sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Chuva - XXXV

 Os dias seguintes foram tão estranho…

Ainda te lembras da mensagem seguinte, não?

“Houve interesses velados. A descoberta escondida mantém milhões como reféns. Salva África.”

Escusado será dizer que fiquei a olhar para aquilo sem perceber nada. Uma descoberta que tinha impacto num continente inteiro? Interesses velados há em todo o lado. O significado escapava-me.

O que é que podia ser comum a todo o continente africano se nem os próprios países eram unos? África é e sempre foi uma enorme manta de retalhos sem uma identidade única.

O Fernandes chegou muito tarde, nesse dia, mas ainda assim deu comigo sentado a olhar para a mensagem.

“Que é que se passa?”

A voz dele como que me acordou. De repente lembrei-me do flagelo de África dos nossos dias. Olhei para a primeira frase. Depois olhei para ele.

“Ou eu muito me engano ou alguém descobriu a cura para a Sida e a descoberta foi trancada a sete chaves.”

“O quê?”

“É isso mesmo.”

“Pá, não acredito. Nenhum investigador sério faria uma coisa dessas…”

“É capaz, mas diz-me, também há investigadores menos sérios, não há?”

Ele calou-se.

“E há também os patrões dos investigadores que são grandes grupos económicos, não há?”

“Mas o que é que te levou a pensar isso?”

“Não sei se deste por isso, mas choveu ao fim da tarde.”

Passei-lhe a mensagem. Ele leu.

“Mas porque é que achas que isto tem a ver com a sida?”

“Já viste a primeira frase?”

“Sim. Houve interesses velados. E então?”

“Quais são as iniciais?”

“HIV”.

A cara dele ganhou uma expressão fechada.

“Isto é muito grande, sabes? Mesmo muito grande. Isto mexe com muita gente…”

“Eu sei. E mexe no bolso de gente muito poderosa.”

“Mas porquê? Já viste que a cura daria milhões a quem a descobrisse?”

“Sabes aquela anedota do advogado que deixa o filho a tomar conta do escritório enquanto tira umas férias?”

“Não…”

“Quando volta o filho chega-se ao pé dele e diz ‘Pai, vais ficar orgulhoso. Resolvi aquele processo que tu tinhas há mais de dez anos.’ E o pai, ao ouvir isto, desatou a chorar. ‘Mas o que foi pai?’ perguntou o filho. Ele volta-se e diz ‘Fizeste uma desgraça. É que há dez anos que esse processo é o nosso ganha-pão…’. O que é que dá mais dinheiro? Manter as pessoas a tomar anti-retrovirais durante anos ou curá-las?”

“Aquilo de que estás a falar é próximo do genocídio.”

“Eu sei.”

“E o que é que vais fazer?”

“É óbvio. Vou passar a mensagem.”

Ele assentiu.

“Que Deus te ajude…”

“Se Ele existir vai ajudar!”

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