quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Consequências (XXVII de XLIII)



Paola entrou no quarto de Alex ao principio da tarde, como se tornara costume nos últimos dias, para o levar a piscina, para os exercícios de reabilitação.

“Boa tarde, Alex. Está na hora de irmos para a nossa sessão.”

Alex olhou para ela encavacado e não se mexeu.

“Se calhar é melhor esperarmos mais um bocado. Não me estou a sentir muito bem.”

Paola olhou para ele e estranhou.

“Não te estas a sentir bem, como?”

Alex corou, mas não adiantou grande coisa. Paola mediu-lhe a temperatura, que estava normal e foi-lhe fazendo perguntas, para tentar avaliar a má disposição dele, mas ele respondia negativamente quando ela lhe perguntava por sintomas ou nem respondia, ficando acabrunhado.

“Bem, não vejo realmente nada de errado contigo. Devíamos ir.”

“Mas era melhor esperarmos um bocado…” disse ele, corando novamente.

“Alex, deixa-te de tretas. Vamos lá.” E destapou-o, como fazia todos os dias, para lhe vestir os calções de banho. Só então se tornou evidente o motivo do embaraço de Alex, que ainda se tentou cobrir, mas sem grande sucesso.

“Ora então é este o problema?”

Alex apenas acenou afirmativamente, envergonhado.

“Já estás assim há muito tempo?”

“Um bom bocado.”

“Não precisas de ficar envergonhado. Eu sei que isto não é nenhum elogio à minha pessoa. Isto é comum em pessoas com lesões na espinha e chama-se priapismo. É involuntário. Não precisas de ficar envergonhado por causa disto.”

Alex lá cedeu e deixou-a vestir-lhe os calções de banho. Já depois de vestido, e de o ajudar a sentar-se na cadeira de rodas, ela olhou para ele com um sorriso sacana e disse “E também é verdade que de qualquer maneira não tens motivo nenhum para estar envergonhado.” Piscando-lhe o olho.

Ele olhou para ela e sorriu finalmente.

“Bem, se continuas com essas provocações, ainda sou capaz de ter de te convidar para jantar.” Disse ele sorrindo.

“Não pode ser. Sou tua fisioterapeuta e não posso confraternizar com pacientes. Além disso, não há grande privacidade no refeitório. Era esquisito.”

Riram os dois e seguiram para os exercícios.

A cumplicidade entre Paola e Alex foi crescendo diariamente, com as provocações entre ambos a, por vezes, levarem-nos às lagrimas de riso. E a verdade é que estas interações se tornaram um balsamo para os espirito de Alex. Estas interações não passaram despercebidas a Tiago e Patrícia quando vieram vê-lo umas semanas depois. Quando eles vieram ele já conseguia andar por curtos espaços de tempo com auxilio de uma bengala.

“Pai, o que é que se passa com a fisioterapeuta?” perguntou Tiago, notando o à vontade entre ambos.

“Nada filho. Já a convidei para jantar varias vezes, mas ela diz que não pode porque eu sou paciente e porque a cantina não é o sitio mais romântico…”

Riram-se os dois.

“Bem, seja lá o que for que se passa, gosto de te ver assim. É estranho que sempre que te vi bem, parecias ter uma nuvem negra por cima, e depois de teres sido ferido, quase teres morrido e ficado paraplégico, vejo-te mais bem-disposto do que me lembro em anos…”

Alex limitou-se a sorrir e piscou o olho ao filho.

A visita dos filhos não foi muito proveitosa, porque apenas se podiam ver durante algumas horas todos os dias. No entanto eles aproveitaram a estadia para conhecer algumas particularidades do Dubai, incluindo a pista de Ski coberta no meio do deserto e os arranha céus.

Duas semanas depois, um Alex quase recuperado totalmente e que já apenas usava a bengala como segurança arrumava as suas coisas para sair.

“Não te ias embora sem dizer nada, pois não?” perguntou Paola enquanto entrava no quarto.

“Claro que não. Estou só a acabar de arrumar as coisas.”

“Vais já para o aeroporto, para voltares ao trabalho?”

“Amanhã. Hoje ainda tenho uma noite por aqui, numa suite do St. Regis, por isso vou aproveitar.”

Paola assobiou.

“Uma suite no St. Regis? Muito bem, senhor Alexandre. Vai passar uma noite de luxo.”

“Espero bem que sim. Pelo preço espero que as camas sejam, pelo menos, decentes…”

Ela riu. Ele continuou já mais sério.

“Queria agradecer-te o que fizeste por mim e como me trataste. Vou ter saudades tuas.”

Ela olhou para ele de alto a baixo, de uma maneira muito pouco discreta e depois, com um brilho nos olhos e um sorriso sacana disse:

“Sabes, já não és meu paciente…”

Alex ficou a olhar para ela durante algum tempo, como se estivesse a afirmar a medo uma decisão que ele já sabia tomada.

“Bem, nesse caso, dar-me-ias a honra da tua companhia para um jantar?”

Ela olhou para ele, fazendo um ar sério e respondeu:

“Bem, isso depende… Se for aqui na cantina, não estou muito inclinada…”

“Não, eu estava a pensar em algo mais elevado, como uma roulotte de cachorros à beira da estrada, ou assim…”

Ela desatou a rir. Tirou um pequeno bloco e uma caneta do bolso da bata onde escreveu qualquer coisa e deu-lhe.

“Tens aí a minha morada e o telefone. Podes apanhar-me às sete e meia.”

“Está combinado”

Ela piscou-lhe o olho e virou-se para sair dizendo:

“Até logo, então.”


2 comentários:

  1. Sabia, por já ter ouvido falar, das ereções involuntárias, mas desconhecia o nome e também que as lesões na coluna poderiam ter esse efeito secundário. Na verdade, bastante embaraçoso, convenhamos.
    O nosso herói merece apaixonar-se de novo e voltar a sorrir à vida. Fico contente. :)
    Um abraço, Gil.

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