segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Renascimento (XII de XL)


 -Pá, o Zé saiu daqui há pouco à tua procura. Não o Viste? – Alguém perguntou a Rob.

-Não…Mas ele agora vai saber onde eu estou. – Respondeu Rob enquanto subia para o palco carregando o estojo que não tinha saído do seu lado mesmo durante o jantar. 

Rob colocou o estojo por detrás da sua coluna de guitarra, agarrou num pano de flanela preta, com o qual envolveu o fivela do seu cinto, depois tirou a guitarra da caixa, pondo-a a tira colo, ligou-a e afinou-a, enquanto os seu colegas faziam o mesmo excepto o Paulo, que corria todos os microfones em palco dando-lhes toque com o dedo e certificando-se que estavam a funcionar.

Olharam uns para os outros, certificando-se que estava tudo pronto e, à contagem até quatro pelas baquetas do Tobias, o concerto arrancou.

O súbito ruido acompanhado da constatação que o espaço se enchia rapidamente sobressaltaram Miranda e Cassandra, que, olhando para o palco, rapidamente viram Rob.




Cassandra assistiu ao repentino transfigurar da amiga, que de repente parecia uma adolescente que apontava para o palco e lhe dizia quase aos gritos, para se ouvir acima da música:

-É o Rob. E esta a tocar com a guitarra.

Cassandra não podia estar mais feliz ao ver a maneira como os olhos de Miranda brilhavam, mas era um sentimento tingido pela preocupação de que as esperanças dela pudessem vir a não se concretizar.

Miranda levantou-se e dirigiu-se ao balcão onde pediu a conta, pagou, agradecendo a Vasco, voltou à mesa, agarrou na amiga pela mão e foram ambas para o meio da multidão que já se formara quando a primeira música chegou ao final. 

Mas a verdade é que duas Nova-Iorquinas no meio do Alentejo, por mais inconspícuas que estejam, notam-se como gotas de azeite num copo de água.

E quando Rob passou os olhos pela multidão à sua frente, no fim da música, lá estavam elas. Não foi só ele que as notou. Todos as notaram e olharam para Rob com um ar de gozo. O Tobias voltou-se para ele, enquanto se ria do seu ar aborrecido:

-Pá, a tua “mulher” voltou.

-Já reparei. - Respondeu ele com um ar resignado. – Vamos mas é seguir com isto.

Continuaram o concerto.

Se o Rob já não costumava ser muito expansivo, Hoje praticamente não saia de perto do seu amplificador. Tocava em modo automático, sem prestar atenção ao que fazia e sem precisar de o fazer. A guitarra parecia puxar a música dele, respondendo a cada toque. Mas enquanto se deixava diluir no som, os seus pensamentos iam para aquelas duas mulheres, que por esta altura se viam cada vez mais rodeadas por homens e rapazes, com os mais audazes a tentarem meter-se com elas enquanto elas se divertiam a dançar ao ritmo da música.

De repente viu o Zé aparecer perto delas, afastando os mais atrevidos quando perceber que elas estavam com ele, e fazendo dispersar os olhares que não desapareceram, mas se tornaram mais fugazes e discretos, deixando Rob mais tranquilo, o que o deixou livre para usufruir do primeiro concerto com aquela guitarra.


3 comentários:

  1. Será que que Rob e Miranda são mesmo casados , ou o foram algum dia, e existe aí um caso de amnésia?
    É o que iremos ver! E o Zé, todo vaidoso, lá vai dando conta do recado de guardião da beldades!
    Como dizia o nosso querido António Silva; «para quem não pode mais nada o servir também consola». :))

    Tudo de bom e um abraço, Gil!

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    Respostas
    1. Olha... Será que estás a começar a ficar curiosa? LOL

      Um abração :)

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    2. Por acaso até estou. Por vezes, sofro e falo por antecipação.
      Defeito de fabrico... :))

      Um abraço, Gil!

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