O enorme todo o terreno preto fosco parou na rua deserta em frente ao estabelecimento do Zé, que, meio sobressaltado levantou os olhos das palavras cruzadas que fazia no jornal. Reconheceu de imediato Miranda quando esta literalmente desceu do lado do condutor, mas ficou surpreendido de ver a porta do passageiro abrir e sair outra mulher.
Desta vez nenhuma delas vinha
vestida de forma espampanante, apenas de calças de ganga, t-shirt e ténis com
um pequeno salto, as duas vestidas quase de igual, mas era óbvio que não eram
peças de pronto-a-vestir, da maneira como assentavam.
Miranda dirigiu-se directamente
ao estabelecimento, seguida da outra que olhava em volta, tentando absorver o
que via.
Miranda entrou sorridente no
estabelecimento e dirigiu-se-lhe de imediato.
-Hi, Zé. – disse com um sorriso
enquanto lhe esticava a mão.
-Olá Miranda. – Devolveu ele o
cumprimento com um sorriso, apertando-lhe a mão.
Miranda apontou para a amiga.
-Cassandra. – Disse
simplesmente, enquanto esta parava de olhar em volta, olha para ele com um
sorriso e lhe estendeu a mão, que Zé apertou também.
-Muito gosto. – disse.
-Two cofees, please? – disse
ela, fazendo o numero dois com a mão.
Zé pegou num copo alto de vidro,
olhando para ela com um ar inquiridor, mas ela acenou que não e apontou para as
chávenas. Zé sorriu, pôs dois cafés a tirar e colocou os pires no balcão.
Serviu-lhes os cafés, que elas
começaram a beber com deleite.
Por fim Miranda perguntou:
-Rob?
Zé pensou um pouco e fingiu
tocar e depois apontou para longe.
-Pelos vistos o Rob está a tocar
algures. – disse Miranda a Cassandra.
-A tocar?
-Sim, a banda dele toca em
alguns concertos por aqui.
-E onde?
Zé, como se tivesse entendido
estendia já um mapa no balcão. Apontou para o sítio onde estavam e percorreu
uma estrada com o dedo para uma povoação próxima.
Zé apontou para si próprio e
depois para a povoação, dando a entender que também iria para lá. Miranda
apontou para o relógio. Zé mostrou-lhe os dez dedos e depois fez um sinal entre
si e a direcção da povoação. Miranda assentiu.
Sentaram-se enquanto o Zé
desligava as luzes e a máquina do café. Depois este convidou-as a sair e
trancou tudo. Fez-lhe sinal para irem para o carro e esperar, o que elas
fizeram.
Zé apareceu pouco depois numa pick-up
de caixa aberta com um aspecto bastante gasto, fazendo-lhes sinal para o
seguirem. Fizeram alguns quilómetros devagar, através de estradas estreitas e
sinuosas onde por vezes só dava para passar um carro, até chegarem à entrada de
uma povoação onde a estrada estava cortada e um polícia desviava os carros, ou
para uma estrada alternativa, ou para um enorme campo que servia de parque de
estacionamento temporário, já cheio de carros.
Seguiram o Zé para esse campo,
estacionando ao lado dele e depois acompanharam-no a pé pela estrada fechada em
direcção à povoação.
Pouco depois de entrarem na
povoação chegaram ao adro da igreja onde tiveram de parar um pouco. A procissão
retornava à igreja naquele momento e era impossível atravessar para o outro lado.
Cassandra e Miranda olhavam maravilhadas, nunca tendo presenciado algo assim.
Viam os andores e as estátuas
dos santos, carregados em ombros, acompanhados por músicas solenes que eram
cantadas pela multidão que acompanhava o desfile.
Quando por fim puderam passar,
acabaram de atravessar a povoação e foram dar a um campo onde estava um palco
montado, com um espaço largo em frente, ladeado por barraquinhas de comes e
bebes.
O cheiro espesso a carne
grelhada que tingia o ar serviu para aguçar o apetite das duas, e Miranda fez
um sinal a Zé, indicando que ambas tinham fome. Zé fez-lhe sinal para esperar
um pouco, enquanto olhava em volta procurando algo, ou alguém. Não vendo o que
queria encolheu os ombros e fez-lhes sinal para o seguirem. Levou-as até uma das
barraquinhas e indicou-lhes uma mesa, fazendo sinal para esperarem e dirigiu-se
ao balcão da barraquinha.
-Vasco, dá aí duas bifanas para
as bifas, faz favor. – disse ele.
-Estás muito bem acompanhado, ó
Zé. Agora andas a engatar bifas, armado em Zézé Camarinha ou quê? – respondeu o
Vasco que olhou bem para elas e acrescentou – Mas também, se andas, tens muito
bom gosto.
-Nada disso. Não são companhia
para mim. Só vim fazer uma entrega – respondeu o Zé, piscando o olho.
-Olha, azar o teu. Não me as
queres entregar a mim?
E riram-se os dois, enquanto
Vasco colocava dois pratos de papel com bifanas no balcão.
-Duas bifanas para as bifas
especiais. – disse.
-As bifanas ou as bifas.
-Ambas!
Zé voltou à mesa com as bifanas
que colocou em frente a elas e voltou atrás para ir buscar duas garrafas de
água. Elas ficaram surpreendidas a olhar para as sandes.
-Isto deve ser uma coisa mesmo
de cá, não? – Perguntou Cassandra.
-Sim, parece uma sandes de
porco.
Agarraram no pão com cuidado,
tentando a todo o custo não se sujar com o molho mas lá acabaram por provar as
sandes.
Talvez fosse o facto de não
comerem há muitas horas, ou talvez o facto de o sabor ser intenso e agradável,
mas comeram com deleite, perdendo algum decoro e acabando a chupar os dedos
para os limpar dos molhos como viam algumas pessoas a fazer à sua volta,
enquanto riam como duas adolescentes.
O Zé acabou por se voltar para o
Vasco e perguntar:
-Olha lá, safas-te no inglês?
-Mais ou menos…
-Eu vou indo, mas deixo-as aqui
contigo. Tomas conta delas por um bocado? Fora de brincadeiras…
-Sim, claro, vai lá.
-Se entretanto vires por aí o
Rob, chama-o. Eu vou ver se o vejo antes de começarem.
-São amigas do Rob?
-Não sei bem, mas pelo menos vêm
à procura dele.
-Ok, não te preocupes que eu
tomo conta delas.
-Vê lá se não deixas os
engraçadinhos meterem-se com elas…
A vida, vivida assim, com alegria e divertimento sem maldade. é uma festa que qualquer mulher gostaria de ter vivido na juventude. Infelizmente, os tempos, no meu tempo, foram outros.; mas quando não conhecemos mais nada gostamos do que temos.
ResponderEliminarVamos ver se o Vasco consegue entreter as jovens até que chegue o Rob, o homem de bela e longa cabeleira. Falar um inglês macarrónico sempre é melhor do que não falar nenhum e o Vasco parece ser um moço desenrascado.
Boa semana, Gil! :)
Atão não havera de conseguir? Mas também não vão lá estar assim tanto tempo... ;)
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