sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Consequências (XXXIV de XLIII)



Estavam à porta da Igreja, Aguardavam que a marcha nupcial começasse a tocar quando Alex se voltou para a filha e comentou:

“O comportamento da tua mãe está um bocado estranho…”

“Isso é porque eu a avisei que hoje não queria dramas. Ela anda a evitar-te. Acho que se não a tivesse avisado ela tinha saltado para o teu colo esta manhã, quando partiu os pratos, mesmo com a Paola ao teu lado. Não calculas a crise de choro que houve na cozinha.”

Alex sorriu, percebendo perfeitamente. “Melhor assim…” pensou.

A marcha começou a tocar e foi com felicidade e orgulho que Alex escoltou Patrícia, entregando-a no altar. Esta irradiava beleza e felicidade, bem como o seu noivo que a aguardava. 

A cerimónia decorreu sem problemas. Os noivos cumprimentaram e agradeceram a todos os convidados, levaram o banho de arroz e seguiram para o local da recepção, onde tiraram as fotos com os convidados. 

A costumeira foto com os pais da noiva foi absolutamente normal, mas a com os pais de ambos colocou Marie ao lado de Alex pela primeira vez, e a tensão de Marie era palpável. Quando o fotógrafo pediu para todos darem as mãos, Alex sentiu Marie a tremer na sua mão. Quando o fotografo os libertou ela manteve a mão na de Alex por tanto tempo quanto pôde, largando-o em seguida e afastando-se rapidamente sem olhar para ele. 

Fora estes pequenos momentos, Alex aproveitava para passar todo o tempo com Paola, que reparava nos olhares furtivos de Marie.

Numa altura em que Alex se afastou, Paola aproveitou a oportunidade e, vendo mais uma vez Marie a observá-la, levantou-se e foi direita a ela.

“Marie, eu sou Paola.” Estendendo-lhe a mão.

Marie hesitou um pouco, mas estendeu a mão e cumprimentou-a.

“Muito gosto.”

Paola sorriu-lhe. Um sorriso aberto, quente e convidativo.

“Acho que temos qualquer coisa em comum…” Marie olhou para ela, como que interrogando-a “O Alex!”

Marie corou.

“Queria dizer-te que percebo o que querias fazer, porque o querias fazer, mas, se o Alex que conheço é igual ao que tu conheceste, custa-me entender que não previsses as consequências. E que espero que entendas o que causaste.”

Marie apenas assentiu, pálida, mas sem sentir que Paola a julgava. Antes, que a entendia.

“O Alex continua a construir muralhas à volta dele. E só tu é que as podes derrubar.”

Marie continuava a olhar para ela atónita. A expressão de Paola tornou-se dura, de repente.

“Mas também queria aproveitar para te avisar que se lhe partires o coração outra vez, eu apanho o primeiro voo do Dubai e arranco o teu do teu peito com as minhas mãos.”

Marie encolheu-se a estas palavras.

“Eu não estou com o Alex…” disse numa voz meio trémula.

A expressão de Paola suavizou-se e um sorriso enigmático bailou no seu sorriso e nos seus olhos. Levantou uma mão, fazendo uma festa no rosto de Marie e disse simplesmente na sua língua nativa:

“Ciao, cara.”

Voltou-se e caminhou em direcção a Alex que por esta altura as observava de perto da pista de dança, agarrando-lhe a mão e levando-o para a pista.

Ao fim de umas quantas danças e no fim de um slow, Paola disse:

“Esta na hora. Tenho de ir.”

“Tens a certeza que não queres que te leve ao aeroporto?”

“Não, precisas de estar aqui, para a tua filha. Além disso não gosto de despedidas embaraçosas…”

Abraçou-se a ele, elevou-se e beijou-o com, fervor, com paixão a que ele correspondeu. 

Marie sentiu um baque no peito, como se o seu coração se estilhaçasse e naquele momento percebeu tudo o que ainda não tinha percebido. Sentia-se completamente perdida, desamparada, como se o chão se estivesse a abrir debaixo de si.

Paola quebrou o beijo e virou-se caminhando para a saída sem olhar para trás. Apenas fez um pequeno aceno a Marie e saiu. Alex viu-a a partir com o coração pesado.


2 comentários:

  1. Ah, as voltas que a vida dá para corrigir os erros que os seres humanos cometem...!
    Felizmente, esta italiana é mulher honesta, sabe avaliar os sentimentos alheios.
    Se fosse uma mulher sem escrúpulos, bastava-lhe querer e a Marie ficaria definitivamente a sofrer sem o homem da sua vida. Posso estar errada, mas não creio, tal a atração que exerce sobre Alex.

    Um abraço, Gil.

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    1. Mas, se calhar, é porque o Alex reconhece quem ela é que lhe permite ter essa influência...

      Abraço, Janita

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