O Tobias chegou com um copo de plástico na mão e sentou-se do outro lado da improvisada mesa corrida feita de tábuas e cavaletes.
-Sempre vieste. – Disse-lhe o Rob com um sorriso, em termos de saudação.
-Olha, não sabia se havia de vir, mas depois não estava nada de jeito na televisão… - e observaram ambos duas moças giras que passavam vindas do balcão improvisado pelo Zé, que tinha uma torneira de imperial e um barril de tinto e outro de branco atrás - …e aqui sempre estou entretido. – Acabou de dizer, piscando o olho ao Rob, que sorriu e levantou o copo num brinde.
-Falando nisso, - continuou, olhando para ele com um ar sério, mas com um sorriso sacana a bailar-lhe no canto do lábio - explica-me lá essa história da gringa. Ela acha que tu és o marido dela?
Rob respirou fundo e olhou em volta pela praça engalanada, onde quase toda a gente das redondezas dava um pé de dança ao som de uma banda de música de baile que abrilhantava as festas de Santo António das bilhas.
-O que é que queres que te diga. Nem eu percebi muito bem. Apareceu aqui um dia armada em ultima coca-cola do deserto a dizer que eu era o marido desaparecido dela. E voltou no dia a seguir e depois de uma conversa e de jantarmos junto no Zé…
-Convidaste-a para jantar? Não te via assim tão… Suave…
-Não. Comemos juntos mas não houve nada disso. Houve duas pessoas que jantaram no mesmo sítio, deixa-te de tretas.
-Porquê? Desculpa lá, mas se eu tivesse menos uns anos e me caísse do céu um avião daqueles…
-Deixa-te disso. Aquilo é só produção. Muita parra e pouca uva…
-Pelo que vi no dia a seguir, também havia ali muita uva. – Disse o Zé, de trás do balcão.
-Alguém te chamou para a conversa? – Respondeu o Rob de repente.
-Explica lá isso, que este gajo não se descose. – Perguntou o Tobias ao Zé.
-Bem, ela deve ter dormido em casa dele e no dia a seguir saiu daqui vestida numa T-shirt grande à brava e naqueles saltos enormes.
O Tobias olhou para o Rob com um ar inquiridor a rir-se.
-Tu és mau… O que é que se passou?
-Choveu!
-Hã? – Respondeu o Tobias com um ar aparvalhado.
-É, foi isso que ele me respondeu também. – Disse o Zé com um ar divertido.
-Não queres elaborar mais um bocadinho? Só para a malta perceber… - perguntou o Tobias ao Rob.
-Olha lá, ó Zé, lembras-te daquele desportivo descapotável com que ela veio? Lembras-te como é que o carro saiu daqui?
-Como é que foi, Zé? – Perguntou o Tobias.
-Em cima de um reboque! – Respondeu o Zé.
-Ela deixou a capota em baixo quando foi comigo para o ensaio. Eu disse-lhe para subir a capota, mas ela achou que os gajos da meteorologia é que sabem…
O Tobias desatou a rir.
-Não me digas. Inundado e cheio de lama! Pobre carro…
-Não te preocupes, uma boa lavagem e aquilo fica bem. – respondeu o Rob.
-Mas isso não explica a t-shirt…
-Bem, ela queria chamar um táxi àquela hora. Eu dei-lhe uma daquelas t-shirts XXXL que ninguém compra, para ela ter qualquer coisa que vestir, ela tomou um duche e dormiu no meu quarto de hóspedes.
-Pois, um verdadeiro cavalheiro! Mas, confessa lá, não te sentiste tentado?
O Rob olhou em volta enquanto pensava como responder.
-Não… mas de manhã quando ela acabou de acordar, sem aquela produção toda… Mas, tentado a esse ponto não. Ainda para mais pensando ela que eu sou o marido desaparecido.
-Pá, ainda não percebi. Tu nem sequer és lá assim muito parecido com o gajo… Porque é que achas que ela pensa isso?
-Sei lá, pá!
-Olha lá… - atalhou o Zé – e já lhe contaste da guitarra que ela te mandou?
-Ela deu-te uma guitarra? Achou que tinhas poucas?
-Emprestou. Não deu.
-Ela mandou uma guitarra de propósito para aqui, emprestada? Que raio de guitarra é essa?
-Uma Les Paul de cinquenta e nove…
O Tobias podia não perceber muito de guitarras, mas pelas conversas do pessoal, esta era “A” guitarra para todos os guitarristas. O Santo Graal. Nem se atrevia a pensar no que aquilo podia valer. Acabou por soltar um assobio antes de perguntar:
-O que é que vais fazer com isso?
-O que ela me pediu na carta que vinha junto.
-Que é?
-Tocá-la!
Gosto muito da maneira de ser do Tobias. Apesar da idade mão ´de daqueles homens 'babosos', embora tenha olhos na cara, para notar onde está a beleza física e poder atractivo de uma mulher. :)
ResponderEliminarJá o Zé...é o oposto. O Rob é correcto e porreiro.
Feita a minha apreciação acerca dos cavalheiros e não obstante ter lido alguns episódios anteriores, saber do empréstimo da valiosa guitarra e tudo mais, vou passar a ler e comentar, se for caso disso, daqui para a frente.
Bom domingo e um abraço, Cláudio Gil.
Muito obrigado, Janita. Fi co sempre feliz de te ver por cá e de apreciar os teus comentários :) Bem haja :)
Eliminar