O tempo continuava a passar, mas nada
parecia mudar.
Ela continuava a ter
os seus pensamentos e dúvidas, aumentadas ainda mais pelo facto de ele, no
início, sair apenas à sexta-feira e voltar quase sempre antes da meia-noite,
mas depois daquele fim-de-semana as saídas começaram a ser mais frequentes e
raramente entrava em casa antes das cinco da manhã. Em muitos fins-de semana
ele chegava, deitava-se no sofá ainda vestido, acordava perto da hora de
almoço, levantava-se, comia, ficava algum tempo com ela, porque apesar de tudo
o que se passava, eles não se afastavam assim tanto, embora ele parecesse mais
frio do que sempre fora, mais abatido…
Mas estes pensamentos
vinham mais nestes dias em que ele se ausentava e ela não saia. Ainda assim, as
constantes trocas de mensagens com o amante distraiam-na, mas havia momentos em
que sentia verdadeiramente a falta do marido. E continuava a pensar “Quem seria
ela?”! Ou elas! E havia uma ponta de ciúme que a corroía!
Já ele tinha os
fins-de-semana ocupados pêlos concertos. Estavam num ponto em que já nem tinham
tempo para ensaiar e eram agora banda fixa numa série de casas de espectáculo,
algumas delas razoavelmente grandes. Tinham conseguido um público fiel, que
praticamente os seguia todos os concertos, o que fazia os donos dessas casas de
espectáculo ficarem felizes por terem sempre casa cheia quando eles tocavam.
Basicamente eles e os fans tinham-se tornado uma espécie de família alargada.
E para Marcelo as
coisas não estavam fáceis. A atenção que lhe era dada pelas mulheres, sobretudo
porque era o único que aparecia sempre sozinho, sendo que as companheiras dos
outros membros da banda faziam sempre questão de estar presentes, era bastante.
Fosse a sua vida diferente e estaria a viver na versão do paraíso para qualquer
homem. Mas sendo como era, tornava-se complicado!
Muitas vezes sentiu a
forte tentação de pôr de lado os sentimentos e seguir. Seria fácil. E não tinha
qualquer tipo de intimidade com uma mulher há meses. As suas hormonas ferviam
quando algumas mulheres se atiravam despudoradamente para o seu caminho. Era
sempre gentil com elas e tentava evitar que as coisas escalassem, sem lhes
magoar os sentimentos. No fundo, apesar de por vezes lhe apetecer agarrar numa,
levá-la para a cama e satisfazer os seus ímpetos e instintos, sabia que esse
seria um mau caminho. Aliás, estava aqui, neste ponto da sua vida, precisamente
por causa disso. Tinha de se relembrar constantemente que dois errados não
fazem um certo!
Entretanto, chegou a
altura do Natal e um bocado de alegria na sua vida. O seu filho, Tomás, vinha
passar a época com eles.
No dia em que ele
chegou, apanharam-no no aeroporto e seguiram directo para o Norte, para casa
dos pais dela. Tiveram uma conversa prévia acerca da situação em que estavam.
Não queria que nada transparecesse para fora da sua habitação.
No entanto o Tomás,
assim que viu a mãe, ficou perturbado. Nos seus dezoito anos de vida nunca vira
a mãe vestida daquela maneira e mal ele sabia que ela fez um esforço para
parecer mais discreta que o habitual.
A viagem foi toda
preenchida com conversa acerca das novidades na vida do filho. Claro que
falavam frequentemente, mas há uma enorme diferença entre olhar para um ecrã e
ter a pessoa ao lado.
Chegaram e, como
sempre, Clara não deixava o telemóvel de lado, constantemente a trocar
mensagens. Ela não se conseguia conter quando chegavam mensagens mais
“Marotas”, o seu rosto iluminava-se, e apesar de quer ela, quer o marido,
afirmarem que eram coisas de trabalho, a verdade é que a sua atitude fazia
levantar alguns sobrolhos…
…Sobretudo da sua
mãe!
Depois do almoço,
enquanto estavam as duas na cozinha sozinhas a arrumar a louça, a mãe não se
conteve:
-Filha, olha lá,
passa-se alguma coisa no teu casamento?
-Claro que não, mãe.
Está tudo bem! Porque é que perguntas?
-Vejo-te por ai de um
lado para o outro a escrever no telemóvel e a dar risadinhas quando recebes
mensagens… E vejo o teu homem tão… sei lá, parece distante e triste…
-Não se passa nada,
mãe. É só cansaço! Ele tem trabalhado muito…
A mãe olhou-a nos
olhos, como fazia quando ela era pequena e lhe mentia, com um sobrolho
levantado!
-Clara Maria, mas tu
esqueces-te que eu te carreguei na barriga? Achas que me consegues enganar? Não
sei o que é que se passa, mas sei que se passa qualquer coisa, e olha que a tua
atitude diz muito!
-Ó mãe, lá estás tu
com as tuas coisas…
-Não me tentes mandar
areia para os olhos, que eu sou velha, mas não sou parva! E já te disse, não
sei o que se passa, mas digo-te já, tu tem cuidado com o que andas a fazer,
rapariga! Olha que homens como o teu não há muitos. Se já quando ele era jovem
deixou por aí um rasto de corações partidos, como ele está agora e com a vida
que tem… O que não falta por aí são mulherzinhas que não se importavam nada de
te substituir… Ele não anda a dar voltas por fora, não?
-Não, mãe. Que eu
saiba não!
-Tu põe-te a pau,
filha. Olha que se ele se afastar demais pode ser difícil trazê-lo de volta!
-Ó mãe, pára lá com
isso! Já te disse que não se passa nada…
E ela teve de se
lembrar de ter mais cuidado com o telemóvel e as suas reacções. Mas, mais do
que isso, as palavras da mãe fizeram eco das preocupações que já tinha.
Nessa noite, quando
se deitaram no quarto de hóspedes, ela, como sempre, aninhou-se nele.
-Sabes que eu te amo,
não sabes? – Perguntou.
-Sim, sei! – Disse
ele com uma voz com uma nota de tristeza.
Ela esperava qualquer
coisa do lado dele que lhe desse segurança, mas ele apenas permaneceu calado e
estático.
Ela teve medo de
perguntar mais alguma coisa. Pela primeira vez em meses sentiu-se insegura ao
lado dele.
Ele, como se tivesse
adivinhado os seus pensamentos, acabou por lhe dizer:
-Sabes que podes
sempre contar comigo!
Não foi bem o que ela
queria ouvir, mas muito mais do que esperava, e acabou por adormecer nos braços
dele.
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