Alex foi reparando, ao longo das semanas seguintes que o comportamento de Marie parecia ir mudando gradualmente e começou a pensar se esta mudança de dinâmica, instigada por ela própria, não teria posto em risco a relação. Pediu a Paola para sair com Gabriela, um dia, e quando Marie saiu do duche num fim de tarde e entrou na cozinha, encontrou dois copos de vinho servidos e um Alex com um ar nervoso que lhe diz as palavras que ninguém quer ouvir:
“Querida, precisamos de falar.”
Ela tremeu ao ouvir estas palavras, ficando a olhar para Alex, sem saber o que ele quereria. Sentou-se, pegou no copo de vinho, deu um pequeno gole, e aguardou que Alex dissesse alguma coisa, mas ele não disse nada. Finalmente, nervosa perguntou:
“O que é, Alex?”
“Não sei. Estamos aqui porque eu também quero saber.”
“O que queres dizer?”
“Tenho reparado em ti. Conheço-te e vivo contigo há mais de metade das nossas vidas. O que é que se passa?”
“Alex,…” e vieram-lhe lágrimas aos olhos.
Alex olhava para ela sem saber o que pensar. Todos os cenários possíveis lhe passavam pela cabeça sem ele querer acreditar em nenhum. Ela finalmente recompôs-se:
“Alex, eu sei que prometi que íamos envelhecer juntos, mas eu não vou poder cumprir essa promessa.”
Alex estava estático, os seus pensamentos fugiam-lhe. Todo o seu foco estava no que ela iria dizer a seguir.
“Estou de partida, Alex.”
“Para onde?” perguntou ele incrédulo.
“Deste mundo.”
Alex sentiu-se a desfalecer. Agarrou no copo, que bebeu de um trago.
“Alex, senti uns caroços no peito há uns tempos e fui fazer umas analises… também não me andava a sentir muito bem. Infelizmente fui um daqueles casos em que chegamos tarde demais. Os médicos disseram que eu podia fazer tratamentos que podiam prolongar um pouco a vida, mas que só iria adiar o inevitável… escolhi não os fazer. Prolongar a vida em sofrimento e fazer-vos sofrer… prefiro ir quando tiver de ir. O tumor está metastizado e tenho só alguns meses de vida, na melhor das hipóteses.”
Alex tentou convencê-la a tentar alguma coisa, mas Marie foi irredutível na sua decisão.
Paola ficou inconsolável quando soube nessa noite, bem como toda a família e amigos.
Alex deixou o trabalho de imediato e passava todo o tempo com ela, bem como Lisa, Paola e o resto da família, sempre que estavam disponíveis. O pequeno Filipe quase se mudou também para a casa, que passou a estar permanentemente cheia de gente.
Nas semanas seguintes foi notório o decair do estado físico de Marie. Desta vez foi a filha que se mudou, nunca saindo do lado da mãe, com Tiago a aparecer e a passar os dias que podia também na casa.
Quando deixou de conseguir andar, ficou no quarto, sempre com uma enfermeira, Alex, Patrícia e Paola ao seu lado.
Até que caiu num coma profundo e sabendo que o fim estaria próximo, Alex chamou toda a família e os amigos mais chegados, Fernando e Lisa, ficando todos numa silenciosa vigília em volta da cama.
Marie respirou fundo de repente, ergueu-se num rompante, olha para Alex com um ar desesperado, e pede-lhe:
“Meu querido, querido amor, perdoa-me.”
“Já te perdoei há muito, meu amor. Vai em paz.” Respondeu Alex com lágrimas a escorrerem-lhe pela face, embora com um sorriso terno.
Ela olhou em volta e disse:
“Amo-vos a todos.”
E deitou-se com um sorriso, como se tivesse finalmente encontrado paz, expirando pela última vez.
Alex andou algum tempo perdido. Parecia ter perdido as forças para lutar fosse pelo que fosse.
Paola observava-o com preocupação e, não se tendo ele aproximado dela desde que Marie deu a conhecer a sua doença, simplesmente estava ao lado dele, cuidando, percebendo a sua dor, que também ela partilhava.
Mas foi um dia, em que estava perdido em pensamentos enquanto a pequena Gabriela brincava à sua frente, que a sentiu a vir para o pé de si, dar-lhe um abraço e dizer:
“A mãe Marie disse-me para quando eu te visse triste te dar um abracinho e te dizer que ela nos está a ver do céu.”
Alex abraçou a filha de volta e desatou a chorar. Reparou em Paola que os observava e puxou-a também para aquele abraço. No fim, Marie tinha-lhe dado tudo, até a continuação da sua vida. Olhou para Paola e disse:
“Desculpa se tenho andado ausente. Sinto tanto a falta dela…”
“Eu também, meu amor.” Respondeu Paola.
E Alex, olhou para ela surpreendido. Depois disse-lhe simplesmente.
“Também te amo.”
Por fim respirou fundo. Tinha de continuar a viver.
FIM
Um Santo Natal a todos
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