terça-feira, 17 de setembro de 2024

Renascimento (VIII de XL)




Cassandra conhecia Miranda há cerca de dez anos, quando ela se mudara para o complexo. Apenas um conhecimento circunstancial, uma vez que viviam próximas e cruzavam-se frequentemente.

Quando o marido de Miranda desapareceu, aproximaram-se um pouco, ganharam alguma confiança, e Cassandra, muitas vezes sem nada que fazer, dirigia-se à cobertura da amiga onde lhe fazia companhia e tentava animar.

Mas aproximaram-se mesmo quando o marido de Cassandra faleceu inesperadamente aos cinquenta e cinco anos com um ataque cardíaco massivo devido ao Stress excessivo que vinha com a sua profissão de corrector.

Miranda, talvez por causa da sua própria perda, foi incansável para com a amiga e acabou por criar um enorme laço entre elas, apesar dos 15 anos de diferença. Cassandra, na altura com cinquenta e dois anos, sentia-se perdida. Financeiramente estava bem, mas sozinha, nunca tendo começado aquela família que ela e o marido tanto haviam planeado bem cedo nas suas vidas, mas para a qual ele acabou por nunca arranjar tempo para concretizar.

Já estava habituada a estar sozinha e Miranda foi o resgate da sua solidão. Foi Miranda que a incentivou a tentar conhecer um novo príncipe encantado, mas, para onde quer que olhasse, só via sapos. Claro que seria fácil ter algumas relações fugazes, e não lhe faltavam candidatos. Apesar da idade, parecia ser muito mais nova, apesar do porte com que sempre se apresentava denunciar a sua maturidade. Mas isso, francamente, não a interessava. Tinha-se fechado tanto a esse sentimento que lhe custava sequer reconhecê-lo. 

Tinha com ela a agenda de Miranda e tentava planear a viagem que iriam fazer quando esta entrou na sua sala com um ar estranho, colocou um enorme dossier em cima da mesa e só disse:

-É ele.

-Tens a certeza?

-Só pode. Senão não encontro outra explicação. – Abriu o ficheiro e começou a mostrá-lo a Cassandra. Mostrando relatórios de avistamentos, fotos, registos de transferências bancárias à volta do mundo durante dois anos e depois, por fim, aquela transferência mensal desde há seis anos. – Se não é ele, ele pelo menos está a dar o dinheiro a este Rob Mitchell.

Cassandra foi olhando para os papeis, relatórios e a conclusão era a mesma. Se os dois Robs não eram o mesmo, o Mitchell seria alguém próximo de MaCallum.

-E agora, o que vais fazer?

-Estavas a ver a minha agenda?

-Sim. Tens um mês complicado, mas depois tens todo o tempo do mundo.

-E tu, quanto tempo tens?

-Querida, sabes bem que todo o que quiseres.

-Quando lá fiquei estive num hotel a cerca de sessenta milhas, mas as estradas são complicadas e é moroso… Achas que se consegue algo mais próximo?

-Posso ver se há alguma coisa tipo Air BNB por lá…

-Excelente! – respondeu Miranda, levantando-se, abraçando-a e dizendo-lhe – Já não sei o que faria sem ti. – E depois saiu disparada com um sorriso nos lábios.

-Onde é que vais tão apressada?

-Vou tratar de devolver algo ao dono.

Entrou em casa, cumprimentou a sua assistente, foi directa a uma sala onde raramente entrava, agarrou uma mala de guitarra castanha que estava numa estante.

-Patricia, quero que trates de um transporte sigiloso e urgente para a morada que te vou dar em Portugal. Quero que esta guitarra chegue da maneira mais segura mas inconspícua possível.

Patricia simplesmente anuiu e começou a tratar do que lhe fora pedido.


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