vai para uma boa casa. Dá-me uns minutos para eu a pôr como ele gosta,
mudar as cordas e afiná-la.
Entretanto Lucas deu
instruções à filha para poder ir avançando com o pagamento.
Saiu da loja meia
hora depois com a guitarra na mão e com uma surpresa preparada para o marido.
Agora será o caso para dizer: Dá-me música... que eu GOSTO!
ResponderEliminarBom dia, sô Gil
Se olhares bem para o resto dos posts, além destes desta história, verás que não tenho feito outra coisa!
EliminarBom dia, D. Noname
E pensarás tu que, eu não acompanho?
Eliminareheheheh
Caso ainda não tenhas dado conta, eu não penso, portanto... ;)
Eliminar(toda a gente sabe que os Homens não pensam, agem! Para pensar estão cá as Mulheres que às vezes até pensam demais... ;) )
Hummmmm... Vaidoso :-)
Eliminar... como diria o falecido Zé Leonel, dos Ex-Votos...
Eliminar...vão doze, treze, catorze... as que der... ;)
Eu diria que o Gil descreveu a guitarra sonhada por si. Ou executada?. Lembro-me de que em tempos se dedicava não só a tocar mas a fazer as suas guitarras.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Por acaso, já depois de ter escrito isto, acabei uma quase assim... Purpura orlado em preto, mas só o tampo e as costas, deixando o resto em madeira natural!
EliminarMas esta é uma Guitarra que a Gibson fez como edição especial há uns anos e lembro-me de ter tocado com ela numa loj aqui de LX e ter saído da loja a pensar porque é que não tinha €5500 para estourar numa guitarra... É sem dúvida a guitarr mais bonita com que já toquei...
Abraço Elvira
Está bonito, está, lol
ResponderEliminarAcompanhando as peripécias e incidências desse casamento moderno.
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Abraço fraterno.
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Pensamentos e Devaneios Poéticos
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Obrigado :)
EliminarForte abraço
Como por aqui já está tudo dito e a prenda comprada, vou passar ao andar de cima a ver o que lá se passa.
ResponderEliminarAté já. :)
E já descobriste?
EliminarBom dia, Juanita :)
(é por isto que detesto escrever no telemóvel...)
EliminarBom dia, JANITA! (assim está melhor... LOL)